Super Mario Bros. Wonder – Análise – Cardápio de ideias e mecânicas

Super Mario Bros. Wonder contém a forma dos clássicos mas acaba a bombear ideias e surpresas conjugadas com diferentes mecânicas, projectando o segmento 2D da série.

Há um nível de scroll horizontal, em Super Mario Bros. Wonder, que a dada altura revela uma flor fenomenal, apresentada através de um efeito ondulatório à sua volta. Nesse instante, quando o protagonista a activa após mais um salto, o nível transita para uma composição vertical. Inimigos nas laterais das plataformas lançam bolas de sabão que projectam o herói do Mushroom Kingdom numa trajectória ascendente e o deixam amealhar moedas púrpura, enquanto que a música adquire uma diferente composição e ritmo. Soa a melodia clássica mas o arranjo é outro. No topo do nível repousa uma semente fenomenal à espera de ser recolhida. Uma espécie de fogo de artifício coroa a recolha.

Noutro nível, também em formato side scroll horizontal, é possível puxar pelas alavancas de uns inimigos presos ao tecto. A dada altura, quando um deles é rebentado, surge a flor maravilha, de forma inesperada, que dá acesso a um breve segmento quizz, sobre o universo do Mushroom Kingdom, no qual uma das perguntas consiste em saber quem é o filho de Bowser, sendo dadas três hipóteses. Puxando pela alavanca da resposta certa o jogo prossegue para a pergunta seguinte. O sucesso deste surpreendente quizz garante mais uma semente maravilha.

Image credit: Nintendo

Isto não acontece em todos os níveis, até porque muitas destas surpresas e ideias apenas ocasionalmente se repetem, de uma forma gradual e a testar a capacidade do jogador. Embora muitas secções estejam agregadas de forma temática, como acontece no deserto, nas nuvens e nas secções vulcânicas, o nome e o desafio encontrado é praticamente único e irrepetível. Embora permaneçam os castelos ocupados pelos filhos do Bowser e uma certa lógica de progressão através do mapa mundo, altamente derivada dos clássicos, há sempre uma surpresa à espera de ser encontrada, como um desafio que gravita numa zona mais acessível ou escondida.

A surpresa escondida em cada nível

O interior de Super Mario Bros. Wonder é assim muito diferente dos jogos 2D que popularizaram Super Mario durante os anos oitenta e noventa. Seguiu-se a série New Super Mario Bros., que no essencial desenvolveu as plataformas e as bases dos clássicos, enquanto que no segmento 3D da série, Super Mario Galaxy e mais recentemente Super Mario Odyssey continuaram a fabricar novas ideias na composição dos níveis em mundos abertos. A diferença em Super Mario Bros. Wonder reside na injecção de novas ideias e construções de níveis no formato 2.5D. O recurso a transformações do ambiente, diferentes inimigos e mecânicas de suporte dos protagonistas, garantem uma frescura constante, ainda que no essencial, na base e operação do jogo, esteja o saltitar e a necessidade de deslocar de um ponto ao outro, em scroll horizontal e vertical.

Em parelelo, permanece activa a dimensão multiplayer, com um ajuste até 4 jogadores em simultâneo, a partir de uma mão cheia de personagens seleccionáveis e com as suas pequenas particularidades. Yoshi, por exemplo, converte-se num comedor de inimigos, capaz de os expelir como se fossem projécteis, o que pode ser útil. O coelharápio está de regresso e pode igualmente ser bastante útil. A boa novidade no âmbito da opção de jogo para até 4 jogadores repousa na opção online, que garante os fantasmas controlados por outros jogadores, quando passam pelo mesmo nível.

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Esta partilha de experiência é muito diferente do caos emergente dos jogos anteriores, quando muitos jogadores anulavam as acções dos companheiros. Desta feita, em caso de perda de uma vida é possível sobrevoar o nível à procura do fantasma de outro jogador, bastando um toque para recuperar a vida. Na melhor hipótese até é possível descobrir segredos e trabalhar cooperativamente no nível, à descoberta de segredos, na tentativa de completar cada nível com tudo o que há para descobrir. Outra hipótese consiste em tocar em pequenas figuras deixadas online por outros jogadores, o que aumenta os coleccionáveis e garante a recuperação da vida. A opção online claramente reforçou a dimensão multiplayer, uma experiência que se torna sempre partilhada, por via local ou em rede.

Habilidades reforçadas com as insígnias de poder e as flores maravilha

Capa de jogo, a forma elefante de Super Mario (as outras personagens adquirem as mesmas formas) junta-se à bola de fogo, à invencibilidade, ao grande e pequeno Mario. Apesar da dimensão extraordinária, as proezas e acrobacias mantêm-se. O que acontece é que esta forma permite-lhe usar a tromba para derramar água sobre os inimigos ou então quebrar alguns blocos, bem como o peso adicional numa queda pode causar mais mossa. Outras formas novidade são as bolhas de sabão e o Super Mario perfurador, capaz de escavar superfícies e quebrar objectos. Estas formas geram mais habilidades e permitem enfrentar os desafios mediante diferentes ângulos. Algumas formas são exclusivas da resolução de alguns puzzles, podendo falhá-los se não conseguirem tocar na bolha. No modo multiplayer esses “power ups” podem ser facultados aos restantes comparsas de aventura, caso se afigure útil.

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Já as insígnias de poder funcionam como melhoramentos de alguma característica. Estas insígnias são recolhidas de forma progressiva. Apresentadas em níveis criados exclusivamente para uma melhor compreensão do seu funcionamento, podem depois ser recolhidas e utilizadas noutro nível. Desde o salto mais comprido, à queda em pára-quedas, passando pelo efeito mola, entre outros, num total de mais de vinte a obter, as virtudes e os desafios destes “power ups” adicionais são enormes. Algumas insígnias podem ser adquiridas numa loja dos Poplin. Porém, o desafio e domínio de algumas insígnias está ao alcance de jogadores mais experimentados, enquanto que outras oferecem maior acessibilidade e permitem a jogadores casuais fugir com sucesso de algumas armadilhas bem montadas. Na dúvida sobre qual insígnia escolher nalgum nível, a melhor opção é mesmo perguntar ao príncipe Florian.

Cosméticas mas igualmente dotadas do modelo “Wonder”, que transforma o nível em algo alucinante assim que é descoberta uma flor maravilha, são as formas que a personagem pode conseguir num desses níveis. Funcionam como um ajuste ao meio envolvente, desde a quebra de blocos gigantes, até à subida nos céus através da forma balão. Estas formas são apenas temporárias e funcionam apenas naquelas secçoes, mas também elas representam essa componente mais surpreendente, ao provocar mudanças súbitas e drásticas, ao mesmo tempo sujeitas a desafios específicos.

Sem uma grande história, é nos detalhes que Wonder marca a diferença

É verdade que os jogos da série Super Mario não são fortes pelo seu teor narrativo. Na verdade, Super Mario Bros. Wonder funciona muito mais por ideias e níveis autónomos, concentrados em certas mecânicas e desafios, do que pelo desenvolvimento narrativo. A história tem lugar no reino flor, adjacente ao Mushroom Kingdom e para o qual Super Mario e companhia foram convidados para uma visita. Mais uma vez, o mauzão Bowser assume o papel de mau da fita, que juntamente com os seus lacaios toma posse da flor fenomenal e flutua no castelo do príncipe Florian, espalhando o caos e múltiplos inimigos pelo território. Cabe a Super Mario e companhia passar pelos seis mundos, derrubar as frotas inimigas e recolher as sementes reais, restaurando o reino flor.

Image credit: Nintendo

Ir directamente ao fim do jogo, não é uma tarefa particularmente exigente se o objectivo for o mínimo, de chegar apenas ao final. Mas há tanto para descobrir, em áreas secretas (desde logo um mundo secreto de dificuldade elevada) e para apanhar em cada nível (desde moedas púrpura, sementes, chegar ao fim no topo da bandeira e flores fenomenais) que facilmente se perde a conta ao tempo investido no jogo se o objectivo consistir em recolher tudo a 100%. Até porque essa é a forma de passar pelos desafios mais intricados e complexos, que indicam mais destreza e dificuldade. Passei por um nível chamado “Salta, salta, SALTA”, uma espécie de jogo de ritmo musical e salto verdadeiramente atroz. No fundo é um jogo que pode ser simples e divertido mas ao mesmo tempo desafiante e até diabólico quando testa realmente a capacidade dos jogadores mais experimentados.

Um elemento novo quase sempre presente é a flor falante. Uma personagem empática graças aos seus comentários de apoio e incentivo, dando por vezes dicas de algum percurso secreto ou tarefa a realizar. Ao mesmo tempo funciona como uma interacção do ambiente. As animações das personagens e inimigos também receberam melhorias, como a entrada nos canos do Super Mario elefante, um pouco mais apertada e lenta, ou então o boné que fica para trás quando entra e as pernas a saírem primeiro de um tubo.

Em termos visuais Super Mario Bros Wonder exala colorido pelos poros e ao mesmo tempo um cuidado na física e numa irrepreensível cadência de fotogramas que demonstra bem que a Nintendo é exímia a proporcionar um jogo de plataformas 2.5D praticamente isento de bugs, falhas e outros erros dignos de menção. Por outro lado, não obstante todo o tratamento e cuidado dos visuais, com alguns fundos belíssimos e mais detalhe nas personagens e construções cénicas, não conseguimos deixar de imaginar como será um Super Mario capaz de uma produção ainda maior, a correr num hardware dotado de melhores capacidades técnicas. A Switch é explorada até aos seus limites. A banda sonora é acompanhada por novas músicas e melodias, e quanto a línguas destaque para a presença do português de Portugal, uma opção que muitos gostarão de jogar.

Muito poderia ser escrito sobre as particularidades desta insígnia ou de qualquer ideia afecta a um nível, mas nada como experimentar e descobrir como Super Mario Bros. Wonder, partindo do modelo mais antigo da série, é ao mesmo tempo um manancial de ideias, mecânicas e desafios em constante rotação. É simples e acessível mas ao mesmo tempo desafiante e repleto de áreas secretas, coleccionáveis difíceis de obter e desafios árduos que até mesmo os mais versados na série podem sentir como o jogo morde. E em tudo isto há divertimento e a sensação algo alucinada de mais um nível engenhoso. É um jogo que floresce acima de tudo em ideias e mecânicas, provando que o segmento 2D da série Super Mario é capaz de ombrear com as referências 3D da série.

Prós: Contras:
  • Variedade de mecânicas e ideias
  • Transformação de níveis através das flores fenomenais
  • Multiplayer online
  • Detalhes fazem a diferença
  • Variedade de inimigos
  • Longevidade a completar tudo
  • Vozes em português de Portugal
  • Tratamento visual sem erros ou bugs
  • Banda sonora
  • Narrativa superficial
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