Robocop: Rogue City – parte máquina, parte humana

RoboCop: Rogue City parece inspirar-se largamente no material original, mas o seu gameplay poderá não ser cativante o suficiente para angariar novos fãs. Em poucos momentos posso realmente afirmar que me diverti.

RoboCop, uma das personagens mais míticas no mundo da ficção científica e cinema de ação, chegou finalmente ao PC e consolas da nova geração através de RoboCop: Rogue City – um FPS baseado em narrativa que coloca o jogador no papel do famoso robô. Se tiveres nascido após os anos 2000, é possível que não estejas familiarizado com a história e personagens de RoboCop, já que a franquia caiu ligeiramente no esquecimento desde então (mesmo com um reboot lançado em 2014); no entanto, o caso mudará de figura para aqueles que nasceram em décadas passadas e puderam assistir em primeira mão às aventuras deste robô polícia.

O ícone dos anos 80 chega ao PC e consolas da nova geração

No meu caso específico, insiro-me algures a meio de ambas as categorias: tenho a imagem do RoboCop perfeitamente embutida no meu cérebro, incluindo o seu design particular, mas não me lembro de alguma vez ter visto um dos seus filmes. Quiçá, algum familiar mostrou-mo num passado longínquo e, entretanto, varreu-se-me do cérebro. Assim sendo, entrei em RoboCop: Rogue City com uma perspetiva inteiramente fresca, sem a cortina da nostalgia.

Infelizmente, não posso dizer que gostei do jogo. Aliás, em raras ocasiões posso afirmar categoricamente que me diverti a jogá-lo, mas explicarei isso em maior detalhe ao longo da análise.

Assim sendo, RoboCop: Rogue City divide-se essencialmente em dois segmentos distintos: por um lado, temos aqueles momentos de maior ação que te obrigam a matar múltiplos capangas, membros de gangues, robôs, entre uma série de outros inimigos que estão prontos a causar o caos em Detroit. Por outro lado, temos fatias de gameplay mais calmas que envolvem largamente percorrer a estação da polícia e interagir com as diversas personagens que lá se encontram, que regularmente incumbem o jogador de realizar missões secundárias.

De facto, esta mistura entre momentos mais bombásticos e mais tranquilos ajuda a equilibrar imensamente o jogo, mantendo o fator repetitivo à distância. Se fosse sempre o mesmo tom, quer num extremo, quer noutro, seria com toda a certeza muito aborrecido e RoboCop: Rogue City oferece um pouco de tudo.

Image credit: Teyon

Gameplay largamente aborrecido

No entanto, controlar o robô protagonista não é uma experiência agradável; eu percebo perfeitamente que o estúdio Teyon estava a tentar ser o mais fiel possível ao material original, mas RoboCop é lento, não se desvia, não salta, não se defende e foca-se somente em disparar. Nas fases contra bosses (sim, existem alguns no jogo) ou quando tens múltiplos inimigos no ecrã, isto é particularmente irritante já que parece que estás a controlar um carro com os travões sempre acionados.

Ao longo do tempo, vais amealhando XP que posteriormente permite desbloquear múltiplas habilidades que simplificam a tua aventura: estas focam-se no combate, engenharia, dedução, vitalidade, psicologia, entre uma série de outros parâmetros que influenciarão o gameplay. Ainda assim, foram raros os momentos de combate em Rogue City onde consegui divertir-me, e a IA estúpida dos inimigos em nada ajudou. Numa nota positiva, o jogo vai desafiando as tuas habilidades introduzindo novos inimigos, desde snipers, passando por motards ou outros melhor apetrechados.

Mas existem bonitos momentos neste mundo caótico

Os momentos de exploração, quer na cidade de Detroit, como na esquadra ou até mesmo num hospital em determinadas secções do jogo, foram muito mais interessantes. Muitos deles envolvem missões secundárias ultra simples, que completas em míseros minutos, mas a transbordar de carisma. Desde pedir a diversos polícias para assinar um postal para a colega baleada de RoboCop, abrir o cacifo bloqueado de um colega ou ouvir as queixas dos habitantes, estes foram para mim os pontos altos do jogo. Numa missão particularmente enternecedora, ajudas um “amigo” teu a tentar encontrar um filme num clube de vídeo cujo nome ele esquecera: sim, pode parecer mundano, mas ao mesmo tempo ajudou-me a relacionar-me com estas personagens e este mundo.

E falando em mundo, o jogo decorre na cidade decadente de Detroit, assolada pelo crime e por uma droga chamada Nuke. Simultaneamente, o jogo foca-se também em RoboCop – nome real, Alex Murphy – e em todos os problemas sociais que advêm de um glitch que ele sofreu durante uma missão importante, logo no início do jogo. Rogue City coloca então algumas questões interessantes sobre o uso de IA: estaremos seguros com o uso de IA nas nossas forças policiais? O que é ser humano? Será que um robô pode ter memórias? Nunca pensei que a narrativa do jogo enveredasse tão seriamente por estes caminhos.

Image credit: Teyon

Gráficos PS3

Em termos gráficos… bem, digamos que se o estúdio estava a tentar atingir um look e sensação retro, foram bem-sucedidos. Mas no âmbito visual, o jogo fica muito aquém dos padrões que temos visto recentemente e, em múltiplas ocasiões, parecia estar perante um jogo do fim de vida da PS3/ início de vida da PS4. Joguei o jogo na PS5, e sei do que a consola é capaz, mas em momento algum fui assoberbado pelos gráficos. Aliás, o jogo possui um problema irritante em que sempre que há um corte da câmara numa cutscene, é possível ver “restos” da cena anterior: dura apenas uma fração de segunda, mas não deixa de ser percetível devido à vasta quantidade de vezes que acontece. Para além disso, o jogo crashou várias vezes, obrigando a enviar relatório, e em diversas ocasiões tive de recomeçar o jogo do último checkpoint devido a bugs como inimigos fora do cenário.

É possível que muitas “falhas” por mim apontadas tenham sido feitas deliberadamente pelo estúdio de maneira a manterem-se fiel ao conteúdo original. Por isso, acredito que muitas referências ou easter eggs possam ter-me passado ao lado; só após pesquisar é que descobri, por exemplo, que o ator original de RoboCop – Peter Weller – regressou para dar-lhe a voz no jogo, ou que os modelos faciais são inspirados nos atores dos filmes. Isto mostra paixão e dedicação por parte do estúdio, algo que jamais poderia deixar de mencionar.

Um jogo para fãs de longa data

Em conclusão, RoboCop: Rogue City é essencialmente um jogo para os fãs: se não estás por dentro do “lore”, não me parece que a jogabilidade seja o suficiente para te conquistar quando existem muitos outros jogos com maior qualidade no mercado.

Prós: Contras:
  • Paixão pelo material original
  • Missões secundárias interessantes
  • História com momentos filosóficos
  • Gameplay geralmente aborrecido
  • Controlar RoboCop é exasperante
  • Gráficos reminiscentes da era PS3
  • Alguns bugs graves
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