Persona 5 Tactica – Mais uma dimensão de fantasmas

Uma experiência de estratégia por turnos extremamente acessível, sem a profundidade dos melhores SRPGs e demasiado fácil para veteranos do género.

Persona 5 Tactica chega 7 anos após o lançamento de Persona 5 para a PS3 e PS4, para mostrar o quão forte foi o seu impacto global para a Atlus. Com a sua fenomenal estética, design, gameplay, história e personagens, não é de admirar que Persona 5 tenha ajudado imenso a Atlus a conseguir um grande sucesso que desde então explora sem qualquer piedade.

Já tiveste uma animação, jogo de dança dois anos depois, versão expandida três anos depois, RPG de ação com toque de Musou quatro anos depois, e agora um RPG de estratégia por turnos que continua a expandir o leque de experiências Persona 5. São 5 jogos Persona 5 em 7 anos e todos eles com algo de valor ou diferente para os maiores fãs dessa majestosa obra da Atlus, mas talvez seja melhor parar, antes que chegue Persona 5 Kart Racing ou algo assim.

Eu adorei Persona 5, é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos, gostei de Dancing, Royal e Strikers (provavelmente o projeto derivado do original que mais gostei), e por isso mesmo queria adorar Tactica. Pensar num Persona 5 ao estilo de Final Fantasy Tactics era altamente empolgante, mas na verdade não consegui ficar perdido de amores por Persona 5 Tactica, pelo contrário, perto do fim só queria que acabasse.

Tactica mostra o grupo de protagonistas de Persona 5 transportados para uma dimensão desconhecida, onde encontram Erina (uma nova personagem) que decidem ajudar ao entrar para a Rebel Corps, uma força revolucionária que pretende derrubar a ditadura que ameaça o local. Ao longo das cerca de 20 horas necessárias para terminar a campanha, descobrirás mais uma trama de contornos políticos, com mensagens sobre a pressão social sobre os jovens e outros debates pertinentes que foram explorados pela Atlus nos jogos anteriores.

Não é uma narrativa especialmente interessante e serve apenas para estarmos mais tempo com os Phantom Thieves. Na verdade, esta frase resume toda a experiência Persona 5 Tactica. Em termos gráficos, Persona 5 Tactica não é propariamente um jogo capaz de causar um impacto particularmente positivo. A colorida estética chibi é engraçada e ajuda o jogador a sentir-se relaxado para enfrentar um género que poderá não conhecer, mas não terás um grande nível de detalhe nos cenários por onde as personagens se movimentam. A Atlus apostou na simplicidade estética para preservar o estilo anime de Persona, mas ainda assim fica a sensação que os cenários são demasiado vazios.

Isso quase que se pode dizer da experiência em si, Persona 5 Tactica é um SRPG no qual claramente evitaram aprofundar a sério o género. As mecânicas gameplay recriam muito do que viste no jogo original para grande estilo e dinamismo, mas não esperes ter aqui um jogo que vai exigir muito de ti para gerir personagens ou desafios. O mesmo se aplica aos elementos de gestão, muito superficiais.

Os combates por turnos mostram de forma superficial o que há de genial no género SRPG, com a constante medição de risco vs recompensa. Quando movimentas a personagem e escolhes se queres usar um ataque físico, disparar a arma de fogo ou usar uma habilidade Persona, tens de procurar tirar proveito das oportunidades, isto significa explorar os inimigos ao teu alcance por ataques que vão ativar um segundo ou terceiro ataque consecutivo. Terás de ter cuidado com a posição dos 3 Phantom Thieves que podes usar em cada nível, para atacar a partir de um ponto de cobertura, se possível, para não ficarem suscetíveis a ataques.

A IA adora aplicar ataques críticos que lhes permitem atacar novamente, os Bosses então repetem isso constantemente, por isso é obrigatório ter cuidado. Flanquear alvos é recomendado, especialmente para ativar uma habilidade especial em triângulo que pode derrotar vários inimigos ao mesmo tempo. Apesar destas mecânicas, Persona 5 Tactica rapidamente se revela uma abordagem muito simples ao género. Isto também é percetível fora dos combates e é aqui que Tactica se poderá revelar até aborrecido pela sua extrema simplicidade.

Curiosamente, onde Persona 5 Tactica devia revelar simplesmente e não o faz é na gestão dos sistemas, na interface e na quantidade de menus que precisas navegar. O Café LeBlanc é a base dos Phantom Thieves e lá podes assistir a conversas entre as personagens, entrar em missões opcionais para ganhar pontos para desbloquear mais habilidades, repetir missões de história e gerir Personas (na Velvet Room também podes desbloquear as melhores armas). No entanto, a interface merecia melhor design.

Talvez para preservar a sensação de estilo, Tactica tem menus a mais, força-te a entrar em demasiadas páginas para gerir as personagens e chega a incomodar um pouco após algumas horas. Por exemplo, desbloquear habilidades e comprar armas é numa página, mas gerir Personas e entrar nas missões extra é noutra. Comprar armas é na loja, mas vendê-las é na Velvet Room e poderás dar por ti a navegar por demasiados menus para tarefas simples.

Falando da Velvet Room, vais passar lá muito tempo, especialmente após desbloquear a capacidade de criar armas com atributos especiais, melhores do que as que estão na loja. Ganhas Personas nas missões e podes criar fusões que resultam em novas Personas. Quanto maior o nível dos Phantom Thieves, maior o nível das Personas que podes criar e quando chegas a determinado nível de um elemento, melhor a arma que podes criar.

É uma forma eficaz e bem empregue de unir padrões Persona com o género, mas rapidamente dás por ti perante um ciclo monótono e sem o particular interesse de algumas das melhores mecânicas de gestão existentes em jogos ocidentais ou orientais no género. Criar Personas mais poderosas para equipar nas personagens ou criar armas mais poderosas é basicamente o único elemento de gestão no jogo.

Persona 5 Tactica é um SRPG super acessível e sem a profundidade que esperarias de um jogo deste género. Está claramente pensado como um título SRPG para fãs de Persona 5 que provavelmente nem sequer jogaram um jogo de estratégia por turnos. Poderá ser interessante para os curiosos adeptos de Persona, mas a maioria provavelmente investiria melhor o seu tempo a jogar Mario + Rabbids, Fire Emblem, Final Fantasy Tactics, Mutant Year Zero, Triangle Strategy, Tactics Ogre, Disgaea ou qualquer outro nome que faça maior justiça ao género.

Prós: Contras:
  • Estratégia por turnos muito acessível
  • Estética chibi é engraçada
  • Alguns desafios gameplay muito interessantes
  • Demasiado acessível para os quem está habituado ao género
  • Ausência de profundidade nas mecânicas de gameplay e gestão
  • O gameplay pode tornar-se banal rapidamente
  • Demasiados menus para tarefas como gerir Personas, comprar ou vender armas e desbloquear habilidades
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