Danganronpa: Decadence review – Gloriosa Decadência

Apesar da euforia ter começado em 2010 para os japoneses, o Ocidente apenas despertou para a genialidade de Danganronpa em 2014. Desde então, a série da Spike Chunsoft desfruta de um estatuto singular entre os adeptos das experiências japonesas. Os títulos da Spike Chunsoft assinados por Kazutaka Kodaka tornaram-se míticos entre os apreciadores da cultura japonesa e, apesar do seu estatuto de culto inicial, a boa receção por parte da crítica ocidental e os fãs conquistados pela sua qualidade trouxeram-lhes maior visibilidade. No entanto, permanece uma série de nicho e apelo específico, mas podem-se considerar abençoados os que usufruem de paladar capaz de saborear estes jogos.

No já distante mês de dezembro de 2021, a Spike Chunsoft deu mais um passo para expandir o alcance da sua série e somar mais fãs aquela que é provavelmente a sua mais conhecida obra, através de uma coleção para a Nintendo Switch que inclui os três jogos e ainda o novo Danganronpa S: Ultimate Summer Camp, um título totalmente diferente e inesperado, até mesmo para esta série. Desde 2010, com a versão original para a PSP, a Spike Chunsoft tem-se esforçado para colocar Danganronpa em diversas plataformas, desde a PS Vita à PS4, PC e Nintendo Switch, sem esquecer a Xbox em janeiro de 2021. No entanto, somente os jogadores na Nintendo Switch podem desfrutar das melhores versões e deste quarto jogo, o que torna este pacote verdadeiramente especial.

Decadence inclui Danganronpa: Trigger Happy Havoc Anniversary Edition, Danganronpa 2: Goodbye Despair Anniversary Edition e Danganronpa V3: Killing Harmony Anniversary Edition, as versões otimizadas dos três jogos originais, juntamente com o já referido Ultimate Summer Camp. Uma vez que temos as 3 edições de aniversário e ainda um quarto jogo, Decadence é uma coleção verdadeiramente especial pois permite ao cliente Nintendo Switch desfrutar de toda a série sem qualquer problema ou barreira e mesmo que queira desfrutar de apenas um só jogo, poderá fazê-lo ciente que os outros estão à sua espera caso o queira. Tendo em conta Danganronpa, quanto mais melhor.

Danganronpa é verdadeiramente fascinante. Mesmo para alguém que habitualmente não investe tempo em novelas visuais, fiquei facilmente fascinado com esta experiência. Confesso que passei ao lado da série até agora, mas quando soube que a trilogia estava a caminho da Nintendo Switch não podia deixá-la escapar. Em formato portátil e com as melhorias existentes, fiquei completamente vidrado nestes jogos e após o primeiro contacto com Kazutaka Kodaka através de World’s End Club da sua Too Kyo Games, foi impossível não ficar rendido à metodologia de Danganronpa.

Despida ao seu elemento mais básico, Danganronpa pode ser descrita como uma trilogia de novelas visuais, mas a mente de Kodaka eleva-a para novos patamares através das personagens, enredo, gameplay e constantes alfinetadas que parecem quebrar a quarta dimensão ao traçar paralelos com a realidade. Uma fantasia assente na realidade com temáticas contrastantes manipuladas de forma genial para te estontear com constantes reviravoltas. É o melhor que podes pedir de uma experiência deste género.

Danganronpa foca-se numa espécie de battle royale onde um grupo de estudantes é convidado para uma academia, mas dá por si envolvido num jogo de morte e a única forma de escapar é assassinar outro estudante sem ser apanhado. O gameplay divide-se em 3 partes, a mais comum a uma novela visual em que passeias pela escola e falas com outros estudantes, outra em que tens de reunir provas para descobrir quem é o culpado quando alguém é assassinado, e uma terceira totalmente inesperada em que todos os estudantes entram em confronto numa espécie de tribunal e tens de encontrar o culpado com provas irrefutáveis.

Este gameplay diversificado e a forma como os enredos são conduzidos são dignas de imensos elogios. Sim, alguns arcos ao longo dos 3 jogos podem não envergar a mesma qualidade de outros, mas no seu melhor, Danganronpa é fascinante. Kodaka brinca constantemente com os sentimentos dos personagens, manipula a esperança para que se torne em desespero, traça constantes paralelos com a vida real e humaniza de forma interessante estes estudantes. Mesmo com sátiras à mistura, clichés e exageros tão caracteristicamente japoneses à mistura, é o equilíbrio entre um lado humano e o excêntrico (basta pensar que existe um urso sádico chamado Monokuma que serve como o avatar do responsável por este violento jogo) que conquista.

A mistura entre jogo de aventura e exploração, novela visual e o gameplay de investigação, com o clímax na sala do tribunal, fazem de Danganronpa uma série de jogos triunfantes, que cumprem em pleno o seu propósito. Chocam o jogador com constante mérito e o drama que assistes chega a ser hipnotizante. Além disso, as situações podem ser extremamente violentas e com grande impacto psicológico, quando descobres finalmente tudo o que realmente se passou. Com cada prova que apresentas vais descobrindo tudo e se falhares na tua dedução poderás perder e ser forçado a reiniciar. Existem momentos de grande stress.

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