Spintires Mudrunner: American Wilds – Análise – América selvagem

Se os simuladores de camionagem nunca atingiram um estatuto de grande popularidade, e nem mesmo 18 Wheeler: American Pro Trucker fez a diferença na sua composição arcade, não é de esperar que a expansão American Wilds, do bem sucedido Spintires Mudrunner, possa mudar essa percepção, embora seja expectável que se torne num sucesso junto das comunidades ligadas a este género. O que também queremos com esta análise é dar a conhecer uma franquia de grande qualidade no âmbito “off-road”, um jogo não só bem conseguido e apurado na física, como simultaneamente desafiante.

Antes de começar a jogar a expansão American Wilds, desconhecia a franquia, nem sabia qual a produtora, pelo que saltei para o banco do condutor um pouco quem conduz à noite, sem premir demasiado o acelerador. Após uma breve pesquisa descobri uma produção com origem nos Estados Unidos, do mesmo estúdio que nos trouxe a remasterização da colecção Halo para a Xbox 360, ou Inversion e NBA PlayGrounds. Trata-se do Saber Interactive, estúdio sedeado em Nova Jersey, com escritórios em Kiev, São Petersburgo e Madrid, devidamente internacionalizado portanto.

Spintires Mudrunner, lançado em 2017, já vendeu milhões, especialmente no PC, plataforma na qual se encontram os seus maiores adeptos. Do PC transitou para as consolas (PlayStation 4, Xbox One e Switch), alcançando uma performance bastante consistente. Praticamente um ano depois, o estúdio alarga o conceito do original, acrescentando mais veículos, novos territórios inspirados em Montana e Dakota do Norte, bem como novos desafios.

1Pode ser jogado em modo cooperativo, com desafios para vários jogadores, o que reforça o realismo do jogo.

A primeira coisa a ter em conta ao jogar Spintires Mudrunner é que estamos perante um jogo que vai ao encontro da da condução por que passam os motoristas de camiões em terrenos montanhosos e acidentados. Não se trata por isso de uma competição livre, uma prova desportiva ou simplesmente baseada fins recreativos. O objectivo presente desde o primeiro momento é a condução de pesados camiões carregados de toros de árvores. Transportá-los desde o local do corte até à serração. Pelo meio há que evitar os terrenos lamacentos, os declives na estrada, transportando a mercadoria em segurança até ao ponto assinalado no mapa. Não é tão fácil como parece.

Sem qualquer história ou narrativa, o objectivo é mesmo esse. Através de uma série de capítulos o jogador terá que cumprir determinados desafios, recebendo uma pontuação de acordo com os elementos cumpridos. Por exemplo, conduzir na primeira pessoa, com todo o risco de visibilidade para a mercadoria depositada na carroçaria, não só é mais realista como acresce em termos de bonificação.

O “tutorial” apresentado na fase inicial é decisivo para conhecerem o funcionamento do jogo. Desde a deslocação de uma bomba de gasolina até ao local de abate das árvores por intermédio de uma “pick up” 4×4, passando pela condução dos veículos longos e entrega dos compridos toros numa serração assinalada no mapa, o que há de essencial para saber sobre o funcionamento do jogo é revelado nesta parte. A partir daí, o compasso e um mapa (com áreas por descobrir pintadas de negro) são as nossas ferramentas.

2Há uma grande variedade de veículos à disposição, mas para os terem terão que explorar bem o mapa.

Surpreendente é a física desenvolvida para cada um dos veículos, o que torna a condução contagiante. Conduzir uma pick up é diferente de andar num veículo longo, ou até mesmo de uma máquina com guindaste, com a qual deslocamos os troncos para um atrelado. A condução dos veículos vai ao pormenor: desde a ligação da ignição – o escape liberta um fumo preto – até à engrenagem manual de mudanças, tudo está concebido ao mais pequeno detalhe. Se conduzir na estrada asfaltada equivale a ter mais segurança, assim que chegamos aos terrenos enlameados, rochosos e pantanosos, o avanço não só é mais lento como nos obriga a movimentar com precaução. É nesta fase que temos que recorrer a uma série de opções à nossa disposição. Desde a activação do sistema 4×4 (tracção total), até à opção que funciona como um reboque automático que permite puxar o veículo caso fique bloqueado. A câmara exterior pode ser manobrada até 360 graus, permitindo vários ângulos para se perceber se naquele ponto o carro ou camião podem passar.

Acontece com frequência, fruto dos poucos trilhos e muitas vezes avanços traiçoeiros, entrarmos em derrapagem, ficarmos atolados nas margens de um riacho ou bloqueados num pinhal denso. Nesse momento temos algumas soluções às quais podemos recorrer, como passar para um outro veículo, situado noutra zona do mapa e partir em auxílio do carro bloqueado num efeito pronto-socorro. À medida que progredimos no jogo, mais veículos ficam disponíveis, abrindo o alcance e as opções à disposição, o que permite eleger carros mais adequados para as missões mais complexas. Há veículos que estão aparcados em pontos por descobrir no mapa, pelo que é conveniente a exploração. Estacionando ao lado de um veículo encontrado, podemos passar para o outro veículo e a partir dessa missão teremos sempre acesso aos carros desbloqueados.

A física é talvez um dos melhores aspectos de Spintires Mudrunner. Quase conseguimos perceber a ondulação do terreno só de conduzir o carro. A suspensão encolhe e alarga consoante os declives existentes no piso. As animações visuais são fantásticas, ainda que não seja um jogo de ponta em termos visuais. No entanto, captura muito bem aquela atmosfera americana dos cortadores de floresta. Dentro do veículo está o condutor, quase sempre aos sacões quando o carro entra em ressaltos. Há um tom sépia, não muito pronunciado, mas que acaba por funcionar bem dentro da temática. Os carros, camiões e outros veículos menos conhecidos também estão bem desenhados e reproduzidos ao detalhe.

Entre pontos a merecer revisão: uma melhor apresentação e navegação do mapa. Claro que o objectivo não passa por guiar o jogador até aos objectivos, mas a apresentação e fluidez de navegação no mapa, assim como as opções de visualização, poderiam estar melhor. Por outro lado, a condução de uma pick up em estrada de asfalto é demasiado incisiva, podendo ocasionar algumas saídas inesperadas de pista.

Pondo ênfase no realismo, não podem ser descurados factores como danos e combustível. Os danos afectam a utilização do veículo e se consumirem toda a gasolina ficarão apeados. No modo todo-o-terreno o consumo dispara, pelo que terão de gerir uma série de pormenores enquanto avançam. O ciclo dia-noite cria dificuldades e embora tenham muito tempo para cumprir as missões é aconselhável que sejam rápidos, ganhando bónus por isso.

Com mais nove camiões americanos (Ford, Hummer e Chevrolet), passando por um vasto conjunto de acessórios como atrelados e faróis, entre novos mapas e desafios, a expansão American Wilds injecta uma boa longevidade ao original Spintires Midrunner. Se ainda não jogaram este, têm a oportunidade para experimentar o jogo no seu conjunto. Uma experiência muito realista e assertiva, quase única no seu género “off-road”. Para os jogadores de PC e consolas, é um fantástico teste à condução em superfícies montanhosas e lamacentas. A exploração da América num estado selvagem.

Share