Redfall review – Candidato a desilusão do ano

A questão nem é se o jogo vale o teu dinheiro, porque isso garantidamente não vale. Neste momento, Redfall nem vale a pena o tempo. É um jogo com falhas profundas e uma execução tão má do seu conceito que nos leva a perguntar se alguém da Bethesda jogou isto antes de ser lançado.

Há jogos que não começam com o pé direito, mas vão crescendo e melhorando à medida que investimos mais horas. Redfall é precisamente o contrário. Não começa mal, mas quanto mais jogamos, mais desastroso fica.

É um título terrível a vários níveis, que revela um lançamento prematuro e uma má execusão. Apenas podemos elogiar o conceito que o sustenta, que a meu ver tinha potencial.

Não há muitos jogos de temática de vampiros, e a combinação com o género looter shooter era apelativa para mim, afinal, depositei milhares de horas em jogos como Destiny e The Division. Mas Redfall nem ao calcanhar desses jogos chega.

Se jogar é geralmente considerada uma atividade lúdica, Redfall retira todo o encanto este hobby. Não me diverti a jogar. Foi um sacrífico, que se tornava pior a cada hora. O problema vai além de erros críticos nos seus pilares, é um jogo pouco polido.

O que está mal em Redfall?

A narrativa directa, que surge através de curtas cinemáticas de baixo orçamento (nem estão animadas, são imagens estáticas em movimento) e de diálogos nas missões principais, é tão fina como aqueles guardanapos de café. Falha completamente em criar interesse naquele mundo e nas personagens em redor. Fora isso, há muitos documentos de texto para encontrar a explorar (demasiados, às vezes são vários numa sala).

Mas nem sempre os jogos precisam de uma história sólida e apelativa para serem divertos, certo? A jogabilidade é raínha, afinal. Mas nem nisso Redfall acerta. O comportamento da inteligência artificial é errático, sejam humanos ou vampiros. Diria até que os humanos são mais assustadores que os vampiros, porque os seus ataques são fáceis de evitar; já os humanos são mais perigosos, principalmente os snipers (é estranho que num jogo de vampiros, os inimigos mais letais sejam humanos).

No geral, o jogo tem uma tremenda falta de brio.

As armas, que surgem com diferentes raridades como em outros jogos de loot, têm alguma variedade. Podes ter três equipadas em simultâneo, desde pistolas, caçadeiras, metrelhadoras, lança-estacas, e um emissor de raios UV que transforma os vampiros em pedra. O manejo das armas não é mau, mas o registo de tiros é inconsistente. Há tiros que não são registados, sobretudo quando estás a jogar mais rápido. É frustrante.

O ADN da Arkane, em que nos é permitido abordar as missões de diferentes formas, está presente de uma forma fugaz. Podemos entrar em edifícios por pontos diferentes, mas ultimamente, falta uma real opção de stealth. Não existe uma simples animação para derrubar os inimigos por trás, sem alertar os outros. Em efeitos práticos, isso nem compensa, porque precisas de ganhar XP para subir de nível e evoluir a tua personagem. Não existe nenhuma recompensa por seres sorrateiro, aliás, só ficas a perder na realidade.

O jogo tem modo cooperativo, mas não há matchmaking

Existem quatro personagens para escolher no início da história, cada uma com um leque de habilidades diferente. Escolhi Remi De La Rosa, que tem habilidades de cura e um robô companheiro que distraí os inimigos. As habilidades são úteis e adequadas para o estilo do jogo. Só não entendo por que razão não existe sequer opção de matchmaking. Redfall parece um jogo a solo em que o modo cooperativo foi enfiado à última hora.

Não é só a falta de matchmaking que me leva a dizer isto. As missões da história não podem ser repetidas. Um dos pilares fundamentais dos jogos de loot é repetir as mesmas atividades, com dificuldades superiores, para receber melhores recompensas. Parece que os produtores não pensaram bem no jogo que queriam fazer. Redfall não é um bom jogo de loot, nem de história, nem de tiros. Quanto mais jogamos, mais inacabado o jogo parece.

O mundo do jogo dá uma enorme sensação de vazio. Uma cidade invadida por vampiros é naturalmente inóspita, mas Redfall falha em criar atividades interessantes no espaço disponível.

Há coisas básicas que não funcionam

Algo tão básico como ter um ponto de direção do objetivo na bússola, que está na parte superior do ecrã, não funciona. Em vez disso, tens que ir sempre ao mapa e colocar manualmente um marcador para saber em que direção está a missão que acabaste de aceitar. O design das missões é básico e chato. Muitas vezes perdi mais tempo a deslocar-me até ao sítio (o sistema de viagens rápidas não é prático) do que a completar a missão.

Recordo-me que numa das missões, já no segundo mapa (sim, o jogo tem dois mapas e, estupidamente, quando chegas ao segundo, é impossível voltar atrás sem nenhuma justificação), tinha que acender um fárol, mas antes disso, havia que ir à casa do faroleiro para pegar num casquilho gigante (era do tamanho de uma mesa) que estava ali casualmente por alguma razão. Nem sempre as coisas fazem sentido nos videojogos, mas Redfall é demais neste aspeto.

Outra coisa que não faz sentido: todos os objetos que apanhas (e são muitos os que podes apanhar) convertem-se automaticamente em dinheiro, que podes usar na tua base para comprar novas armas e medkits. Fico com a ideia de que o jogo ia ter algum tipo de sistema de crafting, mas que foi anulado por alguma razão.

O faroleiro levou o casquilho do farol para casa… sabe-se lá o porquê.

Desempenho instável na versão PC e inadmissível na Xbox

O pior de Redfall nem são os erros que encontrei, como objetos flutuantes, atraso no carregamento de texturas, e ficar preso em coisas invisíveis. O desempenho no PC está longe de ser ideal, com engasgos ocasionais num configuração de hardware mais do que suficiente. Visualmente, é um jogo sem encanto e ambição. Há exemplos de jogos com a mesma direção estética com resultados melhores. O estado da versão Xbox, bloqueada aos 30 FPS, é inadmissível e uma prova irrefutável do lançamento prematuro.

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