Need for Speed: Unbound – diversão com restrições

Need for Speed: Unbound é um forte regresso da Criterion e ostenta muita da diversão que tornou este estúdio mundialmente famoso. É uma experiência que exige habilidade e dedicação, mas existe algum atrito em certas mecânicas que prejudicam o desfrutar da velocidade.

Após 10 anos como estúdio de suporte, a Criterion Games está de volta como estúdio principal em Need for Speed: Unbound, um jogo que relembra de forma energética o porquê deste estúdio ter conquistado aclamação mundial. Com Burnout Paradise, Need for Speed: Hot Pursuit e Need for Speed: Most Wanted entregues no espaço de 5 anos, a Criterion conseguiu gravar a ouro o seu nome entre os fãs dos jogos de condução arcada em mundo aberto e, agora, está a tentar recuperar o seu estatuto.

Muito mudou desde 2012 e pelo meio surgiu Forza Horizon, um nome incontornável no género dos jogos de condução arcada em mundo aberto. Nenhuma outra série consegue a gratificação imediata e diversão a longo prazo que a franquia da Microsoft consegue e isto torna difícil para outras tentarem a sua sorte. Para enfrentar esta atual realidade, a Criterion regressa com uma estética arrojada e uma mistura de ideias novas com o ADN da série Need for Speed. Será que resultou?

De forma resumida, digo que sim, Need for Speed: Unbound consegue o seu propósito e figura como um novo jogo de condução arcada em mundo aberto com argumentos para merecer o teu tempo. No entanto, não é o sucesso absoluto que esperava da Criterion e poderá exigir um pouco de paciência com algumas das mecânicas. Especialmente porque a sensação de diversão sofre um pouco devido a todas as pressões existentes no design.

Need for Speed: Unbound leva-te para Lakeshore City, que parece inspirada na cidade de Chicago, para acelerar em várias corridas e eventos, numa experiência que unifica de forma íntima a narrativa e gameplay. Unbound é uma carta de amor às corridas de rua e toda a cena criada em torno da modificação de carros. Desde pinturas repletas de estilo a modificações debaixo do capô, Need for Speed: Unbound permite um grande nível de personalização para que te possas expressar à vontade.

A narrativa é interessante, especialmente com a estética anime para personagens e efeitos gráficos, combinados com cenários de tom realista, o que faz de Need for Speed: Unbound um jogo singular em termos da sua componente visual. Eu adorei este elemento criado pela Criterion Games e elogio a sua capacidade em apostar em algo arrojado, mas sei que não conquistou todos. Participar em corridas de rua para ganhar dinheiro até alcançar estrelato entre a comunidade e cumprir uma vingança é uma narrativa simples, mas serve para estabelecer o design de progressão no jogo.

Após o prólogo, começas uma série de semanas com eventos/corridas diurnas e noturnas para ganhar dinheiro. Primeiro jogas de dia e participas em eventos, ganhas dinheiro e regressas à garagem. Depois jogas nessa mesma noite para completar outros eventos e ganhar mais dinheiro. Quando chegares ao final da semana, participas no grande evento e se ganhares, passas para a semana seguinte e inicias um idêntico novo ciclo.

Este design é a base de todo o Need for Speed: Unbound e será o grande barômetro para o teu desfrutar da experiência. Especialmente porque está intimamente relacionado com duas mecânicas basilares nesta experiência. A primeira é o dinheiro e a outra a polícia. O dinheiro é essencial em Need for Speed: Unbound pois serve para melhorar a garagem com peças mais potentes, comprar melhores peças para tornar o carro mais rápido ou comprar novos carros.

Várias provas ou corridas exigem o pagamento de uma entrada para participar e ganhas dinheiro de acordo com a posição em que terminas. Além disto, podes apostar que ficas à frente de um rival para ganhar mais dinheiro. Muitas corridas não exigem pagamento de entrada, mas outras tantas sim e a experiência Need for Speed: Unbound está moldada em torno do “risco vs recompensa”. Se vais pagar 2000 dólares para entrar numa corrida e ficas em quinto para ganhar apenas 1500 dólares (por exemplo), estás a perder dinheiro. Além disso, se apostas que ganhas a um rival e perdes, mais dinheiro se vai à vida.

Esta gestão é constante e será frequente não conseguir entrar em provas porque não tens dinheiro para tal, isso e a categoria do teu carro ser diferente da necessária. Para tornar as coisas perigosamente frustrantes, cada corrida aumenta o nível de procurado pela polícia, que transita do dia para a noite e para o próximo dia. Quando a corrida termina, és logo perseguido pela polícia e se fores apanhado, perdes todo o dinheiro. Tendo em conta que a polícia acima de nível 2 se torna persistente e irritante, a experiência Need for Speed: Unbound torna-se inesperadamente frustrante com tanta perseguição. Perder 22 mil dólares porque a polícia de nível 4 te perseguia há vários minutos porque cometes um pequeno lapso é irritante.

A polícia é implacável e o exagerado foco em gerir o dinheiro corta um pouco daquele elemento de “diversão imediata a todo o momento”. A série Forza Horizon consegue sem atritos essa sensação do início ao fim, por exemplo. A Criterion apostou por aprofundar esse elemento das corridas de rua e tornar a polícia num elemento vincado que poderá moldar a tua perceção de todo o Need for Speed: Unbound. Passei noites a perder dinheiro, a ficar a zero e sem conseguir melhorar o carro. Não foi nada divertido, mas sim, a culpa foi minha porque não consegui fugir à implacável polícia.

Se o foco no “risco vs recompensa” e polícia implacável é para tornar a gestão do dinheiro num elemento estratégico, parte da profundidade da experiência poderá criar momentos menos divertidos. A condução e personalização dos carros é puramente Criterion, criar um grande sorriso na face. Podes afinar um carro para se tornar mais propício ao drift e ganhar nitro rapidamente, podes optar por uma condução mais rígida e focada em ultrapassagens à rasa ou outras manobras acrobáticas. Tens uma incrível margem de manobra para impulsionar o teu estilo favorito de condução.

Apesar de sentir que existe alguma artificialidade na dificuldade devido ao esquema de progressão tão intimamente ligado à narrativa (apenas podes melhorar o carro até onde a Criterion te deixa e numas corridas és veloz e noutras és lento, com o mesmo carro), o gameplay arcada de Need for Speed: Unbound enverga imensa diversão. Além das imensas possibilidades de personalizar o carro ao teu estilo, sentirás a vontade de jogar cada vez melhor e executar manobras acrobáticas de condução para obter nitro e acelerar cada vez mais.

A condução de Need for Speed: Unbound ainda precisa de alguns ajustes, mas rapidamente dei por mim a querer repetir corridas para melhorar o meu desempenho. Quando começas a obter acesso a carros mais poderosos, o gameplay arcada brilha ainda mais e Need for Speed: Unbound torna-se muito mais divertido. Vais crescer a pulso e poderá demorar mais do que gostarias, mas quando lá chegares valerá a pena.

Need for Speed: Unbound não é um triunfo incontestável como esperava da Criterion Games, mas é um jogo de condução arcada em mundo aberto muito divertido. A elevada personalização de veículos, a estética anime e a sensação que a tua habilidade de condução são constantemente testadas fazem parte do seu apelo. Pelo outro lado, a gestão do dinheiro e implacável polícia geram algum atrito que podem interferir com a sensação de gratificação instantânea que esperas de um jogo de condução arcada.

Prós: Contras:
  • A Qualidade gráfica repleta de grandes momentos
  • Sistema de condução e afinação personalizada de veículos
  • Grande quantidade de carros que podes afinar ao teu estilo
  • Desafios Takeover são divertidos e exigem habilidade
  • Variedade de locais em Lakeshore por onde acelerar
  • Grande sensação de estilo, até na banda sonora
  • Sensação de dificuldade exagerada em alguns eventos
  • Artificialidade na dificuldade que relativiza frequentemente a tua habilidade
  • Design de progressão exageradamente focado no dinheiro poderá resultar em momentos frustrantes
  • Constantes perseguições policiais e com a sua dificuldade tornam-se aborrecidas
  • A tua progressão está limitada pela narrativa
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