Pokémon Scarlet e Violet – Era melhor adiar

O primeiro jogo de Pokémon em mundo aberto oferece liberdade e um grande mapa para explorar, mas é demasiado vazio e as quests existentes são básicas. Tecnicamente embaraçoso, visualmente uma desgraça.

No início do milénio, a Rockstar Games fez um brilharete ao lançar num curto espaço de tempo dois jogos que viriam a definir os jogos em mundo aberto. Em Outubro de 2001, Grand Theft Auto III provocou um tsunami nos videojogos e podemos dizer que, desde então, as expectativas para os jogos em mundo aberto nunca mais foram as mesmas. Não ficando por aí, um ano depois, lançou Grand Theft Auto: Vice City (que, inacreditavelmente, foi desenvolvido em cerca de 9 meses), que cimentaria a fórmula vencedora da Rockstar Games. Isto aconteceu há 20 anos.

Esta semana, a 18 de Novembro, serão lançados os primeiros jogos da saga Pokémon em mundo aberto. A pequena introdução em cima serve para mostrar o quão lenta tem sido a evolução da série, o que não deixa de ser irónico para jogos em que o objetivo é treinar criaturas e evolui-las para ficarem o mais fortes possíveis. É certo que, durante algum tempo, havia limitações de hardware que impediam este salto. No entanto, com a Nintendo Switch já não há desculpas: a consola tem impressionantes jogos em mundo aberto, desde Breath of the Wild, The Witcher 3, Xenoblade Chronicles 3, The Elder Scrolls: Skyrim, apenas para referir alguns.

Desde que a Nintendo Switch chegou ao mercado, que a Game Freak tem experimentado e dado pequenos passos para fazer a transição para mundo aberto em Pokémon. Tivemos Sword e Shield com as suas Wild Areas, e no início deste ano, Pokémon Legends Arceus, que já era quase um jogo em mundo aberto. Pokémon Scarlet e Violet são o salto definitivo para este formato. Desde o princípio ao fim, tens um vasto mundo (a região de Paldea, inspirada na Península Ibérica) para explorar sem grandes barreiras e sem interrupções (isto é, loadings).

Paldea é gigante e tem uma grande variedade de Pokémon

A região de Paldeia é deveras enorme, muito maior do que as amostras que tiveste anteriormente. A sensação de liberdade também não tem igual na série e inicialmente não encontras muitas barreiras que te impeçam de explorar o que quer que seja. As únicas barreiras são geográficas, como montanhas ou largos rios, que poderás trespassar assim que desbloqueares todas as habilidades do teu poké-veículo: Koraidon ou Miraidon, dependendo da versão que jogares. Este novo formato encaixa de que nem uma luva na aventura de Pokémon e, de certa forma, é aquilo que os fãs têm desejado há muito tempo.

Há novos Pokémon engraçados, outros nem tanto.

Após uma pequena introdução, na qual passas a ser um estudante da Naranja ou Uva Academy (novamente, depende da versão), tens rédeas livres para escolher o que fazer a seguir. O habitual percurso dos jogos Pokémon, em que tens de vencer os 8 ginásios, é uma das três quests disponíveis. Além desta, tens outras duas quests, nomeadamente a Path of Legends, em que tens de descobrir e derrotar Pokémons gigantes, e Starfall Street, em que lutas contra os vários chefes da Team Star, um grupo rebelde de estudantes.

Cabe-te a ti decidir o percurso que queres seguir. Não tens de escolher entre uma quest ou outra, podes enfrentar um ginásio e logo a seguir invadir uma das bases da Team Star. Porém, o jogo apenas cria uma ilusão de liberdade de escolha. Enfrentar os ginásios é essencial porque precisas dos crachás para que os Pokémon de um certo nível obedeçam às tuas ordens em combate. Até podes deslocar-te logo no início para uma área em que os Pokémons aparecem a nível 50 e capturar um, mas de pouco te vai servir. Ou seja, o jogador tem alguma liberdade, mas ultimamente, ainda precisas de seguir, mais ou menos, uma estrutura de progressão.

Os combates permanecem por turnos

Pokémon Legends Arceus introduziu um sistema de combate diferente, mas Scarlet e Violet voltam ao tradicional sistema de combate por turnos. Não é que um seja preferível ao outro, até porque o combate por turnos tem mais estratégia e profundidade, mas senti falta da rapidez com que tudo acontecia em Legends Arceus. O que também deixou saudades foi a opção de capturar Pokémon sem entrar em combate com eles. Não vejo nenhuma razão pela qual essa mecânica não possa estar presente em Scarlet e Violet.

Os combates agora acontecem no mundo do jogo, mas nem sempre as condições são favoráveis. A câmara pode assumir ângulos desconfortáveis, ou causar erros como aquele que estás a ver nesta imagem.

Pelo lado positivo, os novos jogos introduzem uma novidade bem-vinda: podes lançar o Pokémon em primeiro lugar na tua equipa para combater sozinho contra os Pokémon que vão aparecendo. É uma forma rápida de ganhar alguma experiência e de treinar Pokémon com níveis mais baixos, mas não só: é essencial para recolher os materiais necessários para fabricar os TMs na máquina disponível em todos os centros de Pokémon – que na região de Paldea, foram redesenhados para serem semelhantes a um posto de abastecimento, uma ideia bem pensada.

Os habituais treinadores que encontravas pelo caminho nos jogos anteriores são agora completamente opcionais. Apenas entras em combate se conversares com eles, já não se dirigem a ti como um míssil teleguiado quando te põe os olhos em cima. Existe, contudo, um incentivo para lutares contra eles. Paldea está dividida por zonas e se derrotares um certo número de treinadores em cada zona, há um NPC no centro de Pokémon que te dá uma recompensa.

As quests são demasiado básicas

Os três percursos de quests são do mais básico que podes encontrar num RPG. A GameFreak tentou adocicar a coisa com pequenas tarefas, como os desafios que tens de fazer antes de enfrentares um ginásio, mas todos deram a sensação de ser um engenho aborrecido para prolongar artificialmente o teu objetivo. Para um jogo em mundo aberto, e com tanta área de mapa disponível, havia margem para introduzir quests mais complexas, variadas, e divertidas.

O mundo do jogo dá constantemente a impressão de ser demasiado vazio, além de ser extremamente pobre visualmente.

A grande diversão de Pokémon Scarlet e Violet está precisamente em vaguear livremente pelo mundo a descobrir, combater, e capturar contra os diversos Pokémon que vais encontrando. No resto, há uma grande margem para melhorar. Este formato é claramente o futuro da saga. Tratando-se de Pokémon, a nostalgia bate sempre forte para quem cresceu com esta franquia, mas há que reconhecer que o que temos em mãos não é muito mais do que um esqueleto ou um esboço. Não digo isto apenas pela simplicidade das quests, mas pelas graves debilidades técnicas que os jogos apresentam.

Injogável no modo televisão, tolerável no modo portátil

A GameFreak lançou uma atualização no início desta semana para preparar Scarlet e Violet para o lançamento. Em termos de desempenho, continua miserável. Os soluços são tantos quando estás a jogar no modo televisão que para mim tornou-se injogável nesse formato. No modo portátil, os soluços acontecem, mas com menos frequência – roça o tolerável. Em cima do desempenho péssimo e inadmissível para um suposto produto terminado, não existe qualquer amostra de brio na qualidade visual. Pokémon Scarlet e Violet são jogos feios. Pronto, já disse.

Existe uma gritante falta de anti-aliasing (é o que suaviza as extremidades dos objetos), as texturas são horríveis de tanto esticadas que estão, a ligação entre materiais é desajeitada, as animações do Koraidon / Miraidon são estrambólicas, e os pop-ups acontecem mesmo na nossa cara (sejam NPCs, vegetação, ou Pokémon). Um punhado considerável de animações dos ataques também estão ultrapassadas e precisam de renovação; nota-se que ainda existe muito reaproveitamento das animações de gerações anteriores.

As cidades são os sítios mais embelezados.

Os trailers já me tinham deixado preocupado; agora que tive acesso à versão final, as minhas preocupações confirmaram-se. A GameFreak precisa desesperadamente de renovar as suas ferramentas de produção. Scarlet e Violet não têm aspecto de serem jogos terminados, são como um edifício em construção, sem acabamentos, com todas as vergonhas expostas a olho nu. Este é o terceiro jogo de Pokémon que lançam na Nintendo Switch, não há margem para desculpas.

Novo jogo, nova gimmick

Nos últimos anos, a cada novo jogo a GameFreak inventa uma nova gimmick para apimentar os combates. Em Sword e Shield tivemos as transformações Dynamax e Gigantamax. Antes disso, foram os Z-Moves de Sun e Moon. E previamente, as adoradas mega-evoluções. Não sou adepto destas mecânicas por terem um prazo de validade. Todos os vossos preciosos Pokémon Gigantamax de Sword e Shield não passam de Pokémon normais se transferidos para Scarlet e Violet. Também não há mega-evoluções, é como se tudo isso tivesse sido apagado da história.

A gimmick da região de Paldea chama-se Terastal e atribuí um tipo adicional a cada Pokémon. Por exemplo, os Pokémon do tipo Dragão são fracos contra o tipo Fada, mas se encontrares um Pokémon dragão com Fairy no seu elemento Terastal, quando transformado podes mitigar essa fraqueza. Em alternativa, o Terastal também pode fortalecer um elemento pré-existente. Se um Pokémon do tipo Fogo tiver Fogo no elemento Terastal, quando transformado os seus ataques deste tipo serão ainda mais fortes.

As Tera Raid Battles são praticamente iguais às Max Raid Battles. A grande diferença é que já não esperas eternamente pelos companheiros controlados pela IA.

Visualmente, as transformações Terastal são absolutamente ridículas (tanto no bom como no mau sentido). É engraçado ver alguns Pokémon miniatura a ganharem uma coroa gigante na cabeça, noutros não tem tanta piada. Quanto à utilidade desta mecânica, permaneço céptico. Apenas tens a necessidade de a usar porque os outros treinadores, nomeadamente os líderes de ginásio, também a usam. No final de contas, é uma mecânica como as outras que foram sendo descartadas. Pessoalmente, preferia que melhorassem a qualidade noutras coisas em vez de sentirem a necessidade inventar algo forçado para cada jogo.

Os fãs de Pokémon vão gostar?

Claro que há coisas que os fãs vão gostar. O formato mundo aberto é entusiasmante e livre das amarras tradicionais que tanto prenderam a série durante os últimos anos. Porém, também há coisas desagradáveis. A GameFreak claramente não é a Rockstar Games para conseguir lançar dois grandes jogos num período de tempo tão curto. Pokémon Legends Arceus, lançado em Janeiro deste ano, já era tecnicamente debilitado, mas foi desculpado pela lufada de ar fresco. Scarlet e Violet repetem o mesmo erro: tecnicamente e visualmente muito fracos, com sinais de que o esforço foi mínimo nos restantes aspectos.

O mundo do jogo é excessivamente vazio, não só pela falta de densidade de vegetação e outros elementos, mas pela falta de actividades. As cidades contrastam um pouco com isto, expressando vida, com NPCs contentes a andar de um lado para o outro, e muitas lojas para entrar, onde podes comprar roupa e acessórios para a tua personagem. Fora das cidades, só vais encontrar enormes feixes de luz no horizonte, que simbolizam os cristais onde podes participar nas Tera Raid Battles (que são praticamente idênticas às Max Raid Battles do jogo anterior).

Pokémon Scarlet e Violet tinham muito a ganhar se tivessem sido adiados.

Prós: Contras:
  • Finalmente, um jogo de Pokémon em mundo aberto
  • Há novos Pokémon engraçados e apelativos
  • Sensação de liberdade
  • Pokédex variada e muitas escolhas para a tua equipa
  • A nova mecânica de combate rápido é bem-vinda
  • Modo cooperativo para 4 jogadores
  • A câmara de combate não está preparada para Pokémon grandes
  • Alguns dos novos Pokémon parecem imitações
  • Visualmente e tecnicamente embaraçoso
  • As quests da história são básicas
  • Entrar em combate para lançar uma Pokébola
  • O mundo é demasiado vazio
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