Gotham Knights – Duas Faces

Gotham Knights faz-te tolerar coisas menos boas para saborear os seus melhores momentos, numa experiência com duas faces.

Gotham Knights chega 7 anos após Arkham Knight da Rocksteady Games e se esperas um jogo de similar escala épica, o melhor é ajustar as expectativas pois a Warner Bros. Games Montreal revela mais uma vez que vive à sombra da Rocksteady e não ostenta o mesmo pedigree. Por mais que se mantenha por perto para copiar na perfeição as melhores ideias dessa sensacional trilogia Arkham, não consegue transformar essa vontade numa experiência de super-heróis eletrizante, que te deixe empolgado constantemente.

Gotham Knights pareceu-me um jogo de duas faces, uma que se assemelha ao que esperamos de um singleplayer cinematográfico de estrutura mais linear e outra que foi desenhada para o introduzir na categoria dos populares jogos em mundo aberto capaz de permitir cooperativo a dois jogadores. Gotham Knights é claramente um jogo com momentos capazes de te impressionar, mas é o design do mundo aberto e como este afeta a experiência geral que se torna na sua maior falha.

Batman morreu e agora terás Batgirl, Robin, Nightwing e Red Hood encarregados de desvendar o seu último caso e perceber ao certo o que aconteceu e como aconteceu. Com a ajuda de Alfred e outros aliados que desejam salvar Gotham da subida no crime após Batman desaparecer da noite, este quarteto vai explorar uma cidade aberta inundada de tarefas extra, por mais banais e mal feitas que possam ser. Como é de esperar, o foco está numa história de investigação, na qual vais puxando aos poucos o fio do novelo, para descobrir uma das melhores tramas jamais vistas num jogo inspirado no universo de Batman. Nisto, a Warner Montreal merece todos os elogios, a narrativa principal em torno da Corte das Corujas agarra a valer, especialmente com tantos momentos cinematográficos.

No entanto, para avançar na narrativa principal, terás frequentemente de completar tarefas repetitivas para obter informações. Mesmo que isto esteja fiel à banda desenhada e respeite o grande detective que era Batman e o que ensinou aos seus filhos, a Warner Montreal não conseguiu adaptar a sede por homenagear a investigação em Batman através de um design e estrutura divertidos. É aqui que Gotham Knights dividirá opiniões e apesar de ser algo comum a inúmeros jogos em mundo aberto, afeta demasiado o desfrutar de uma experiência que no geral já tem pouco do qual se gabar.

O jogo aposta numa intrigante estrutura de Patrulhas Noturnas. Durante o dia, estás no esconderijo da Bat-família, mesmo no meio da cidade, onde podes escolher a personagem com quem queres jogar, assistir a cenas extra que aprofundam os personagens, jogar missões de tutorial e assistir a muitas cenas que avançam a narrativa. Quando não tens mais nada para fazer, sais e começa uma Patrulha que decorre sempre de noite. Ao iniciar esta fase, terás imensas atividades extra para cumprir e na maioria das vezes podes progredir com a narrativa principal.

Também podes seguir as linhas narrativas roçadas em vilões específicos, divididas em vários capítulos, mas muitas vezes terás de executar tarefas banais e repetitivas como travar assaltos a carrinhas de valor ou impedir raptos para obter pontos de investigação ou interrogar para obter informações. A sensação de travar um determinado número de assaltos ou crimes pequenos para obter informações para progredir na narrativa principal torna-se cansativa e fragiliza Gotham Knights, quando o que mais queres é seguir com a campanha principal.

O mapa está cheio de tarefas banais num mundo aberto, sejam corridas de moto para ganhar novas cores para a moto, analisar drones para desbloquear a viagem rápida, corridas contrarrelógio pelos telhados para obter itens e XP, sem esquecer os constantes crimes que terás de repetir incansavelmente para subir de nível ou progredir nas histórias. Gotham Knights está repleto de conteúdo e pouco mantém apelo a longo prazo. Na verdade, as primeiras 4 horas de Gotham Knights tiveram pouca diversão e comecei a ficar frustrado com o jogo, pois estava demasiado focado nas atividades secundárias e na face do mundo aberto. Só quando me foquei em fazer apenas o necessário para progredir na campanha é que me comecei a divertir.

Tendo em conta que a conversa em torno do jogo são os 30fps, não senti que fosse prejudicial para Gotham Knights. O problema está nas frequentes quedas abaixo desse valor e isso é que incomoda a sério a fluidez de muitos momentos. Além disso, o jogo apresenta alguns problemas de streaming ao acelerar com a moto pela cidade. A qualidade gráfica consegue impressionar no geral, existem imensos momentos Kodak e no geral fiquei muito impressionado com o detalhe nas personagens, mas a fluidez precisa de melhorias.

A Warner Montreal conseguiu apresentar sistemas RPG como XP, fatos mais poderosos que podes fabricar em tempo real no meio da cidade, transmog para maior personalização, armas com elementos que causam dano adicional e árvore de habilidades de forma acessível que não causa atrito na experiência. Existem diversos elogios que devem ser tecidos à equipa, mas o design do mundo aberto e a insistência nas tarefas medíocres não fazem parte dessa lista. No entanto, fica a sensação que se colou em demasia ao que a Rocksteady já fez e não vai além de um jogo com 7 anos. Até o sistema de combate, que conquista profundidade e diversidade ao explorar as mecânicas com 4 personagens, parece uma cópia direta do que a Rocksteady fez sem lhe introduzir melhorias significativas.

Jogos como Spider-Man também o imitaram e a verdade é que resulta muito bem, os combates são divertidos em Gotham Knights, mas é apenas um exemplo de como parece faltar eletricidade e dinamismo ao jogo. Senti frequentemente que um jogo de super-heróis deveria ser mais empolgante do que isto, apesar de conseguir sentir diversão, senti que é tudo demasiado familiar e sem o talento capaz de dar aquela espetacular energia a um género e empolgar multidões.

Eu fiz de tudo para gostar de Gotham Knights e quando a narrativa começou a aquecer, comecei a sentir que a Warner Bros. Games Montreal poderia chegar a algo especial. No entanto, apesar da narrativa prender, o design do mundo aberto e a estrutura presa a tarefas opcionais, por vezes difíceis de discernir, empurra a experiência geral para baixo. No geral, em termos gráficos consegue satisfazer e apesar das quedas no desempenho em cenas mais intensas, é a inteligência artificial atroz que realmente o prejudica. Repetir constantemente atividades opcionais que apenas realçam as suas fraquezas não ajudou em nada. Há aqui uma face, na narrativa principal que quase se parece um jogo de história linear, que consegue agarrar, mas depois existe a outra face, o design criado em torno do mundo aberto que o puxa perigosamente para um lado enfadonho.

Prós: Contras:
  • Momentos gráficos espetaculares
  • A narrativa principal está muito bem conseguida
  • Missões principais muito cinematográficas e divertidas
  • Sistema de combate herdado da Rocksteady ainda permanece espetacular e simples
  • Grande quantidade de easter eggs
  • Algumas boss fights com mecânicas desafiantes
  • Imensas tarefas medíocres
  • Obrigatoriedade em travar repetidamente os mesmos assaltos para progredir na história
  • Mapa mundo não suscita interesse na exploração
  • A inteligência artificial inimiga é terrível e tira a imersão ou desafio da abordagem furtiva
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