Thor: Love and Thunder – Muito divertido, pouco sério

Com Thor Ragnarok, ainda que fosse o seu primeiro filme do universo Marvel, o realizador Taika Waititi percebeu que tinha encontrado uma fórmula dourada que ressoou entre as audiências e críticos. Uma mistura de acção, comédia, drama, visuais coloridos, e música electrizante tornaram o terceiro filme do deus do trovão num sucesso de bilheteiras consideravelmente maior do que os dois filmes anteriores. Para o quarto filme, e como o anterior resultou tão bem, a Marvel e Taika Waititi quiseram repetir a fórmula. Afinal, para quê mudar algo que resultou tão bem?

À partida, seguir a mesma direcção não seria problema, porém, Thor: Love and Thunder tenta ir mais longe do que o seu antecessor nas piadas, de tal forma que se tornam numa distracção para tudo o resto. Na primeira parte do filme, as piadas e tentativas de sacar uma gargalhada à audiência são tantas que parece que não estamos realmente a assistir a um filme do Thor, mas antes uma sátira realizada por um comediante. Há desequilíbrio e o ritmo narrativo é constantemente interrompido por cenas parvas. Não vou mentir, ri-me em algumas delas, mas chegou um momento em que senti que deixaram de ser naturais e tornaram-se forçadas, para meter o público sempre a soltar uma gargalhada de x em x minutos.

A atmosfera de filme de comédia é contrastada pelas cenas de Gorr, representado por Christian Bale, e que transformam Thor: Love and Thunder momentaneamente num filme de terror. A coloração das cenas é usada eficazmente para mudar completamente a atmosfera. O filme consegue ser tanto vibrante e colorido, como soturno, escuro e pavoroso. A prestação de Bale enquanto Gorr ajuda muito a esta metamorfose, é nitidamente o actor que mais se destaca do filme com a sua interpretação aterradora da personagem (há expressões faciais que até arrepiam).

Podia ser uma cena de um filme de terror, mas é apenas Gorr (Christian Bale) em Thor: Love and Thunder.

Um filme, dois Thores

Thor: Love and Thunder vai buscar inspiração a várias bandas desenhadas da personagem e uma delas é a série Mighty Thor de 2015, em que Jane Foster pega no Mjolnir e assume o papel de Thor. Os acontecimentos do filme estão longe de ser completamente fiéis às páginas de quadradinhos, mas no geral, é feita uma boa combinação de elementos para criar uma história divertida e energética, com as típicas cenas de combate que são um festim visual. O filme também expande o universo cinemático da Marvel noutras direcções, introduzindo locais e personagens nunca antes vistas como Zeus e a cidade da Omnipotência, o sítio do universo com mais deuses por metro quadrado.

Na sua essência, este é um filme de amor. Um amor duradouro entre Thor e Jane Foster. Um amor perdido por Gorr, que foi substituído pela sua sede de vingança contra os deuses. Thor está de coração partido e sente um enorme vazio na sua vida, vagueando pelo espaço de aventura em aventura com os Guardiões da Galáxia. Da outra parte, Jane Foster tentou enfiar a cabeça nos livros e investigações do laboratório, ignorando os seus sentimentos mais profundos. Embora Chris Hemsworth e Natalie Portman façam prestações individuais razoáveis ao longo do filme, a química entre os dois não convence. Há uma tentativa de mostrar um amor profundo e electrizante, que supera tudo e todos, mas que ultimamente não é palpável.

Amor Electro

Quase tudo é tratado com demasiada leviandade, pelo que não é de surpreender que, apesar da sua capacidade de entreter, Thor: Love and Thunder não te faça sair do cinema como se tivesses sido atingido por um trovão. É um filme que se perde no meio das suas piadas, sem ambição para entregar algo mais profundo e marcante. É pena, porque estavam reunidos os elementos para ser o melhor filme da personagem. Será que vale a pena pagar o bilhete de cinema? Se gostaste da direcção de Thor Ragnarok, não serão duas horas mal passadas e combina bem com um balde de pipocas. Para quem não gostou do filme anterior, nem te aproximes da sala de cinema.

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