Call of Duty: Vanguard review – Para o ano há mais

Esta é sempre a altura do ano marcada pela chegada de mais uma edição de Call of Duty. Tem sido dessa forma desde 2005, com a Activision a continuar ano após ano a marcar posição e a entregar uma nova versão. A cada entrega, sabemos já à partida com o que contar, com tantos lançamentos anuais não existe grande espaço para alterações ou até tentativas de grande envergadura para modificar e dar alguma frescura à série. Tendo isso em mente, há uma sensação de repetibilidade onde apenas é alterada a temática, havendo uma alternância de estúdios encarregues pelo lançamento a cada ciclo, este ano é a vez da Sledgehammer Games liderar o projeto, mas conta com a ajuda tanto da Treyarch como da Infinity Ward e Raven Software.

De volta ao palco da Segunda Guerra Mundial, sendo o segundo jogo consecutivo da Sledgehammer a abordar o tema, tinham-no o feito em 2017 com Call of Duty: WWII. Também aqui não há grandes assuntos que já não tenham sido abordados, muito já foi explorado e não é tarefa fácil conseguir surpreender. Com essa premissa em mente, é natural que o sentimento de déjà-vu se instale e que se duvide da força que esta parte da história já teve em apostas passadas apresentadas pela Activision.

Abordando desde já a parte da campanha, que tem sido uma surpresa nos últimos trabalhos com a boa construção em Call of Duty: Modern Warfare e Call of Duty: Black Ops Cold War, em Vanguard a sua conceção é pautada por desleixo e muita leviandade conceptual dos vários fios condutores que ditam a qualidade final. Esta é sobretudo aborrecida e desprovida de interesse para quem a joga. Dei por mim a pensar quando é que acabava. É lamentável que depois de duas entregas interessantes, a produtora não tenha conseguido atingir o mesmo nível, sobretudo tendo em mente a boa execução em COD WWII.

“história de um grupo composto por elementos de várias nacionalidades com uma missão ultrassecreta, a de obter informações sobre um projeto Nazi”

Vanguard conta a história de um grupo composto por elementos de várias nacionalidades com uma missão ultrassecreta, a de obter informações sobre um projeto Nazi, sendo uma das muitas histórias que ocorreram nesse período. Infiltram-se nas linhas alemãs com um plano arrojado, esquema esse que dita as missões que decorrem durante a evolução da segunda guerra mundial. A visão dos acontecimentos acentua-se na perspetiva de todos os elementos, onde temos uma espécie de regresso ao passado de cada um, dando-nos a conhecer quem são estes bravos nesta missão quase impossível. Nada aqui está errado, é uma abordagem como outra qualquer e não dita por si só o seu fracasso.

Os problemas deparados com a campanha estão ligados desde logo a uma apresentação desleixada e completamente despida de interesse. O primeiro impacto é importante e Vanguard dececiona logo no primeiro encontro. Obviamente que não irei estragar o seu conteúdo, deixo-vos apenas com a descrição das várias inconsistências e lamentáveis execuções. Ao terminar a história, o que mais salta à vista é uma sensação de desperdício de tempo, numa abordagem deslavada e que nada acrescenta. É tudo contado e executado de forma demasiado rápida. Somos colocados na perspetiva de um dos elementos e executamos determinadas ações que nos levam até ao momento final. Após terminarmos todas as linhas dos personagens, segue-se o epílogo.

As problemáticas da campanha vêm principalmente das partes de jogabilidade, com missões desinteressantes e que nada acrescentam ao historial da série. Temos também evoluções descabidas de eventos, com execução impossível de confrontos onde deveríamos morrer, mas para que a cena funcione, sobrevivemos sempre miraculosamente. Não há aqui qualquer coisa que empolgue, existe a sensação de uma execução obrigatória para entregar e dar mais conteúdo ao pacote. Fatores péssimos encontrados, são de facto bastantes, de onde se destaca a IA que é estupidamente incompetente. Estes são autênticos asnos, muitas vezes ficam em pé em campo aberto numa cómica troca de tiros que só posso adjetivar de ridícula. Mas para nos contradizerem, noutros momentos passam a super-humanos, sabendo sempre onde te encontras. Outro momento estranho que me deparei, são os gémeos aqui presentes. Numa cena, deparei-me com quatro gémeos, penso não havia mais orçamento para NPCs com fisionomias diferentes!!! Este autêntico emaranhado torna a campanha desinteressante, que nada deixa para memória futura.

“existe a sensação de uma execução obrigatória para entregar e dar mais conteúdo ao pacote”

Call of Duty é muito mais que o seu modo história, o pacote fica completo pelo modo Multijogador e Zombies. Sei que já não existe em mim expetativa de me surpreender com uma série desgastada pelo tempo e, sobretudo, quando a Activision se mudou de malas e bagagens para Warzone, mas ainda existia uma pequena fogalha de esperança. Contudo e para minha surpresa, o multijogador conseguiu baixar ainda mais o nível. Não vou aqui entrar em todos os detalhes de uma vertente que é conhecida dos pés à cabeça, onde as armas são réplicas de outros títulos da série e as modificações e habilidades clones do passado. O que este ano é novidade, pelo menos a mais significativa, é a adição de diferentes ritmos para todos os modos de jogo. Sim, há aqui uma tentativa de fazer algo novo, mas o resultado final é um completo desastre, com partidas caóticas e descabidas, onde até podes jogar de olhos fechados que não notarás a diferença.

Como referi, o multijogador é agora dividido por ritmos, que são três. É introduzida a vertente Tactical, Assault e Blitz. Podemos escolher as três ao mesmo tempo ou apenas uma, conforme a nossa vontade. Em Tactical temos o tradicional ritmo de jogo, que é mais pausado devido à presença de menor número de jogadores em cada partida. Assault adiciona mais elementos, sendo mais intenso que o anterior. O caos é instalado com Blitz, que considero exagerado e ridículo, com combates em que morres assim que nasces. São sensações estranhas com estas opções, dando por mim a voltar sempre ao modo mais tradicional, pois matar e morrer logo de seguida é a sensação mais frustrante num jogo competitivo.

“já não existe em mim expetativa de me surpreender com uma série desgastada pelo tempo”

Nesta franquia é sabido que, a cada lançamento, muitos dos seus parâmetros ainda estão em estado beta, e infelizmente Vanguard mantém essa tradição. Muitos ajustes terão de ser feitos, desde onde nascemos após morrer, até as lacunas nos menus notados na PlayStation 5. De referir que no meu caso, o DualSense não funciona na sua totalidade, não tem vibração nem funcionalidade hápticas. Continua a ser um lançamento incompleto que precisa de meses até amadurecer e se torne em algo satisfatório. Os jogadores continuam a ser as cobaias e quem verdadeiramente o experimenta e testa.

Queria abordar um tema delicado que tem dizimado por completo a franquia, principalmente desde que Warzone foi lançado, estou a falar da proliferação de batoteiros. Neste momento recomendo vigorosamente a todos que desliguem imediatamente o crossplay nas consolas, Vanguard está com uma praga de batoteiros no PC, onde em quase todas as partidas me deparo com jogadores duvidosos. Sempre que desligo o crossplay as partidas mudam de figura, deixo de ver jogadores a saber sempre onde estou e, sobretudo, que não falham uma bala. É este o triste estado dos jogos competitivos online, principalmente num que ainda não recebeu a implementação prometida de anti-batota, o Ricochet, que chegará com o novo mapa para Warzone. Mais uma vez se nota a atenção pelo battle royale em prejuízo do multijogador por parte da Activision, é triste mas é a verdade.

Resumindo, o multijogador é mais do mesmo, que para uns pode ser bom, mas que para outros começa a cansar e o desgaste afasta cada vez mais os veteranos. A sensação de que já não se importam com estes jogadores é enorme e no mundo atual tudo gira em redor de novos jogadores, da juventude, que em certo ponto é o futuro e que irá manter a série viva por muitos mais anos.

“dececionante verificar que tenham lançado um modo Zombies incompleto e até incapacitado, estando em paridade com o resto do conteúdo de COD Vanguard”

A última parte que temos são os venerados Zombies, que naturalmente estão incluídos e que fazem as delícias de muitos. Há quem tenha mesmo abandonado o multijogador e se dedique agora a jogar apenas e só Zombies. Aqui temos um enredo que gira em redor de experiências Nazi, lideradas por Oberführer Wolfram Von List, que procura respostas em forças sobrenaturais para fazer renascer os mortos, conseguindo assim um exército infinito. Esta é a epígrafe para toda a experiência neste modo, que possui uma abordagem já conhecida, mas com alguns ajustes.

Temos agora uma “base” que dá acesso a todo o conteúdo, como áreas a desbloquear, bancadas para upgrades, evolução das armas, e por aí adiante. Existem algumas alterações relacionadas com a disponibilidade de alguns elementos, como o Pack a Punch que está disponível desde o início, e corações que dão acesso a habilidades / perks que podem ser substituídos por outros que aparecem aleatoriamente. Neste momento as rondas disponíveis são poucas e sobretudo muito repetitivas em objetivos. Mais conteúdos são esperados no início de 2022, infelizmente. É um tanto dececionante verificar que tenham lançado um modo Zombies incompleto e até incapacitado, estando em paridade com o resto do conteúdo de COD Vanguard.

“sonoridade nunca defraudou na série, nunca foi o seu ponto fraco e volta a ser uma das positividades que é mantida”

Em termos de apresentação visual, este é um ano estranho depois das belas apostas que tivemos nos dois últimos lançamentos, pautadas por boa qualidade visual. Aqui é a deceção, já que apresenta um grafismo muito duvidoso para as novas consolas. Jogado na PlayStation 5, não se nota um salto extraordinário em relação ao que a Sledgehammer fez em 2017 com WWII. Claro que as diferenças estão lá, mas o salto é de curta dimensão, e em momentos dei por mim a pensar que estava a jogar na Xbox One X ou PS4 Pro. Já a nível sonoro, está como sempre, bem acima da média. A sonoridade nunca defraudou na série, nunca foi o seu ponto fraco e volta a ser uma das positividades que é mantida.

Este ano temos uma abordagem desprovida de interesse em mais um Call of Duty. Aqui, em Vanguard, a fórmula é obviamente mantida com pequenas adições ao multijogador que, de momento, está caótico e recheado de batoteiros no PC. A campanha não contém interesse e rapidamente é colocada no canto do esquecimento. Resta-nos os Zombies que estão minimamente aceitáveis e fazem esquecer um pouco tudo o resto, mas apenas e só para quem gosta deste modo de jogo. Adicionando a isto alguns problemas técnicos encontrados na PS5, numa abordagem quem nem consegue um folego visual digno das novas consolas. Para o ano há mais!

Prós: Contras:
  • Tema da Segunda Guerra Mundial
  • Multijogador com modificadores de ritmos
  • Excelente sonoridade
  • Jogabilidade continua a ser excelente
  • Campanha desprovida de interesse
  • Multijogador precisa de muitos ajustes
  • Zombies incompletos
  • Visualmente nada impressionante
  • Muitos batoteiros no PC
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