Little Nightmares 2 review – Pequenos grandes pesadelos

O primeiro Little Nightmares provou ser uma pequena agradável surpresa e mostrou o valor criativo da Tarsier Studios enquanto produtora. Até aquela altura, era um nome praticamente desconhecido, servindo meramente de estúdio de apoio à Media Molecule (os criadores de LittleBigPlanet e mais recente de Dreams). Como um pequeno pássaro que tem de esperar até poder lançar-se do ninho para começar a voar, a Tarsier esperou pelo momento certo e levantou voo. Apesar de ser um primeiro voo remarcável para um estúdio que não tinha criado nada seu, havia claramente espaço para melhorar.

Quase quatro anos depois, a Tarsier lança esta semana – a 11 de Fevereiro – a sequela Little Nightmares 2. O primeiro era um jogo relativamente pequeno e por isso pode parecer que a sequela teve um período de produção excessivamente longo, mas espera valeu a pena. Tudo o que tornou o primeiro jogo numa pequena pérola está presente na continuação, com o acréscimo de valores de produção ainda melhores, jogabilidade afinada, níveis de maior escala, e uma história sem narrador e falas que nos consegue deixar compenetrados neste mundo bizarro, sombrio e opressivo.

Não pretendo esconder que gostei realmente de Little Nightmares 2. É um dos poucos jogos nos últimos tempos que, depois de terminar, deixou-me com a cabeça andar à roda. O final deixa mais perguntas do que respostas, e embora isso possa ser um pouco frustrante (porque ficamos tão envolvidos neste universo), ficamos a ansiar por mais. Não existe prova maior da qualidade de um jogo do que ficar a desejar por mais e é precisamente esse efeito que a Tarsier Studios consegue..

Um jogo de plataformas arrepiante

O género de plataformas está muito associado a cenários coloridos e personagens alegres (Super Mario, Sonic, Crash Bandicoot, Donkey Kong, etc). Little Nightmares 2 é o completo oposto. Esquece a alegria, os sorrisos, as personagens cómicas e tudo o resto. O mundo deste jogo é sombrio, opressivo, praticamente desprovido de vida e esperança. Entre os poucos sinais de vida neste mundo estão Mono – uma nova personagem que controlamos – e Six – a miudinha de casaco amarelo do primeiro jogo que agora nos assiste.

“O mundo deste jogo é sombrio, opressivo, praticamente desprovido de vida e esperança.”

A escuridão predomina nos ambientes pelos quais passámos, mas há muita expressividade decorativa. A Tarsier Studios revela uma direcção artística altamente apurada para Little Nightmares 2 e, apesar de não haver diálogo, narrador ou qualquer tipo de fala inteligível, os sítios pelos quais passamos vão contando a história. À medida que nos aprofundamos neste mundo – começa numa floresta, mas o palco principal é um sítio chamado Pale City – os ambientes também vão ficando mais macabros e torcidos.

Sem recorrer aos típicos sustos repentinos pelo qual o género do terror é tão conhecido, Little Nightmares 2 consegue deixar-te apreensivo, com medo do que vais encontrar a seguir. É o resultado de uma atmosfera poderosíssima e também do próprio conceito do jogo – somos personagens pouco maiores do que brinquedos, praticamente indefesas. As ameaças que enfrentamos são sempre maiores do que nós, e apesar desta sequela introduzir combate através de objectos como martelos e canos de ferro, o tamanho destas armas relativamente à nossa personagem provoca ataques lentos que têm de ser meticulosamente planeados.

Aprendizagem por tentativa e erro

Little Nightmares 2 é um jogo em que tudo te mata ao primeiro golpe e, tal como o primeiro, envolve tentativa e erro para aprender a ultrapassar os desafios. Se por esta descrição já estás a sentir a frustração, tem calma. Os checkpoints são muito abundantes e os loadings rápidos (leva em que conta que jogamos na PS5, e embora não exista ainda versão de nova geração, o SSD da consola ajuda a reduzir os loadings mesmo em versões PS4), por isso, raramente vais sentir-te frustrado. Dito isto, vais morrer bastante – não é um Dark Souls, mas de facto, requer bastante experimentação e, como tudo te mata à primeira, não fiques chocado por ter de tentar de novo.

A tentativa e erro está ainda mais presente nas novas secções de combate, em que é necessário atacar no tempo correcto para acertar nos inimigos antes que te apanhem. A secção da escola, onde encontras miúdos feitos de porcelana que são uns diabretes, é a que tem mais zonas de combate. A zona seguinte, um hospital, também tem algumas, mas aposta muito mais no terror. É a zona mais escura do jogo todo, onde tens que navegar com uma lanterna pelos corredores escuros (e para não estragar a surpresa, não digo o que vais encontrar na escuridão).

“A secção da escola, onde encontras miúdos feitos de porcelana que são uns diabretes, é a que tem mais zonas de combate”

little_nightmares_2

Apesar da introdução do combate, Little Nightmares 2 não se transforma num jogo de acção. Ser sorrateiro continua a ser obrigatório para não ser detectado pelas assustadores seres que habitam os locais por onde vamos passando. Estes encontros são os momentos mais intensos do jogo. Tanto o design sonoro – e isto abrange os sons dos pés descalços da nossa personagem, os estranhos barulhos das criaturas, a régua firme da professora da escola, ao barulho que as crianças de porcelana fazem quando são partidas – como a banda sonora são brilhantes e muito contribuem para a atmosfera imersiva que Little Nightmares 2 emana.

Não é um jogo muito longo, mas o preço é justo

Little Nightmares 2 é um jogo intenso, mas curto, dividindo-se em cinco capítulos. Não deves demorar mais do que 6 ou talvez 7 horas a terminá-lo. Não há muito valor de repetição, a não ser apanhar todos os coleccionáveis: chapéus para personalizar a tua personagem e o que o jogo chama de Glitches – restos intermitentes de outros miúdos. O preço de 29,99 euros coloca-o num valor mais acessível que os típicos grandes lançamentos (honestamente, em qualidade não lhes fica a dever em nada) e parece-nos mais do que recomendado para quem está interessado num jogo de terror que consegue surpreender e escapar aos moldes habituais do género.

Prós: Contras:
  • Mono e Six são uma dupla adorável
  • Atmosfera arrepiante, por vezes aterradora
  • Uma banda sonora estupenda que intensifica os momentos
  • Os bosses fazem-nos sentir realmente desesperados
  • Cada secção é uma autêntica surpresa
  • Os puzzles puxam pela cabeça, não são imediatamente óbvios
  • Coleccionáveis difíceis de encontrar
  • Pequenas irritações nos controlos
  • O final deixa mais perguntas do que respostas
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