Immortals Fenyx Rising review – os deuses estão loucos

Aviso: Sim, é praticamente impossível jogar e olhar para Immortals: Fenyx Rising sem pensar em Zelda: Breath of the Wild, ao ponto de parecer que alguém na Ubisoft ficou de tal forma deslumbrado com o clássico da Nintendo que não resistiu a criar uma homenagem com as ferramentas à sua disposição. Com isto quero dizer o Anvil Engine que tinha acabado de dar vida a Assassin’s Creed: Odyssey. Por isso, para não passar os próximos parágrafos a referir em cada um o nome desse memorável jogo da Wii U e Switch, começo a análise com esta nota para os que me vão acompanhar neste texto.

Dito isto, é precisamente devido a esta sensação que Immortals Fenyx Rising se tornou num dos jogos mais difíceis de analisar, pois apesar de ter diversos ingredientes para triunfar, também tem tudo para se tornar num jogo privado de uma identidade própria e remetido para a classe de um derivado sem inspiração na qual se equilibrar e erguer. A Ubisoft Quebec decidiu criar algo diferente, uma nova propriedade, algo que para uma mega épica tão centrada em sequelas é digno de elogios. No entanto, ao colocar-se às cavalitas de um outro jogo sobejamente conhecido e atualmente uma referência no design e abordagem aos mundos abertos, a equipa colocou-se num rota complicada. Junta a isto o uso do motor de Assassin’s Creed com as animações e algumas mecânicas dessa série e tens aqui uma amálgama perigosa.

Mas vamos por partes pois apesar desta dualidade na identidade, Immortals Fenyx Rising tem coisas interessantes e que poderão deixar diversos jogadores entusiasmados, quanto mais não seja com a ajuda das extensas ferramentas de acessibilidade que permite ajustar a dificuldade para tirar impacto ao que menos gostas. Isto é algo que podes louvar, mas também é algo que poderás encarar como uma falta de convicção no seu design e é aqui que o trabalho da Ubisoft mais deixa a pensar. Enquanto a equipa da Nintendo apostou em mecânicas específicas e tornou-as parte da essência do consagrado design, a equipa da Ubisoft parece que as implementou porque queria copiar, mas sem a mesma convicção e empenho ao seu papel no design geral. Por um lado, queriam ter aquela mecânica, mas pelo outro não queriam que atrapalhasse e isso resulta num meio termo sem sal.

História

O enredo de Immortals é um dos seus aspetos mais divertidos, especialmente porque a equipa parece ter-se inspirado em Deadpool para dar aos deuses Gregos um inesperado humor, sátira e capacidade para quebrar a quarta dimensão e brincar com o papel de narrador. A Ubisoft imaginou um mundo vibrante em mitologia, no qual existem animais e monstros fantásticos que terás de derrotar, com direito às inevitáveis grandes figuras e bestas mitológicas, como Aquiles e Medusa (que enfrentarás como bosses em Cofres de Tártaro, o que a Ubisoft decidiu chamar às suas Shrines). No entanto, os deuses Gregos estão neste momento à deriva e a humanidade transformada em pedra, o que deixa Zeus tonto e sem saber o que fazer.

Zeus decide pedir ajuda a Prometeu, que como seria de esperar, coloca o destino do mundo nas mãos de uma personagem humana (podes personalizar a tua Fenyx para modificar a mulher que vês nos trailers e até escolher um homem, careca, com barba e uma marca vermelha num dos olhos!) que após uma breve e pequena zona como tutorial, fica perante uma enorme ilha dividida em 4 partes. Em cada uma delas terá de encontrar o deus responsável pela zona e cumprir diversas missões, na sua maioria puzzles nos tais Cofres, para as ajudar a restabelecer a sua gloriosa forma original e receber uma Bênção (habilidade especial sempre ativa) e assim ficar cada vez mais forte para enfrentar o Ganon….quer dizer, Tifão, que após semear o caos entre os deuses, está mesmo no meio da ilha à tua espera.

O humor do enredo, a abordagem às lendas mitológicas e as constantes piadas dão um grande charme ao enredo, especialmente com a ajuda de personagens como Hermes e até a própria protagonista. Isto ajuda imenso a cumprir novas missões pois não imaginas o tratamento cómico dado a deuses como Ares ou Afrodite, sempre com sátira na sua personalidade. A narração constante de Zeus e Prometeu é outro ponto alto.

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Gameplay

Em termos de gameplay, o que isto significa é que terás uma ilha para explorar à vontade, sendo possível escolher qual o deus que queres ajudar primeiro e se quiseres, podes deixar as missões de um a meio e seguir para outra parte da ilha e começar a linha narrativa de outro. Tens total liberdade de exploração após deixares o plateau inicial. Existe um local que serve como hub e a partir daí tens de escalar a estátua do respetivo deus da zona e iniciar a linha narrativa com missões. Existem 2 tipos de missão, recuperar itens com combates pelo meio ou a entrada em Cofres de Tártaro que te levam para uma dimensão especial, onde terás de resolver diversos puzzles. No entretanto, se estiveres cansado dos puzzles ou encontrares um boss demasiado difícil, podes tentar resolver um dos inúmeros puzzles espalhados pela ilha para obter recursos e melhorar os atributos de Fenyx. Existe uma inacreditável quantidade de puzzles em toda a ilha, cuja escala pode variar de pequenos (como atirar uma seta pelo fogo para acender outro ponto) até salas onde tens de controlar objetos com magnetismo.

Nos segmentos de exploração e combate, sentirás que estás a jogar algo muito próximo de Assassin’s Creed: Odyssey, especialmente nas animações e controlos, mas com um sistema de Vigor à mistura. Immortals inclui um sistema de Vigor representado por uma série de barras azuis ao lado de Fenyx e se correres ou escalares durante muito tempo, ela perde o Vigor e fica parada. No entanto, ao contrário do que a Nintendo fez no design do seu jogo, tornando-o parte integral do design e da constante equação matemática na exploração que te força a ponderar bem por onde ir e a gerir a barra de Vigor, em Immortals parece existir simplesmente porque é fixe e apenas para limitar os teus movimentos sem qualquer consequência ou peso no gameplay. Foi uma das mecânicas que mais me deixou perplexo pois é restritiva sem qualquer peso no gameplay ou sem acrescentar significado à experiência.

Existem puzzles básicos que exigem apenas explorar os arredores para encontrar a “ponta do novelo” e seguir o rastilho, enquanto outros são de grande escala e exigem diversos movimentos, passo a passo num esquema muito maior. Nestes Cofres do Tártaro, as leis da gravidade são quebradas e existem Cofres com cubos que gravitam após disparares uma seta e até existem momentos onde tens de guiar uma pedra com o imã ou uma seta ao longo de diversos objetos até ao ponto final. Immortals brilha nestes Cofres, com puzzles que te fazem pensar e até desesperar. É aqui que se vê o seu maior apelo, onde a equipa mais se esforçou.

No entanto, o design poderá tornar-se demasiado exigente e as mecânicas ficarem aquém. Usar o imã nos combates é fundamental e em alguns puzzles a forma de os solucionar, mas sentes que a dificuldade poderá ser exagerada. No entanto, tendo em conta que são os melhores momentos de Immortals, é compreensível que a Ubisoft tenha apostado tudo aqui.

Outro dos elementos de Immortals que terás de ter em conta são os diversos parâmetros da gestão do personagem, que te permitem melhorar Fenyx. Existem 5 tipos de parâmetros pensados para te incentivar a explorar a ilha para derrotar monstros e resolver puzzles, na esperança de obter itens que te vão tornar mais forte. As Moedas de Caronte são encontradas em baús e servem para adquirir perícias e poderes divinos (habilidades como abrandar o tempo quando disparas uma seta ou reduzir o Vigor gasto ao planar com as asas que Fenyx ganha ao salvar Eósforo), Ambrosia para aumentar a vida máxima, Raio de Zeus para aumentar o Vigor e correr ou escalar mais, recursos como âmbar dourado e romãs para fabricar poções com buffs e restaurar vida, e ainda os 4 tipos de fragmentos de Adamantina, que te permitem subir o nível das armaduras, arma ou carregar mais flechas. Parece demasiado para um jogo como Immortals.

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Gráficos

Jogamos Immortals Fenyx Rising na Xbox Series X em modo de Prioridade à Performance para desfrutar dos 60 fotogramas por segundo e por recomendação da Ubisoft, que nos explicou existirem problemas com o Modo de Prioridade aos Gráficos, que serão corrigidos a tempo do lançamento. Jogado na poderosa consola da Microsoft, Immortals Fenyx Rising é um jogo que consegue momentos muito belos, especialmente devido ao estilo artístico escolhido, como se quisesse assumir o aspeto de uma aguarela (novamente, mais um elemento que parece ter vindo diretamente do jogo da Nintendo). No entanto, apesar de ter descoberto momentos visuais muito belos, conseguindo-o distinguir dos demais jogos que usam o Anvil, Immortals Fenyx Rising não cumpre em pleno.

Existe um nível de transição entre detalhe agressivo quando percorres o mundo aberto, o que frequentemente resulta em momentos visuais básicos e em cenários que mudam à frente dos teus olhos. É um jogo repleto de elementos nos cenários da ilha marcada por zonas de flora e clima distintos, com locais incrivelmente coloridos, mas que perdem parte do apelo quando os vês a ganharem mais detalhe mesmo debaixo do teu nariz. No geral, Immortals Fenyx Rising é um jogo visualmente interessante, colorido e a frequentemente a lembrar um quadro, mas não é tão sólido quanto seria de esperar.

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Banda Sonora

A Uisoft Quebec decidiu recrutar uma das maiores estrelas da atualidade para a banda sonora do seu Immortals, Gareth Coker. Conhecido pelo seu deslumbrante trabalho, Coker é responsável por um dos mais gloriosos elementos nos dois jogos Ori e em Immortals Fenyx Rising faz algo muito similar. A sua sonoridade mantém-se e se jogaste os jogos da Moon Studios encontrarás aqui melodias muito similares. São temas que engrandecem a sensação de fantástico e aventura, encaixando muito bem num jogo como este.

Basta olhar para temas como Heart of a Hero e Feny’s Dawn para ficar com uma ideia dos sons que escutarás em Immortals Fenyx Rising. Nos Cofres de Tártaro, onde passarás imenso do teu tempo de jogo, a música torna-se minimalista e misteriosa para te deixar concentrar nos puzzles, funcionando quase como ruído de fundo, mas durante a exploração e cenas de história, o trabalho de Coker torna-se mais audível e marcante. É um dos elementos que dificilmente gerará críticas negativas.

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Uma amálgama genérica

No papel, Immortals Fenyx Rising tinha tudo para triunfar e dar à Ubisoft mais uma propriedade de sucesso, especialmente com o seu forte foco nos puzzles nos Cofres de Tártaro, de escalas variadas e alguns deles altamente exigentes. No entanto, ao copiar um jogo tão conhecido e ao usar o motor de outro jogo de igual renome, a sua posição fica estranha. É um jogo novo, com constante sensação de déjà vu, no qual não sentes existir algo seu. Além disso, se os puzzles conseguem ser interessantes, algumas mecânicas não cumprem e existem demasiados recursos para apanhar e gerir. Immortals Fenyx Rising é um jogo para um público muito específico e não consegue ser o triunfo que poderia ser.

Prós: Contras:
  • Ação e aventura com grande foco nos puzzles é algo diferente de ver
  • Grande liberdade na exploração da ilha
  • Alguns puzzles e Cofres são mesmo desafiantes e entusiasmantes
  • Abordagem bem humorada à mitologia Grega
  • Diversos momentos pouco convencionais na narração
  • A banda sonora tem temas fantásticos
  • Excelentes opções de acessibilidade que te deixam personalizar a dificuldade
  • Nem todos os Cofres de Tártaros são interessantes
  • Lógica das físicas nos puzzles nem sempre convence
  • Diversas missões banais
  • Sistema de stamina não tem impacto e nem parece ter lugar no design geral do jogo
  • Demasiados sistemas para obter e gerir
  • Picos de dificuldade nos bosses que te obrigam a procurar recursos para melhorar atributos
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