Hyrule Warriors: Age of Calamity review – A glória dos Musou

Foi preciso esperar 20 anos, mas a série Musou conseguiu finalmente transcender e através de Hyrule Warriors: Age of Calamity conseguir um AAA de Natal a chamar atenções em todo o mundo. Desde Dynasty Warriors 2 em 2000 que sou um devoto da série da Koei Tecmo, desenvolvida pela Omega Force, uma espécie de guilty pleasure ao qual recorro para desanuviar. São jogos cuja proposta “um contra centenas” significa gameplay extremamente acessível, dinâmico e momentos incrivelmente intensos. Ao longo dos anos, a série conquistou o direito a colaborar com propriedades como Dragon Quest, Attack on Titan, Fist of the North Star, Berserk, Persona, One Piece e até propriedades da Nintendo como Fire Emblem e The Legend of Zelda. Só falta mesmo Star Wars para a Koei Tecmo alcançar o panteão, especialmente porque é nas colaborações e no desafio de combinar o gameplay Musou com as especificidades de cada propriedade que a Omega Force evolui a sua série.

É compreensível que para quem assiste de fora, a série e colaborações Musou revelam um gameplay estagnado, mas isso não é verdade. Na série principal, as evoluções são menores e a passagem para mundo aberto em Dynasty Warriors 9 deixou muito a desejar. No entanto, através das exigências das colaborações, como Dragon Quest Heroes, One Piece: Pirate Warriors, Persona 5S e outras, a fórmula Musou eleva-se para novos patamares e torna-se incrivelmente divertida. Fica muito mais do que um mero martelar de botões, é um martelar de botões com grande estilo, cenas de ação espetaculares, intensidade no ritmo das tuas ações no campo de batalha e ainda mecânicas suporte que te fazem querer jogar mais e mais.

Ao longo dos últimos anos, os passos podem ser de bebé, mas estão a ser dados e a série torna-se cada vez mais dinâmica, com melhor ritmo, mais divertida, menos focada na conquista de espaços e disposta a apresentar um gameplay contínuo e fluído. Hyrule Warriors: Age of Calamity é especialmente importante porque é uma espécie de vingança dos Musou a nível mundial, com potencial para despertar o interesse de quem jamais olhou para um jogo do género. No entanto, existe um equilíbrio entre o efeito causado pelo nome The Legend of Zelda: Breath of the Wild e os esforços da Koei Tecmo em honrar esse nome com o seu gameplay.

História

Hyrule Warriors: Age of Calamity não é como a anterior colaboração entre a Nintendo e a Koei Tecmo, uma espécie de “best of” da série The Legend of Zelda cujo intuito é servir gameplay Musou com personagens como Link ou a famosa princesa. Aqui, a equipa de Zelda esteve muito mais envolvida no desenvolvimento e isto resulta num híbrido muito simplesmente poderoso, ao ponto deste ser um verdadeiro esforço híbrido e não uma concessão de propriedade para uso com consultores para guiar. Isto faz toda a diferença, desde o gameplay à história e nesse aspeto é fundamental. Age of Calamity nasceu da vontade de Eiji Aonuma contar de forma mais detalha a guerra que decorreu 100 anos antes e na qual Calamity Ganon triunfou sobre as forças de Hyrule.

Ao longo de Zelda: Breath of the Wild, viste vislumbres da mágoa de Zelda, a silenciosa inquietude de Link, os campões e as suas Divine Beasts que deviam ter poder suficiente para travar os esforços de Ganon e dos seus exércitos. Viste o desespero do Rei Rhoam e pequenos segmentos de uma batalha sangrenta na qual as forças do bem foram destruídas. Em Hyrule Warriors: Age of Calamity, sem qualquer spoiler, verás tudo isso e muito mais, em muitas e longas cutscenes que dão um tom altamente cinematográfico aos momentos que não estás a combater.

A presença de membros da equipa de desenvolvimento desse clássico da Nintendo Switch permitiu à equipa da Omega Force criar batalhas que se erguem acima do estilo tradicional Musou em níveis contidos, para implementar algumas batalhas épicas em mapas maiores, que te dão a sensação de pequenos mundos abertos ao estilo do que vimos em DW9. Em alguns níveis da história, até poderás ficar com a sensação que estás em Breath of the Wild e vais-te lembrar de passar por aqueles locais. Não quero mesmo partilhar spoilers, mas fiquei encantado com a história dos níveis principais, com o tratamento dos personagens e dado o íntimo envolvimento da Nintendo, tudo se sente natural pois os criativos são os mesmos.

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Gameplay

Apesar do contexto Musou numa pele de prequela para Breath of the Wild, combinação com tudo para dar certo, Age of Calamity conta com o envolvimento de Yosuke Hayashi (Ninja Gaiden 3, Nioh, Dead or Alive 6, Nioh 2 e outros) como produtor e Masaki Furusawa (veterano da série Musou e produtor do primeiro Hyrule Warriors) a liderar a equipa na Omega Force que colaborou com a equipa da Nintendo liderada por Eiji Aonuma. Isto significa que a Nintendo ajudou a traduzir na perfeição mecânicas como a Sheikah Slate para o gameplay Musou, que ganhou um ritmo e estilo eletrizantes graças ao talento dos 2 veteranos da Koei Tecmo. É uma combinação sensacional.

Com um design que alterna entre níveis mais contidos e outros mais épicos e abertos, este novo Hyrule Warriors deixa-te combater com diversos personagens (Link, o único que usa diferentes tipos de armas, Zelda, Impa, Revali, Urbosa e outras surpresas) e todas elas podem usar feitiços de elemento como Link usa em Breath of the Wild e as ferramentas da Sheikah Slate também estão implementadas no gameplay. As bombas, iman, bloco de gelo e cadeados que imobilizam estão aqui presentes como habilidades que podes usar e são necessárias em diversos momentos específicos para causar mais dano. Até a manta para planar foi implementada como ferramenta gameplay para prolongar combos.

A presença do produtor de Nioh significa o desejo de dinamizar e tornar ainda mais acrobático o sistema de combate, algo que é alcançado sem qualquer crítica a apontar. As referências a Breath of the Wild são incríveis (até podes cozinhar receitas do jogo para buffs antes de iniciar a missão), os monstros são os mesmos e existem boss fights muito difíceis contra criaturas familiares.

O gameplay básico de martelar botões, chegar a postos e conquistá-los, correr para determinado local e eliminar o boss ainda é a essência de Musou, mas a pele de Breath of the Wild e o estilo impresso nos combos ajudam a torná-lo num dos melhores do género. Podes desfrutar de elementos já padronizados como melhorar armas ou entrar em missões secundárias para ganhar itens extra e ajudar os habitantes de Hyrule, mas a base é a mesma, aquele frenético combate contra centenas de criaturas familiares que bem conheces.

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Gráficos

Esta é a única componente que poderá causar alguma discórdia entre os fervorosos adeptos de The Legend of Zelda que estão ansiosos por experimentar um novo Musou que até arrisca com níveis de design mais ambicioso. Hyrule Warriors: Age of Calamity foi desenvolvido com o motor altamente versátil da Omega Force, que já deu vida a jogos com estéticas visuais muito distintas, assistido por assets vindos diretamente de Breath of the Wild. É surreal olhar para Age of Calamity e quase sentir que estás a jogar esse jogo de 2017. Desde os efeitos, animações, inimigos, texturas e cores, tudo foi feito para te enganar e fazer sentir que é o mesmo motor de jogo. É um esforço genuíno e merecedor de elogios para assegurar continuidade visual, familiaridade e respeitar uma estética visual que mereceu rasgados elogios no jogo na origem deste.

Do ponto de vista visual, fiquei rendido a Hyrule Warriors: Age of Calamity na sua grande maioria, mas quando o joguei em modo dock, ligado à TV. Se jogares em modo dock, Hyrule Warriors: Age of Calamity alcança uma resolução suficiente para uma qualidade de imagem nítida, com cores vibrantes e quantidade de detalhes suficiente para tornar tudo muito envolvente e divertido. O pop-in é mínimo, a nitidez elevada e o ritmo espetacular. Quando jogas em modo portátil, a resolução desce imenso (não tenho valores, mas certamente muito abaixo da 720p do ecrã e a nitidez desaparece), o pop-in é contínuo e vês constantemente pedaços dos cenários a surgir a metros do teu personagem (até campos inteiros de relva). Junta-se a isto uma performance repleta de soluços e jogar Hyrule Warriors: Age of Calamity em modo portátil exige alguns avisos prévios.

Se optares por passar a maior parte do teu tempo a jogar na TV, terás uma experiência muito mais rica e confesso que raramente vi um fosso tão grande numa experiência Switch jogada em modo portátil e dock.

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Longevidade

Hyrule Warriors: Age of Calamity serve como prequela para Zelda: Breath of the Wild e isso não é algo que seja usado apenas como material promocional, a Nintendo honra esse estatuto. Existem mais de 2 horas de cutscenes espalhadas ao longo dos diversos capítulos da história principal, através das quais vês em pleno eventos da narrativa, disponíveis somente como fragmentos opcionais no clássico de 2017. Serão necessárias cerca de 15 horas para terminar a campanha principal, mas depois terás imenso para fazer.

A campanha principal e ver todas as cutscenes que contam o que aconteceu há 100 anos atrás e como as forças de Hyrule não conseguiram impedir a calamidade é um grande trunfo e atrativo, mas depois poderás repetir missões principais ou secundárias para obter novos itens e ajudar as pessoas de Hyrule. Em troca ganhas mais itens e poderás desbloquear novas roupas. Isto faz com que Hyrule Warriors: Age of Calamity ascenda às 40 horas de jogo e se quiseres mesmo elevar ao nível máximo todas as zonas de Hyrule, terás ainda mais horas de gameplay Musou.

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Um dos melhores Musou de sempre

Hyrule Warriors: Age of Calamity é um dos melhores Musou e não apenas por usar a propriedade Zelda, mas simplesmente porque vai muito mais além do que o primeiro teve coragem de ir. O forte foco na narrativa, comum às melhores parcerias Musou, é glorificado na forma de uma prequela para o clássico The Legend of Zelda: Breath of the Wild e o gameplay com o toque da Team Ninja faz com que esta simples proposta se torne eletrizante e divertida. Só mesmo o toque da Nintendo para tornar um jogo de nicho numa atração mundial.

Prós: Contras:
  • A história mostra-nos o que aconteceu na grande guerra de Breath of the Wild
  • Sistema de combate que combina Musou com as ferramentas de Sheika Slate
  • Banda sonora com temas empolgantes
  • Imensas missões opcionais
  • Combos fantásticos e bom design de níveis que o transformam num dos melhores musou
  • Qualidade visual fraca em modo portátil
  • Gameplay Musou continua sem ser para qualquer um
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