Marvel’s Avengers – Review – O Endgame merece uma melhor Infinity War

Após um Agosto marcado por diversas betas, o dia-A chegou finalmente e Marvel’s Avengers já se encontra disponível. Para um fã de comics que tem acompanhado as ambições cinematográficas da Marvel ao longo destes anos, o jogo da Crystal Dynamics e Eidos Montreal parece quase um sonho. Uma experiência de acção e aventura envoltas num forte contexto RPG fazem com que Marvel’s Avengers possa ser o Marvel Ultimate Alliance que sempre quiseste ter, mas não acreditavas ser possível. Já passadas largas horas a jogar, estamos prontos para apresentar uma primeira review que abordará o estado actual do jogo. Como sempre, falando de um “jogo vivo” pensado para ser melhorado e expandido a longo prazo, continuaremos a jogá-lo para acompanhar, mas este primeiro contacto é entusiasmante.

Se leste a nossa cobertura à beta, sabes que passamos de receosos a entusiasmados com este Marvel Ultimate Alliance mais cinematográfico e com mecânicas evoluídas. No entanto, ficaram dúvidas se a versão final estaria bem equilibrada, se o ciclo gameplay a médio e longo prazo enverga vigor, e se a performance está à altura das expectativas. Essas são algumas das coisas que abordarei nesta review, são tópicos que certamente despertam curiosidade e imagino que muitos se questionam se vale a pena comprar Marvel’s Avengers apenas pela campanha. Também querem saber certamente quanto tempo dura, quais são as actividades endgame existentes e se a gameplay se torna repetitiva.

O que posso dizer desde já é que Marvel’s Avengers está longe de ser um jogo incontestavelmente satisfatório. É um pouco inconsistente nos seus elementos, com coisas menos boas a fazerem-se notar. No entanto, a grande maioria é divertida, bem executada e visualmente espantosa, sobrepondo-se ao que há de menos bom. Sobre o gameplay, mais especificamente em relação ao sistema de combate, não senti que seja repetitivo, pelo contrário, é diversificado e respeita bem cada personagem de forma a diferenciá-los. Todavia, a estrutura de algumas missões e o uso de locais altamente similares em diversas actividades opcionais certamente causa esse efeito.

“É diversificado e respeita bem cada personagem de forma a diferenciá-los”

Mas vamos por partes, começando por abordar a campanha, algo que será incrivelmente importante para muitos dos interessados em Marvel’s Avengers e depois abordaremos o gameplay, o ciclo das actividades e o conteúdo end-game através do qual a Crystal Dynamics procura credenciais para se posicionar para o apoiar a longo prazo. Como referido, Marvel’s Avengers é uma experiência com fragilidades, mas acerta na sua grande maioria e quando sobe, voa esplendoroso e explosivo como se Thor tivesse soltado um relâmpago dos céus.

This content is hosted on an external platform, which will only display it if you accept targeting cookies. Please enable cookies to view.

Campanha

Nesta primeira fase da sua vida, a campanha de Marvel’s Avengers é o que de melhor encontrarás nele. Envergando o que parecem ser influências dos dois mais recentes jogos na série Uncharted, a Crystal Dynamics alterna entre níveis de elevado carisma cinematográfico e de tom linear, com outros mais abertos e que te mostram como serão os locais onde passarás o endgame. Com cinemáticas entusiasmantes que relembram constantemente o trabalho da Marvel Studios no cinema, Marvel’s Avengers brilha esplendoroso ao longo da grande maioria da campanha, que apenas é afectada por um ou dois momentos menos fulgurantes. Para alguns, aqueles que não lêem comics e encontram nos filmes as suas maiores referências, poderá parecer que Marvel’s Avengers tenta copiar os personagens das produções de Hollywood, mas convém ter em conta que, por muito boas que sejam estas caracterizações, não foi Robert Downey Jr. que inventou Tony Stark e a sua arrogância cool, isto como exemplo. Estas personagens existem há décadas e, apesar dos filmes terem contribuído imenso para renovar o seu apelo, a Crystal Dynamics teve outras influências.

O melhor exemplo disso é Kamala Khan, a jovem Ms. Marvel e a inesperada principal protagonista da campanha. Kamala é das melhores personagens criadas pela Marvel Comics ao longo dos últimos 10 anos e a versão da Crystal Dynamics é uma adaptação excelente, repleta de personalidade e apelo. Torna-se quase impossível não gostar de Kamala, da forma como representa os oprimidos, os que mais sofreram com o A-Day e que mesmo assim mantém a sua esperança e fascínio pelos Avengers. Kamala representa-nos a todos, a nossa paixão por estes personagens ao longo das décadas. Se é possível jogar com Iron Man, Hulk, Cap, Black Widow ou Thor na campanha, Kamala agarra com todo o mérito o destaque, por mais que os outros se esforcem para te conquistar. Os momentos com o Cap são brutais, o Iron Man de Nolan North é muito bom, tal como o Banner de Troy Baker. Laura Bailey, que recentemente deu voz a Abby em The Last of Us: Parte 2, dá voz a Black Widow e também ajuda a tornar a personagem mais carismática.

Tal como nos filmes, existem momentos espantosos e que despertam o geek que consome comics que há em ti. Isso é do melhor que podia ter sido alcançado, afinal de contas, este jogo é para nós. A temática que os maiores super-heróis do mundo podem tombar perante a sua arrogância e que, por um qualquer inesperado acto, qualquer um se pode tornar num herói é uma mensagem muito apelativa, muito bem enquadrada com o que seria esperar de um “comicbook game”. Assenta que nem uma luva e dei por mima vibrar com imensos dos momentos apresentados. Além disso, tirando um ou outro pico de dificuldade (relacionado especialmente com as secções de Black Widow) e um ou outro segmento, adorei esta campanha e ajudou imenso a colocá-lo entre os meus jogos favoritos de 2020, até à data. As cinemáticas e os diálogos repletos de referências aos comics, o belo mundo criado para suportar os planos a longo prazo da Crystal Dynamics, e estas carismáticas versões dos Avengers são apenas parte do pacote geral, assente num gameplay que me conquistou.

This content is hosted on an external platform, which will only display it if you accept targeting cookies. Please enable cookies to view.

Gameplay

Marvel’s Avengers é o mais recente filho de uma geração que banalizou o conceito de híbridos que rompem as convenções que existiram até o início desta geração. É um jogo de acção e aventura, com uma campanha cinematográfica repleta de grandes momentos, suportada por uma vertente cooperativa explorada através dos seus conceitos e mecânicas RPG, implementadas de forma a realçar o seu lado de jogo vivo. Imagina o que a NetherRealm Studios fez para os fighting games com Injustice 2 e terás uma ideia do que a Crystal Dynamics imaginou para os jogos de acção e aventura. Isto materializa-se num jogo que quase podia ser descrito como um beat’em up 3D ao estilo do que a SEGA fazia na década de 90, mas equipado com mecânicas RPG que introduzem equipamentos, XP, árvore de habilidades, buffs e ataques especiais.

Kamala Khan, Hulk, Black Widow, Thor, Iron Man e Cap, o elenco inicial de Marvel’s Avengers, controlam-se todos da mesma forma, com os mesmos botões para combos e habilidades especiais, mas todos eles têm uma sensação diferente e muito própria. Jogar com Kamala é desfrutar das suas habilidades elásticas que a servem nos combos, habilidades (como Transforma que a deixa ficar gigante durante algum tempo) e a percorrer os cenários. No entanto, ao jogar com Iron Man ou Thor, terás uma maior capacidade para atacar a longo alcance e intercalar com combos corpo-a-corpo de grande dinamismo. Além disso, estas duas personagens voam pelos cenários e o equilíbrio entre agilidade, mobilidade e facilidade de controlo alcançados neste jogo merecem elogios. Duas personagens poderosas que podem voar, planar e investir rapidamente sobre os inimigos, sem qualquer dificuldade em fazê-lo ou aprender os controlos. Além disso, o jogo está repleto de pequenos grandes detalhes, como arremessar Mjolnir contra um inimigo de menor porte e vê-lo a voar pelo cenário para o encontrar mais à frente preso ao chão e sem conseguir levantar o martelo.

“Arremessar Mjolnir contra um inimigo de menor porte e vê-lo a voar pelo cenário para o encontrar mais à frente preso ao chão e sem conseguir levantar o martelo”

São pequenos toques aplicados a todos os personagens e se Hulk é forte, terás de lidar com a sua maior lentidão, no entanto, é um tanque capaz de aguentar dano com o poder gama. Cap é incrivelmente ágil e mais susceptível a criar oportunidades takedown, relembrando Batman na trilogia Arkham Knight da Rocksteady, enquanto Black Widow é menos poderosa mas veloz.

marvel_avengers_iron_man

Esta espécie de beat’em up transformado em Action RPG torna-se ainda melhor com o desbloquear de novas habilidades, que aprofundam o elemento RPG e te tornam mais poderoso. Pegando novamente em Kamala como exemplo, ao desbloquear novas habilidades (com pontos de habilidade ganhos ao subir de nível com a XP obtida a derrotar inimigos), ganhas novos movimentos e alternativas para combos, enquanto as habilidades de mestria te permitem desbloquear buffs como activar regeneração de vida quando activas a habilidade Transforma (quando ela fica gigante). Estas mecânicas RPG e os buffs exigem um pouco da tua atenção, mas quando começas a evoluir as personagens e a desbloquear estas novas “ferramentas gameplay”, o jogo vai-se lentamente transformado com mais uma camada de profundidade. É essencial para as dificuldades superiores.

Além disso, como podes ver na galeria em cima, tens o nível de poder, ligado ao equipamento que obtens para cada personagem. Este equipamento tem diversos níveis de raridade, pode ser melhorado para desbloquear buffs, e tem nível associado. O teu nível máximo de poder é derivado de nível de cada equipamento e quanto mais poderoso ou raro, mais buffs terás e maior será o teu poder, o que te permite entrar em missões mais difíceis. Este poder está directamente relacionado com o nível dos inimigos e também determina quanto dano causas a cada um. No geral, em dificuldade normal, Marvel’s Avengers é bastante meigo e mesmo 5 níveis de Poder abaixo do dos adversários, conseguirás tirar dano à maioria dos inimigos com rapidez. No entanto, em nível Desafio 3 (inimigos com +15 níveis em relação ao teu), as coisas ficam mais complicadas. No entanto, será esta a tua “Infinity War”, repetir actividades para obter mais Gear, subir de nível e desbloquear habilidades e participar no “Endgame”.

O endgame e o seu ciclo

Como já referi, adorei a campanha altamente cinematográfica e repleta envolta em momentos memoráveis e adoro o gameplay de Marvel’s Avengers, especialmente graças a sensação forte de diferenciação ao jogar com cada personagem. Este gameplay divertido é o que te vai motivar a passar longas horas neste jogo e se a campanha dura cerca de 7 horas, será no endgame que a esmagadora maioria do teu tempo passará. No entanto, é aqui que começas a sentir o quão frágil é o ciclo gameplay e como o endgame actual precisa de actividades que permitam ao gameplay brilhar. Actualmente, Marvel’s Avengers não tem actividades que realmente valorizem o tempo que passas a jogar pós-campanha, a não ser pelo simples facto de gostar de esmurrar robôs da AIM e ajudar a SHIELD a recuperar a sua glória. O ciclo gameplay resume-se a entrar em missões nas zonas de guerra, com diversos objectivos diferentes, com uma equipa de jogadores ou amigos online, quando não queres aproveitar a boa ajuda dos aliados controlados pela IA.

Após devorar a campanha, fiquei mais do que entusiasmado em continuar a jogar Marvel’s Avengers nos conteúdos pós-campanha, que surgem na forma de uma continuação de alguns eventos, relacionados com a SHIELD. No entanto, após estas cinco missões, comecei a ficar sem actividades novas para fazer, o que me remeteu para a repetição de actividades em nível superior. Isto leva-te para os mesmos locais que já visitaste diversas vezes, onde repetirás tarefas e objectivos por diversas vezes e o ciclo gameplay não revela o merecido fulgor. O grind é relativamente ligeiro e subir o nível de poder não é muito difícil, mas ainda não parecem existir tarefas verdadeiramente diferentes no endgame que te incentivem a passar tempo a tornar melhor cada um destes personagens.

This content is hosted on an external platform, which will only display it if you accept targeting cookies. Please enable cookies to view.

Por mais divertido que seja subir de nível desfrutando do sistema de combate para obter mais habilidades e desbloquear buffs que mostraram evolução no gameplay que adoro, repetir actividades ou ter de me deslocar a novos locais apenas para aceitar novos desafios de facção são dos elementos mais comuns num jogo vivo. A Crystal Dynamics tinha a obrigação de lançar Marvel’s Avengers com actividades endgame mais diversificadas. Entendo que isto seja apenas o início e que existam poucos locais, mas o jogo precisa urgentemente de conteúdo para o qual sintas que valeu a pena passar tempo à procura de melhor equipamento, obter um nível de poder superior e actividades nas quais as tuas novas habilidades fazem a diferença. Níveis de dificuldade superior não o conseguem fazer, pelo menos não em pleno.

Vertente técnica e gráfica

Na sua grande maioria, Marvel’s Avengers ainda não se sente como um jogo totalmente coeso, parece um jogo dividido em duas metades. Tens a campanha, que pode ser encarada quase como um jogo singleplayer e depois tens, se quiseres, o endgame, com actividades que repetirás para obter novos equipamentos, fatos, habilidades, e até desfrutar de objectivos alternativos (que inevitavelmente te levarão para os mesmos locais e sentirás um déjà vú). Isto não é exclusivo de Marvel’s Avengers, é algo familiar nos jogos pensados para existirem a longo prazo, mas perante o que já foi feito no género, este novo jogo demonstra que não se interessou em aprender algumas lições. Na vertente técnica e gráfica, Marvel’s Avengers também se sente como um jogo dividido.

No seu melhor, especialmente nos níveis exclusivos da campanha e mais lineares, Marvel’s Avengers enverga um aspecto gráfico espectacular que torna ainda mais satisfatório jogar estas missões. No entanto, a qualidade gráfica é constantemente sacrificada para manter a performance em alta e sentirás que a resolução dinâmica trabalha freneticamente, ocasionalmente chegando a resultados assustadores. Este parece ser um jogo ambicioso que talvez só alcançará o seu devido potencial nas consolas de próxima geração ou no PC. Existem ainda arestas por limar nalgumas animações e erros por corrigir, mas no geral apenas me posso queixar da Carta de Habilidades, cujas recompensas não foram desbloqueadas por erro. A performance não causa distúrbios, tendo em conta o quão sacrificada é a resolução. É estranho ver momentos visuais tão espectaculares num momento e depois passar para outros locais banais e básicos.

“A qualidade gráfica é constantemente sacrificada para manter a performance em alta”

Conclusão

Marvel’s Avengers é o mais recente filho de uma geração que banalizou o conceito de jogos híbridos que rompem as convenções tradicionais. Se a Crystal Dynamics continuar com os esforços de polimento e optimização, tem o potencial para se tornar algo especial. A implementação de novas actividades endgame que o tornam verdadeiramente interessante e recompensador após terminar a campanha, através de actividades diferentes e divertidas que fazem brilhar este sistema de combate que tanto adoro, fará com que volte para actualizar esta análise com o selo de Recomendado. Por enquanto, Marvel’s Avengers é um jogo que apenas cumpre com parte do seu potencial. Fornece-te uma entusiasmante campanha, com um ou outro momento menos bom, mas que na esmagadora maioria é cinematográfica e sensacional, cuja vertente endgame de “jogo como um serviço” não te confere muitos motivos para permanecer aqui.

Prós: Contras:
  • Visuais surpreendem nos principais níveis da campanha
  • Forte dedicação à performance, mesmo que sacrifique em demasia os visuais
  • Sistema de combate simples de aprender e dominar
  • Sensação de diferença no controlo dos diferentes super-heróis
  • Imensas inspirações dos comics no sistema de combate, história e mundo
  • A narrativa da campanha é boa e resulta em momentos sensacionais
  • Loadings demasiado longos
  • Repetição de locais nas missões opcionais
  • Inicialmente poderá ser assoberbante aprender a gestão e menus
  • Ocasionais bugs visuais e animações
  • Conteúdo endgame precisa de novidades
  • Ausência de uma actividade endgame que dê verdadeiro valor ao grind
Share