WRC 9 – Review – Geração pré-híbrida

Com apenas três provas do mundial WRC disputadas antes da pandemia provocada pelo Covid-19, o campeonato do mundo de ralis tem neste momento um calendário revisto, devendo retomar as provas a partir de 4 de Setembro (este fim-de-semana), com o rali da Estónia. O restante calendário é composto pelo rali da Turquia, Itália e Bélgica. A logística de um campeonato do mundo de ralis é grande, pelo que vários ralis foram cancelados, entre os quais o rali de Portugal. A nossa prova, porém, deverá regressar para a próxima temporada, assim como o rali do Japão, cujo regresso estava previsto para 2020.

Em simultâneo com a retoma do campeonato do mundo de ralis, em moldes limitados por comparação com os anos anteriores, a editora Nacon publica o jogo oficial WRC 9, uma produção novamente a cargo dos franceses da KT Racing, que ao contrário do que sucede na realidade, mantém o campeonato do mundo na íntegra, levando os jogadores a experimentarem três novos ralis (Quénia, Japão e Nova Zelândia). Na década de noventa e na seguinte estes ralis integraram o mundial, mas acabaram preteridos por provas noutros locais. Para os conhecedores este é um regresso que se assinala com 35 novas especiais.

Ficamos já este ano a saber que a franquia WRC irá mudar de mãos muito em breve. O novo acordo com os responsáveis do evento prevê um contrato de cinco anos com a Codemasters, os criadores do famigerado Colin McRae Rally e actualmente programadores da franquia F1, com validade a partir de 2023 até 2027, o que deverá conduzir a uma diferença substancial face à produção que temos de momento, um esforço sempre louvável por parte da KT Racing tendo em conta as limitações orçamentais e a dimensão da equipa.

13 ralis estão de regresso ao WRC e com eles um conjunto de novas especiais

É justo deixar uma palavra de apreço pelos franceses que mantiveram ao longo destes anos um compromisso em proporcionar um tipo de condução algures entre o arcade e a simulação. O jogo WRC nunca foi um jogo incontestável e dominante na cena “racing”, mesmo quando andou por diferentes produtoras em décadas pretéritas e noutros formatos antes de ancorar na actual geração. Porém, nos últimos anos tem-se distinguido positivamente e acreditamos que nas mãos da Codemasters poderá conseguir o salto por que muitos fãs anseiam.

Três reentradas no campeonato do mundo

Para esta temporada, a KT Racing apostou no regresso dos três já referidos ralis (Quénia, Nova Zelândia e Japão), proporcionando perto de 35 novas especiais, campeonatos do mundo de ralis personalizados e uma melhoria ao nível audio, respeitante ao som dos motores. Não se pode dizer que sejam estas grandes mudanças de fundo. Em grande parte não vão encontrar diferenças muito substanciais face ao jogo do ano passado. O “gameplay” é bastante familiar, com alguns prós e contras, aos quais lá iremos já de seguida, e os modos de jogo, apesar das alterações pontuais, tendem a progredir em torno do mesmo.

Para começar, mantém-se um “tutorial” composto por um breve teste que se destina a avaliar as nossas aptidões. O resultado vai desde o principiante ao jogador experiente, com possibilidade para activar algumas ajudas como ABS e controlo de tracção. Configurado no patamar mais elevado de dificuldade, WRC 9 é um jogo exigente que pune facilmente e com grande constância os nossos erros. Requer uma jogabilidade discutida quase palmo a palmo, com uma leitura muito firme das notas para uma antecipação às curvas. O espaço entre as bermas é escasso, os carros aceleram rápido e é muito fácil perder o controlo, rodopiar, efectuar um pião e até capotar, em suma: perder preciosos segundos e cair abissalmente na classificação.

Contudo, ainda são manifestos algumas falhas de gameplay. Apesar das grandes melhorias ao nível da física, com bom desempenho de tracção consoante o piso sobre o qual assentam as rodas, o comportamento quase indomável do carro assim que pressionamos o acelerador, ligado a uma leveza que por vezes parece equipará-lo a uma folha de papel, torna mais complicado tê-lo em pista grande parte do tempo.

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A produção gráfica acaba por não acompanhar da melhor forma a razoável sensação de velocidade. Na PlayStation 4 detectamos algumas quebras de frame rate e algum screen tearing, o que manifestamente não favorece o desempenho do gameplay e grafismo. A caracterização das etapas é satisfatória, com aproximações significativas aos troços reais, mas por vezes a luminosidade parece criar um efeito sépia, descolorindo as paisagens, anulando a perspectiva de distância do horizonte. Em certos momentos, no entanto, é de assinalável beleza, se jogarem ao crepúsculo e até mesmo à noite. Mas do ano passado para esta edição, não há grandes diferenças. Quanto aos novos ralis, a caracterização tende a aproximar-se da realidade, mas ao fim de um par de etapas é como se todas fossem idênticas saídas de uma mesma mão. Falta mais diversidade e a espectacularidade dos locais emblemáticos. O salto de Fafe, na Lameirinha, por exemplo está lá, mas parece uma réplica algo barata destinada a mostrar um ponto no mapa e não tanto a proporcionar o ritmo vertiginoso da classificativa. Já as estradas serpenteantes, da Nova Zelândia, tendem a ser bem mais agradáveis, onde condutor e carro dançam ao ritmo da chuva. Uma óptima adição.

Manutenção da maioria dos modos de jogo

No que respeita às opções de jogo, o destaque vai para a gestão e desenvolvimento da própria equipa no modo carreira. Trata-se do modo mais extenso, que vigora por várias temporadas, desde os primeiros passos na categoria Junior WRC até à aclamação no WRC. A vertente de gestão e estratégia não é muito diferente do passado. Há toda uma organização em termos de pessoal e maquinaria a justificar um compromisso com a questão financeira, dependente dos patrocinadores que por seu turno derivam do sucesso desportivo. É toda uma estrutura assinalável, mas desta vez o destaque vai mesmo para a personalização do campeonato, onde podemos criar desafios e partilhá-los com outros jogadores via online. É uma fonte de mais algum divertimento, especialmente se jogarmos em toda a extensão da temporada.

Em alternativa é possível realizar a temporada respeitando as provas previstas no calendário, sem a opção gestão. Fora do modo carreira poderão optar por disputar classificavas ou até mesmo um rali, competir numa secção de testes, como havia nos antigos Colin McRae. Noutra extensão poderão participar em desafios específicos oriundos do modo carreira, com as suas próprias regras e desafios.

Quanto aos bólides presentes, para lá das habituais marcas que competem no WRC, com os seus carros oficiais devidamente pintados, os pilotos e co-pilotos reais, encontram os carros clássicos, belas máquinas de outros tempos, seguramente não tão rápidas como os actuais veículos mas bem capazes de surtirem emoções à moda antiga. Alguns proporcionam uma condução desafiante e não dispensam algum treino antes de tomar o cronómetro a sério.

Porque é disso que trata WRC, de uma luta permanente contra o cronómetro, uma melhoria nos tempos a reboque de uma sobreposição de risco, talento e coragem. A estrutura de WRC é fechada (os troços são cronometrados de ponto a ponto) e quase já a conhecemos de olhos vendados a sua composição. Nesta altura já se sabe que a colaboração da KT Racing irá terminar em breve. É com expectativa que se aguarda pelo trabalho da Codemasters, mas até lá os fãs ainda poderão contar com um jogo satisfatório, que sem tocar o brilhantismo de outros volantes replica com alguma assertividade e fidelidade os meandros do campeonato do mundo de ralis.

Prós: Contras:
  • Três novos ralis
  • Carros antigos funcionam bem
  • Modo carreira online
  • Componente audio (motora) reforçada
  • Irregularidades na jogabilidade
  • Grafismo sem grandes melhorias
  • Sem grandes alterações nos modos de jogo
  • Sensação de cumprimento de calendário
  • Repetição de alguns troços
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