NiOh 2 – Review – Como olhar para um espelho

Sequela sabe a expansão.

Tenta demasiado massacrar-te, mesmo que seja de forma artificial. Boas, mas escassas novidades no gameplay, e inexistente evolução gráfica.

Há três anos estava a descobrir uma das minhas experiências favoritas desta geração, um jogo chamado NiOh, desenvolvido pela Team Ninja, que te apresentou séries como Ninja Gaiden. Misturando o gameplay de Ninja Gaiden, incrivelmente frenético, estimulante e desafiante, com os conceitos e design celebrizados pela From Software na série Souls, a Team Ninja encantou ao transportar-te para o Japão feudal. O ADN da Team Ninja vibra com jogos de acção difíceis e NiOh parecia um sonho.

A implementação de mecânicas próprias como três posturas, pulso chi para recuperar stamina mais rápido, e inimigos com pontos sensíveis foram combinados com mecânicas implementadas pela From Software: usar pontos seguros para recuperar vida com a contra-partida que os inimigos renasciam, encontrar atalhos para facilitar o progresso, a necessidade de ir ao local onde fomos derrotados para recuperar a XP, e a possibilidade de escolher os atributos do personagem que queremos destacar ao subir de nível, originaram um sensacional híbrido. Nioh é um jogo electrizante e sensacional que nos incentiva a ser cada vez melhor.

Após a chegada do jogo, a Team Ninja desejou de imediato implementar novidades e melhorias, mas apenas o podia fazer numa sequela. Assim sendo, temos agora NiOh 2. Este é um jogo altamente similar ao primeiro, mas que introduz várias novidades para elevar a fórmula. Existem duas formas de encarar isto. Por um lado, é o suficiente para te deixar com um sorriso na face pois terás um novo massacre pela frente, mas também podes encarar a sua perigosa proximidade ao primeiro como um sinal de mínima evolução.

Expansão ou sequela?

NiOh 2 é um cuidadoso bailado coreografado com soberba matemática que exigirá de ti uma constante avaliação entre recompensa e risco. Essa é a essência desta série e foi o ponto de partida para a sequela. No entanto, apesar das novidades que foram implementadas, NiOh 2 está demasiado perto do primeiro em diversos aspectos, o que te poderá deixar com a sensação que não é propriamente uma sequela, mas sim uma expansão. Uma espécie de NiOh 1.5 através do qual a Team Ninja tenta elevar a fórmula que lhe valeu imensos elogios em 2017.

Uma das maiores novidades é a possibilidade de criar uma personagem original, através de um editor altamente profundo e competente. As possibilidades são mais que muitas (podes até criar uma mulher de cabelo azul, com madeixas vermelhas e barba amarela, por exemplo). A Team Ninja merece elogios pelo destaque conferido a este elemento e isto é importante pois ao contrário do primeiro, não tens um personagem fixo. Apesar disto, a história teve uma maior atenção e será mais satisfatória de acompanhar, especialmente porque decorre 50 anos antes do primeiro e vai atar de bela forma com os eventos do original.

Se estes elementos mostram NiOh 2 acima do que foi feito no primeiro, outros como a qualidade visual e a performance já nos deixam com a sensação que estás perante uma expansão, o tal NiOh 1.5. Em termos visuais, não parece existir qualquer evolução, NiOh 2 é um jogo visualmente datado, com texturas fracas. Apenas a iluminação e os personagens principais conseguem marcar pela positiva. Pior fica ainda essa sensação quando constatas que NiOh 2 repete demasiados inimigos do primeiro e que ao longo dos níveis repete exaustivamente os adversários, sejam humanos ou Yokai.

As novidades

A matemática encenação coreografada de acção masoquista em NiOh 2 é submetida a um inesperado acto de equilíbrio ao tentar mostrar de que formas implementa novidades em relação ao primeiro. Estarás constantemente a sentir que há tanto de novo quanto de comum. As principais novidades estão relacionadas com o facto do teu personagem ser um híbrido, um humano que se pode transformar em Yokai. Na maioria do tempo, jogarás na forma humana, com recurso a diversos tipos de armas e constante necessidade de adoptar uma postura diferente para contra-atacar melhor o inimigo específico à tua frente. O ciclo gameplay tornou mais difícil obter armas com elementos e terás de passar mais tempo à mercê do factor aleatório do loot ou da Casa de Chá Escondida (trocar glória por armas) para encontrar formas de obter armamento mais poderoso.

No entanto, quando enches a barra do teu Guardião Espiritual, poderás transformar-te em Yokai e durante alguns segundos ficarás mais forte. É mais um elemento a ter em conta na gestão do teu comportamento em NiOh 2, mas é um recurso limitado que poderá fazer toda a diferença. NiOh 2 vibra com a sensação que existe sempre um risco e recompensa, isso não mudou. Para aumentar essa barra, terás de eliminar inimigos ou usar habilidades Yokai, uma das novidade do jogo. Alguns inimigos derrotados deixam Núcleos de Alma que podes equipar nos Guardiões Espirituais e despoletar estas habilidades. São úteis, existem imensas diferentes, mas como tudo em NiOh 2, exigem um uso responsável.

nioh_2_boss Os bosses apresentam agora barra de stamina e quando a esvazias, ficam à mercê de um golpe brutal. Esta aura vermelha indica um novo tipo de ataque, que podes parar com um contra-ataque Yokai

Estas habilidades estão relacionadas com uma nova barra (roxa) e se abusares delas, ficarás sem a possibilidade de usar a nova mecânica Contra-Ataque Yokai. Quando os inimigos iniciam um ataque rodeados por um efeito vermelho, podes usar este contra-ataque para parar de imediato o que seria um golpe devastador. Num jogo tão enamorado com one-hit kills, isto fará toda a diferença. É uma das mais entusiasmantes novidades e que torna o gameplay mais dinâmico do que o primeiro. Além disso, as boss fights exibem outra novidade, uma barra de stamina.

Os bosses ganham uma nova profundidade com essa barra de stamina e, por vezes, poderás mudar o foco na sua barra de vida e orientar o teu comportamento para derreter a barra de stamina (ao mesmo tempo também vais tirando vida). Se conseguires destruir por completo a barra de stamina, ficam à mercê de um golpe devastador. Não é fácil, eles vão frequentemente invocar o Reino Yokai que força a tua stamina a regenerar lentamente e eleva para um novo patamar o conceito fundamental de NiOh 2. É pena que a grande maioria das boss fights estejam envoltas em artificialidades e numa sensação cheap. Poucas são verdadeiramente estimulantes.

Massacre Yokai

Apesar destas novidades que o tornam mais dinâmico e difícil, NiOh 2 está perigosamente próximo do original. Ao servir uma espécie de mais do mesmo para os masoquistas que se apaixonaram pelo primeiro, NiOh 2 não é necessariamente um jogo melhor do que o primeiro. Frequentemente sentirás que estás a jogar um jogo que poderia passar pelo primeiro e que a Team Ninja apenas se preocupou em massacrar-te, seja de que forma for. Nem que seja através de mesquinhas artificialidades para fundamentar aqueles momentos “quase”. Demorarás mais tempo para obter XP, será mais difícil obter melhores armas e passarás níveis inteiros sem obter peças de equipamento verdadeiramente melhores.

O gameplay está mais dinâmico, as habilidades e transformação Yokai (especialmente o contra-ataque) elevam a fórmula NiOh 2 para um patamar que merece respeito e a tua atenção. No entanto, o exagerado foco no massacre, mesmo sem argumentos para o justificar, artificialidades que tornam muito mais fácil forçar o teu erro (seja o forte foco em ataques que não podes bloquear ou um diferencial incrível entre o teu poder e o dos inimigos) em conjunto com o aperto no loot, fazem com que NiOh 2 seja realmente um jogo mais difícil, mas não de uma forma saudável.

nioh_2_yokai Agora podes transformar-te em Yokai durante alguns segundos e até usar habilidades Yokai ganhas ao adquirir a alma de Yokais derrotados, mesmo dos bosses.

Samurai Artificial

NiOh 2 aposta na mesma engenhosa e entusiasmante mistura de um gameplay vindo da série Ninja Gaiden, com os conceitos glorificados pela série Souls da From Software. No entanto, ao focar-se em levar-te facilmente ao desespero constante, a Team Ninja parece ter sido forçada a recorrer a mecanismos artificiais para tornar o ciclo de gameplay mais exigente e aumentar a dificuldade. Isto resulta numa experiência que é perigosamente similar ao primeiro e não necessariamente melhor.

Existem sinais de evolução em NiOh 2, como evidenciam as escassas novas mecânicas no gameplay. Se gostas do primeiro e no geral adoras as experiências incrivelmente difíceis da From Software, podes preparar-te para gerir a tua ansiedade e sentir que cada inimigo é uma espécie de boss. No entanto, não te admires se sentires que é mais desequilibrado e não tem argumentos para justificar a maior exigência. A Team Ninja tentou ao máximo equilibrar a experiência, tendo em conta os inúmeros parâmetros e mecânicas que terás de dominar e no geral, NiOh 2 permanece um jogo brutal e viciante. Simplesmente não consegue conquistar tão facilmente e justamente o teu respeito.

Prós: Contras:
  • A mesma constante gestão entre risco e recompensa
  • Mistura soberba entre a acção de Ninja Gaiden e a estrutura de um Souls
  • Algumas boss fights são verdadeiramente estimulantes
  • Sistema de criação de personagens profundo
  • Legendas em Português de Portugal
  • Perigosamente similar ao primeiro
  • As novidades no gameplay são boas, mas muito poucas
  • Evolução gráfica praticamente inexistente
  • Algumas boss fights incrivelmente cheap
  • Pouca variedade de inimigos, muitos deles vindos do primeiro
  • Exagerado foco no massacre, mesmo à custa da diversão
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