Journey to the Savage Planet – Review – Mundo à parte

Entrada de bandeira na ficção científica

Não é difícil entrar no planeta alienígena AR-Y26 sem nos abstrairmos das missões de Metroid Prime, a primeira vez que vimos Samus Aran explorar em 3D o fascinante e periclitante mundo, e até mesmo Pikmin e No Man’s Sky. No entanto, são jogos com peso e direcção substancialmente diferentes, ainda que atados por alguns pontos. Desde logo nos percursos disponíveis após a aterragem do nosso Javelin. A dimensão de AR-Y26 é impressionante, composta por montanhas, grutas e grandes superfícies onde abundam percursos e trilhos naturais num claro convite à exploração, por entre a imensa vegetação.

Basicamente, Journey to the Savage Planet é um jogo no qual predomina a exploração, numa jornada pontuada por notas de humor, cores esfuziantes e uma quase secundarização das armas e contexto de acção, sendo nesse ponto que acaba por divergir imenso de Metroid. Porém, isto não significa que estejamos perante um título desprovido de acção e todos os elementos que formam uma boa batalha. Há muitas criaturas alienígenas para enfrentar, encontrar, “scanear” e pontapear. Sim, ao começo é justamente por aí que somos convidados a afastar umas criaturas que mais se assemelham a “olharapos” com penas, como se fossem uma deriva imaginária das galinhas, as quais podem ser usadas para remover obstáculos.

1 Mundo luminoso e colorido

O resultado deste mundo claramente à parte é a sua extrema diversidade. As criaturas multiplicam-se, as possibilidades de interacção através da nossa única arma passível de melhoria fomentam momentos não só divertidos como desafiantes, a isto juntando-se uma experiência que prima pelo humor e pelo desafio. Não confundam este “shooter” 3D como outro desenvolvimento dos genéricos jogos de acção. Neste planeta a exploração, capitalismo e piadas andam de mãos dadas e isso acaba por fazer a diferença.

Para mais se tivermos em conta que tudo começou a partir de um pequeno estúdio comandado por três pessoas. Alex Hutchinson, com a sua experiência de Far Cry 4 e Assassin’s Creed 3, juntou-se a mais três veteranos, fundando o Typhoon Studios. Da fundação em 2017 ao anuncio do primeiro jogo, em 2018, foi um passo. A Google adquiriu o estúdio em 2019, no entanto Journey to The Savage Planet não integra a licença do Stadia, o que possibilita a presente edição na PlayStation 4.

Programa pioneiro pronto para lançamento

Nesta aventura a solo ou cooperativa, assumimos a pele de um novo recruta da Kindred Aerospace, uma empresa dedicada à exploração espacial e que tem como propósito a alternativa de condições de vida fora do planeta terra. A ideia não é nova, nem assume contornos por visitar, no entanto é o prospecto de exploração das condições que determinam se o planeta é passível de receber os humanos, ou não. No fundo somos como um intrépido explorador, a cumprir os desígnios de uma empresa.

A destacar as notas humorísticas com que somos brindados ainda na sequência de abertura, a bordo do nosso Javelin, uma poderosa máquina de viagem espacial que nos permite uma série de interações. O peso da aventura é enorme mal somos colocados no exterior da nave, quando começamos a completar as primeiras instruções.

2 As soluções de interacção são significativas.

Enquanto cientista, cartógrafo ou simplesmente explorador, acresce a função típica de um soldado, o equivalente a vigilância e luta pela sobrevivência perante o acto belicoso e hostil do alienígena. Congregando elementos de um “shooter” na primeira pessoa com a evolução de um jogo de role play na faceta do equipamento, este jogo não se arvora facilmente num género, nem se permite a grandes rótulos publicitários, mais forte em pontos interessantes da época dourada dos jogos de ficção científica. É uma experiência fluida, agradável, sem momentos mortos e não menos desafiante do que possa inicialmente parecer.

O equipamento de um nómada

À medida que progredimos adensam-se as perguntas. Há construções misteriosas naquele mundo por descobrir que suscitam a nossa curiosidade de cartógrafo mergulhado num território inóspito. Quando regressamos à Javlin, descobrimos que a mesma se encontra avariada, sobrando peças pelas imediações. Ao indispensável combustível para a viagem de regresso, que teremos de obter algures, ainda temos que recolher peças.

Na primeira pessoa, avançamos por onde há uma abertura, aos saltos ou agachados. As áreas são de tal modo vastas e recheadas de acessos que facilmente nos sentimos perdidos. Como se esperava, não temos um mapa, antes nos dedicamos a memorizar os acessos e pontos por onde podemos avançar. Isto pode parecer complicado, até porque cada vez que perdemos a vida voltamos a um ponto atrás. Mas também encontramos zonas marcadas por electrotransportadores, para uma viagem rápida a determinado ponto.

3 Há imensa fauna e flora a catalogar.

Não leva muito tempo até se obter o duplo salto, o que nos permite deslocar a outros níveis de verticalidade. Para além da possibilidade de efectuar “scan” ao ambiente, funcionalidade sempre indispensável e necessária ao progresso da campanha, acresce a utilização da Nomada, o único equipamento de combate à nossa disposição, dotado de várias funcionalidades e tipos de disparo.

Com a Nomada na mão direita, a esquerda serve para o transporte de alguns objectos peculiares e aqui também encontramos suficiente variedade: latas, bagos de atracção dos alienígenas e um modificador de superfície. Através da utilização hábil e inteligente destes meios conseguimos resolver a maior parte dos puzzles, progredir pelo mundo e até vencer algumas das mais desafiantes criaturas. O mundo não nos converte num herói de armas, nem está desenhado para esse efeito, mas há que sublinhar a dificuldade mais galopante nalgumas áreas, bem defendidas por alienígenas letais e onde é fácil perdermos a vida.

Criaturas de outro mundo

Embora o AR-Y26 nos pareça simples numa apresentação superficial, depressa descobrimos que há muito para explorar e que o que parecia pouco é afinal um mundo vasto, composto por vários “biomes” e ambientes. O desenho e trabalho artístico está marcado por uma simplicidade tremenda, mais parecendo um filme animado da Pixar, por vezes, do que uma construção elaborada e detalhada. No entanto, trata-se de uma arte bastante elegante, com um sentido em reforçar o realismo e a verosimilhança daquele mundo.

Habitado por uma mistura de criaturas mais ou menos avessas à nossa presença e investida de explorador, este planeta é uma óptima e bem concebida proposta de mundo alternativo no segmento dos mundos alienígenas. As criaturas são muito diversificadas, apresentam defesas e ataques vários e perante algumas só depois de um “scan” ficamos habilitados a perceber melhor como vencê-las.

De um modo geral, Journey to The Savage Planet é uma boa opção. É difícil inscrevê-lo nalgum género. Talvez tenha o lado role play mais saliente, mas é no vasto quadro dos representantes da ficção científica da época dourada, que pode receber o enquadramento mais adequado. É um jogo valioso por transmitir uma óptima sensação de divertimento e interacção, conjugado com uma óptima sensação de exploração. Além disso, o guião não é tão irregular e ainda sobra imensa curiosidade na descoberta levada a cabo no AR-Y26. Acompanhado por uma boa banda sonora e uma longevidade significativa atenta a dimensão das áreas, estão reunidas condições para uma produção a levar em conta neste começo de ano.

Prós: Contras:
  • Mundo alienígena vasto e dotado de imensas criaturas
  • Exploração labiríntica, sem apoio de mapas
  • Soluções ao nível da conjugação entre arma e objectos
  • Banda sonora
  • Argumento interessante e dotado de apontamentos humorísticos
  • Existe algum bactracking sempre que morrem
  • Algumas áreas com baixa resolução e menores texturas
  • Co-op dispensável
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