Astral Chain – Análise – Sinergia Apocalíptica

Astral Chain é o novo jogo da Platinum Games – uma das mais belas representantes da irreverência Japonesa, que perto de completar 12 anos de vida, está a passar por uma fase bem distinta da inicial. Em claro contraste com o alucinante ritmo dos primeiros anos, o susto sentido com Scalebound e o inesperado sucesso de NieR: Automata direccionaram estes criativos para um rumo de introspecção, no qual o novo sangue está a ganhar mais destaque e a Platinum Games procura descobrir como pode voltar a inovar e ir mais além. A missão é romper novamente o convencional, refrescar e ditar as novas referências nos jogos de acção/hack ‘n’ slash Japoneses.

Depois de uma parceria que resultou em jogos como The Wonderful 101 e Bayonetta 2, a Platinum voltou a colaborar com a Nintendo em Astral Chain e isso significa novamente um jogo inesperado, divertido e verdadeiramente singular, que te poderá fazer sentir que é uma espécie de continuidade das lições e experiências feitas em NieR: Automata. A Platinum Games sabe mesmo como criar um produto seu adaptado à consola e imagem de quem financia o projecto. Por outro lado, é mais uma amostra da nova Platinum, desejosa de investir em novas propriedades intelectuais e de experimentar.

Takahisa Taura, um dos principais responsáveis por Automata, do lado da Platinum, é o director de Astral Chain e mente de onde este conceito nasceu: um hack ‘n’ slash ao bom estilo de Bayonetta ou Metal Gear Rising, mas no qual controlas duas personagens ao mesmo tempo. Existem diversas formas de perceber que Taura foi inspirado fortemente pela excêntrica visão artística de Yoko Taro em Automata. Seja no cenário pós-apocalíptico, na pequena criatura metálica que te acompanha e não se cala, no quão inesperadas são algumas mecânicas e pelo enredo que questiona constantemente a existência de um indivíduo e o seu papel na sociedade na qual está presente. Causa, consequência, efeito, inevitabilidade e coisas dessas.

“Astral Chain vibra com o energético gameplay característico dos jogos da Platinum”.

O que resta da humanidade vive numa cidade chamada Ark, onde enfrentam as quimeras vindas de outro plano astral e o que os estão a matar. Para derrotar estas criaturas, os humanos criaram a NEURON, uma organização que recruta talentosos polícias para lutar ao lado de Legions – quimeras domadas através da ciência. Tu serás um de dois irmãos que foram recrutados devido à sua capacidade nata para domar um Legion e porque a humanidade está mesmo nas últimas horas da sua existência.

Nessa sua perseguição por novas formas de tirar o género hach ‘n’ slash dos seus moldes habituais, a Platinum faz com que Astral Chain se divida essencialmente por três partes, todas elas feitas com grande estilo e repleto de momentos adoráveis. Cada capítulo começa na sede, onde poderás falar com outras personagens, melhorar os teus Legion (existem 5 com características, combos e habilidades próprias), melhorar o teu equipamento e personalizar o teu personagem (uma novidade na Platinum, mas nada de muito detalhado). Quando estiveres pronto, sairás da sede e após um loading serás colocado num local de Ark onde uma ocorrência estranha decorreu. Aqui terás de investigar.

Existem zonas de diferentes tamanhos e escalas completamente diferentes, mas em todas terás missões secundárias (na sua maioria muito simples e muitas delas aborrecidas, ocasionalmente uma ou outra adorável) e será necessário descobrir pistas para encontrar a porta para o plano astral onde a quimera em questão está escondida. Esta inesperada faceta de Astral Chain conquistou-me por completo e, além de quebrar o ritmo e tirá-lo do esquema básico de menu, loading, nível, loading e novamente menu, permite à Platinum Games explorar o lado mais humano e até fascinante de Astral Chain.

Ao contrário do que esperava, os segmentos hack ‘n’ slash não foram incontestavelmente o melhor de Astral Chain. Estas secções em Ark, com as investigações e inesperadas situações, deram margem para a Platinum aprofundar este mundo, de debater questões sociais actuais de uma forma válida neste mundo e mostra que querem ser mais, que simplesmente repetir o processo e padrão de 2009 já não chega. Mesmo vindo do novo sangue, Astral Chain é uma pertinente ponte entre o legado do estúdio e o futuro.

“As secções de investigação rompem com o padrão do género e são bem interessantes.

Em termos do gameplay hack ‘n’ slash, o que isto significa é que apesar da ausência das poses sensuais e provocadoras de Bayonetta (nem sequer esperes ver as suas piadas ou insultos) e sem a violência visceral de Metal Gear Rising ou MadWorld, Astral Chain é sem dúvidas um título da Platinum Games. O mesmo hack and slash veloz como um relâmpago, os combos vistosos e as mecânicas frenéticas estão todos aqui. A grande ousadia cometida em Astral Chain é mesmo a aposta em dois personagens como se fossem um só, criando uma sinergia acrobática.

Consoante progrides no jogo, ganharás até 5 Legions que não só te ajudam nas investigações, como fazem parte do teu conjunto de movimentos e combos. As duas personagens agem como se fossem uma só e apesar de ser possível deixar a IA artificial controlar o Legion para atacar sozinho, podes mantê-lo ao teu lado e os dois respondem aos teus comandos em sintonia. A característica esquiva que abranda o tempo não podia faltar e apesar de inicialmente o grande número de acções possíveis resultar em dificuldade em decorar os controlos, passadas algumas horas estás a jogar sem dificuldades.

O lado hack ‘n’ slash de Astral Chain é tão bom quanto seria de esperar da Platinum. O que mais surpreende é o quão natural e fluído se sente controlar dois personagens ao mesmo tempo como um só (com algumas excepções causadas por uma câmara ocasionalmente incompetente, seja na exploração ou nos combates). Cada Legion tem uma habilidade especial, podes activar extensores de combos em momentos específicos e o bailado de golpes consegue ser majestoso. Perante alguns bosses, Astral Chain floresce e exige que jogues numa dificuldade superior à padrão.

1Os momentos de investigação são inesperados e uma grande parte da alma deste jogo

Precisei de perto de 25 horas para terminar Astral Chain e além da qualidade gráfica inconsistente – alguns locais e elementos dos cenários têm melhor qualidade do que outras, enquanto outros cenários são demasiado básicos – apenas senti que o sistema de câmara precisa de melhorias. Frequentemente, ficava sem ver o que se estava a passar e, quando estás num plano astral onde o cenário é quase todo vazio, é porque a câmara se está a esforçar para ser má. Em locais da Ark, as coisas pioram. Além disso, nem penses em jogar na dificuldade padrão, a Casual, opta logo pela dificuldade Platinum, caso contrário, o jogo fica horrivelmente banal e sem dificuldade ou entusiasmo.

Astral Chain é sem dúvidas um jogo da Platinum Games, mesmo sem a sensualidade de Bayonetta, electricidade de Metal Gear Rising, testosterona de Vanquish ou o descaramento de NieR: Automata. Está repleto da entusiasmante energia e irreverência como só estes Japoneses conseguem. Um jogo no qual procuram implementar novas ideias, experimentam com o género hack ‘n’ slash e o tentam elevar a novos patamares. O resultado é um jogo que quebra com os moldes convencionais, especialmente com as investigações e no controlo de duas personagens como uma só – um bailado sinergético. Existem alguns problemas e nem em todos os elementos conseguem manter-se no patamar desejado, mas não existem dúvidas que a Platinum Games acabou de dar à Nintendo Switch um dos seus jogos mais especiais.

Prós: Contras:
  • A irreverência Platinum Games, mesmo que mais contida
  • Controlar duas personagens como uma só é divertido
  • Adoráveis e inesperados momentos na sede e nas ruas de Ark
  • A banda sonora é verdadeiramente sensacional
  • Os 5 Legion permitem desfrutar de diferentes habilidades e combos
  • Dificuldade extremamente baixa
  • Qualidade gráfica inconsistente
  • Problemas na câmara
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