Dead or Alive 6 – Análise – Mais do que um guilty pleasure

Dead or Alive 6 representa a oportunidade de voltar à polémica série da Koei Tecmo e Team Ninja que, perante os olhares exteriores, permanece como uma estranha propriedade focada unicamente nos decotes e poses sensuais das mulheres que lutam nestas arenas. Jogar um jogo desta série em 2019 representa uma inesperada e refrescante sensação pois ao refinar a sua experiência sem perder os seus valores, Dead or Alive 6 mostra que existe espaço para si e é ainda mais divertida.

Quem se tornou fã da série, por esse ou por outro motivo, descobriu que existe mais do que isso, existe muito mais aqui do que meros seios saltitantes – existe um gameplay furioso e incrivelmente acessível, mas que ainda assim enverga profundidade suficiente para te desafiar. Em Dead or Alive 6, a Team Ninja trabalhou para equilibrar ainda mais essa acessibilidade com mecânicas e sistemas que o tornam mais explosivo.

Num gameplay tão aparentemente simples, é um esforço de equilíbrio delicado que poderá facilmente puxar o jogo para um dos lados da balança e descaracterizar a alma da série e talvez seja ao constatar que esses esforços resultaram que senti uma enorme diversão em Dead or Alive 6. As mulheres sensuais continuam aqui presentes, a roupa que se rasga ou destrói permanece e existem imensas poses sensuais, mas o gameplay está ainda mais divertido e tornou-se no elemento principal.

O sistema triangular que caracteriza a série Dead or Alive e lhe permite envergar um gameplay altamente acessível, mas repleto de mecânicas para contra-atacar ou destruir o previsível martelar de botões, é glorificado com a agilidade dos personagens – existe espaço para estratégia e é imprescindível não cair em padrões previsíveis. Dead or Alive 6 pode ser encarado como um aprimorar dos valores nucleares desta série, um fighter sensual onde 24 personagens te dão acesso a diversos estilos de luta com os seus prós e contras.

Se vais encarar Dead or Alive 6 como um fighter tontinho que apenas serve para ver seios a abanar, podes esquecer. Como referido, a Team Ninja não esconde o que a série é, mas afina o gameplay para que os combates se tornem no seu maior valor. O resultado é um jogo que, apesar de muito igual a si mesmo, me continua a divertir como há muito não me divertia nesta série.

“Existem algumas arestas por limar, mas ao investir em melhorias sobre o dinâmico ADN da série, Dead or Alive 6 torna-se num jogo altamente divertido.”

O extenso, mas confuso Story Mode (a narrativa episódica tem momentos interessantes para o lore da série, mas os constantes saltos no tempo e interrupções estragam a execução), o Arcade Mode, Survival e Time Attack cumprem bem para te manter ocupado. No entanto, é o modo DOA Quest e os modos para aprender a dominar os personagens que mais impacto causam.

Em DOA Quest tens aceso a mais de 100 desafios, nos quais tens 3 objectivos diferentes em cada um. Alguns obrigam-te a enfrentar diversos adversários e se cumprires com o que é pedido (3 Throws ou 5 Hi-Counters, por exemplo), recebes dinheiro para comprar itens de personalização, músicas, títulos, partes para desbloquear fatos e até acessórios. Este é um dos modos mais interessantes do novo Dead or Alive 6 e onde passei a maior parte do meu tempo.

Além destes modos offline, terás ainda o Combo Challenge, Training e Tutorial, que te ajudam a dominar cada um dos diversos personagens. A Team Ninja aplicou-se para reforçar a imagem de Dead or Alive 6 como um fighter com qualidades e méritos, fortemente evidenciado pelos modos offline. Muitos vão reparar de imediato na falta de um Tag Mode, o que é uma pena, mas os modos aqui presentes compõe um bom pacote.

Em todos estes modos, desfrutarás daquele gameplay incrivelmente veloz e acrobático, mas a Team Ninja premeia quem explora a profundidade que existe e recompensa quem vai além do óbvio. Além disso, seguindo o exemplo de outras séries, Dead or Alive 6 recebeu uma nova mecânica devastadora – chamada Final Rush. Quando enches a Break Gauge, poderás desencadear dois tipos de ataque devastadores – os Fatal Rush e os Break Blow (que bem aplicados podem fazer a diferença).

Um Fatal Rush poderá colocar o adversário em Fatal Stun e a maioria dos jogadores poderá aplicar golpes rápidos nesta janela de tempo em que o adversário fica exposto. No entanto, os mais avançados vão usar isto para ir mais longe e prolongar os seus combos e engenhoso acto de quebrar o expectável padrão de movimentos e alternam cuidadosamente entre golpes. Dead or Alive 6 poderá tornar-se num jogo inesperadamente táctico em alguns combates. Optar pelo Break Blow permite aplicar um devastador movimento visualmente espectacular e que destrói roupas ou acessórios (os personagens continuarão a luta exibindo as mazelas ganhas nesse golpes).

O sistema triangular foi reforçado com estas mecânicas de suporte que vibram com a elevada dinâmica dos combates, mas, como sempre, existem riscos e contra-partidas a ter em conta. Acredito que estas novidades e o refinamento do gameplay característico tornaram Dead or Alive 6 num jogo forte e muito divertido de jogar. Altamente familiar, mas fortemente energético. Existem ainda mecânicas como o side-attack e os cenários com partes que se destroem e dão acesso a novos locais que se tornam em mais armas a explorar. Nada é assim tão simples como muitos podem pensar.

Um dos elementos de maior destaque é a qualidade gráfica – a Koei Tecmo apostou na qualidade dos cenários, nas explosões e até concebeu locais que beneficiam o tom eléctrico do gameplay – muitos combates podem terminar em em menos de 30 segundos. Os personagens surgem altamente detalhados, muitos cenários estão repletos de pontos que os tornam mais orgânicos e, no geral, Dead or Alive 6 é um jogo bonito de ver, com uma performance que cumpre. A Team Ninja esmerou-se nos personagens e faz com que Dead or Alive 6 se torne num dos fighters 3D com melhores gráficos nesta geração.

1A sensualidade ainda reina em Dead or Alive 6, mas o sistema de combates assume o papel de destaque – tal como deve ser.

Como referido, Dead or Alive 6 tornou-se em algo superior a um guilty pleasure. Tornou-se num jogo divertido que, apesar de não reduzir na sensualidade como inicialmente alguns temeram, a tornou num elemento da sua personalidade e não no seu destaque. No entanto, ainda existe espaço para melhorias e o modo Online Rank – uma das formas de prolongar a sua longevidade, é uma prova disso. Não existem lobbies e as ligações nem sempre correspondem à qualidade inicialmente indicada. Frequentemente, terás de enfrentar uma espera perto de 1 minuto entre procurar jogo e começar a jogar, o que poderá tornar a experiência pouco fluída. A Team Ninja tem algum trabalho pela frente aqui.

Dead or Alive 6 mostra que a Team Ninja não tem qualquer problema em manter a essência da série, pelo contrário, abraça-a por completo. No entanto, a sensualidade é apenas uma parte da sua personalidade e está longe de ser o seu único apelo. A equipa refinou o gameplay, manteve-o acessível ao ponto de martelar os botões ainda ter efeito, mas quem se dedicar a valer descobrirá como facilmente destruir essa estratégia. O sistema triangular assegura que apesar de explosivo e frenético, existe alguma ordem e equilíbrio no meio do caos. Visualmente belo, altamente acessível e igual à sua identidade, Dead or Alive 6 figura como uma das melhores entradas na série.

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