Astrobot – Análise – Uma aventura a 360°

Astrobot eleva a realidade virtual a níveis estratosféricos com uma aventura criativa, original e repleta de carisma.

Ia eu apenas no mundo 2 de Astrobot e já estava completamente rendido ao jogo. Como é possível um título VR conter tamanha genialidade? Assim que derrotei o boss final, não pude mesmo conter um sorriso de alegria. Astrobot é, neste momento, o melhor jogo para a realidade virtual e a melhor mostra possível para a esta tecnologia. Sei que esta é uma afirmação forte e perigosa mas o jogo fala por si e o empenho que nele foi depositado é inegável. E isto aplica-se a um sem-número de campos, indo desde a fluidez dos controlos, passando pelos gráficos absolutamente deslumbrantes e terminando com a banda sonora frenética e em constante mutação, reminiscente do disco dos anos 80.

Durante muito tempo, achei que jogo algum para VR jamais destronaria Moss. Desde que joguei a épica epopeia da pequena ratinha, Moss tornou-se, para mim, o jogo padrão com que mediria a qualidade de todos os jogos de realidade virtual subsequentes. E apesar de Moss continuar a ser uma valente pérola no catálogo do PSVR (se ainda não o jogaste, recomendo vivamente), Astrobot adopta muitas das suas mecânicas e eleva-as a um nível estratosférico que farão qualquer céptico da realidade virtual repensar na sua posição face a esta tecnologia.

“Nunca vi um uso tão inovador da VR”.

Como? Bem, em ambos os títulos jogas simultaneamente com duas personagens. No caso específico de Astrobot tens, obviamente, o pequeno robot que nos foi introduzido em The Playroom e que controlas de forma tradicional, com os botões e joystick do DualShock; mas tu, dentro do capacete VR, interpretas também o papel de um robot, mais activo do que podes estar a imaginar: para além de usares a tua cabeça (literalmente) para partires diversas paredes e plataformas, soprar dentes de leão ou combater inimigos cabeceando uma bola de futebol contra eles, terás também de usar o touch do comando para lançar ganchos, luzes, água, entre outras funcionalidades para prosseguires pelo nível.

Confesso que nunca vi um uso tão inovador da VR, confesso, e esta dualidade causa momentos verdadeiramente desafiantes e repletos de adrenalina. Em fases posteriores de Astrobot, verás que não é assim tão fácil controlares o pequeno robot ao mesmo que tempo que te desvias de balas e de outros itens que os vilões cospem contra ti. O teu visor vai partir, os inimigos vão esparramar-se contra ti e, por vezes, lançar uma gosma que obscurece a tua visão: e é impossível não ficares boquiaberto com estes pequenos detalhes do jogo que o dotam de uma ponta à outra.

Este é um jogo que coloca a realidade virtual como prioridade máxima.

Assim sendo, é mais do que óbvio que este é um jogo que coloca a realidade virtual como prioridade máxima. Nos cinco mundo presentes em Astrobot e respectivas bosses, não há um único nível que não faça um uso exemplar da tecnologia, brincando com a perspectiva e o teu ângulo de visão. Todos os ambientes do jogo são construídos em teu redor e tens, literalmente, que olhar para cima, para baixo, para a esquerda e para a direita de maneira a controlar o pequeno robot mas também na tua busca pelos 8 robots que estão escondidos algures pelo nível, por vezes nos locais mais estranhos possíveis. São 360° de dezenas de mundos densamente detalhados onde os torcicolos são mais que propícios (falo por experiência própria)! E se isto não é um bom uso da realidade virtual, então não sei o que é.

Tratando-se de um jogo de plataformas para VR, irás atravessar os tipos de níveis que é costume vermos neste género de jogos: tens o típico nível na praia, na lava tórrida, numa caverna subterrânea ou no Japão feudal; mas o jogo mantém-se especialmente fresco e genial quando te coloca nos locais mais inusitados possíveis, como um parque de diversões aéreo, um cemitério assustador ou num nível particularmente criativo em que és engolido por Jonas, a baleia. Existe uma variedade de ambientes tão grande e cada um possui alguma mecânica ou engenhoca que o torna verdadeiramente único, fazendo de Astrobot um jogo altamente gratificante.

E não estou a exagerar quando digo que Astrobot possui os gráficos mais belos que já vi num jogo VR; arrisco-me a ir mais longe e afirmar que o jogo possui gráficos bem mais interessantes que muitos títulos “tradicionais” que estão actualmente disponíveis no mercado, algo especialmente marcante quando temos em conta as limitações técnicas da realidade virtual. Em mais do que uma ocasião, dei por mim parado, a apreciar o mundo à minha volta – tudo está tão incrivelmente detalhado e a água, em particular, é de tal maneira realista que me fez esquecer que estava a jogar um jogo.

Como se isso não fosse suficiente, o jogo vem acompanhado de uma banda sonora contagiante que se vai alterando consoante o nível em que estás, adquirindo tons mais hawaianos, rock ou “funerários”.

Portanto, Astrobot é um jogo obrigatório – não há como enganar – e terias de carregar um coração de pedra no peito para não gostares remotamente deste exclusivo. Assim que ouves os gritos agudos e nervosos dos 8 robots a clamarem “HELP ME!”, é impossível não ficares ligeiramente preocupado mas igualmente divertido. Nenhum nível é igual ao anterior e novas mecânicas e situações estão constantemente a ser atiradas na tua direcção: num momento, estás a usar o touch do comando Dualshock para atirares estrelas chinesas contra bambu; de repente, estás a trepar o braço de um robot gigante de aparência gentil; e existe ainda uma secção específica num carrinho de minas à lá Subway Surfers onde tens que te desviar ou saltar por cima dos obstáculos. Gostava de enumerar cada momento do jogo mas isso não seria justo por duas razões: por um lado, iria demorar uma eternidade para o fazer dada a quantidade de momentos especiais presentes no jogo; por outro lado, seria muito injusto da minha parte roubar-te a alegria de os descobrires e experimentares por ti mesmo!

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Felizmente, existe conteúdo mais que suficiente para te manter entretido durante umas boas horas: em cada mundo de jogo, tens 8 adoráveis robots escondidos que tens de resgatar e que serão um desafio para quem gosta de platinar um jogo a 100%. Para além disso, cada nível contém também um camaleão escondido extra que desbloqueia mundos especiais, mais difíceis e cronometrados. É importante notar que o jogo começa de forma fácil mas vai ficando progressivamente mais difícil obrigando-te, em fases posteriores, a uma precisão e timing praticamente perfeitos. Na boss final, morri um sem-número de vezes e, quando o derrotei por fim, reparei que tinha as mãos a tremer e ligeiramente suadas.

Claro está, o jogo não está inteiramente isento de falhas. São poucas, na minha opinião, mas poderão ser bastante intensivas e deixar alguns jogadores de pé atrás. Por um lado, não tens qualquer controlo sobre a câmara, que vai deslizando automaticamente para a frente à medida que fores percorrendo o nível e chegando a determinados checkpoints. Para quem não consegue lidar fisicamente bem com o VR, esta poderá ser uma questão a considerar mas, felizmente, não é tão grave como já assisti noutros títulos e rapidamente te habituas. Exceptuando os pequenos movimentos que podes executar com a cabeça e com o teu corpo, não existe muito que podes fazer neste campo; como consequência, em certos ângulos do jogo, pode ficar difícil discernir o local para onde podes saltar ou movimentares-te sem caíres mas, felizmente, o jogo é bastante misericordioso com o respawn do pequeno robot.

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Astrobot merece uma posição no panteão de mascotes da Sony, ao lado de Kratos e Nathan Drake.

Para terminar, acho que é mais do que óbvia a minha afeição por Astrobot e tiro o meu chapéu (ou capacete VR?) à Japan Studios e à Sony na criação de uma aventura realmente original e tão próxima da perfeição. É complicadíssimo traduzir por palavras todas as sensações causadas por um jogo como este, especialmente quando tens o pequeno robot a saltitar à tua volta de plataforma para plataforma e, por vezes, a acenar-te de forma tão alegre e enternecedora. São estes pequenos detalhes que dão vida e um carisma megalómano a Astrobot – e, por extensão, uma posição mais que merecida no panteão de mascotes da Sony, ao lado de Kratos e Nathan Drake.

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