Battlefield 5 – Análise – Teatro Bélico

Existem actualmente muitos jogos de guerra, mas nenhum deles consegue replicar tão bem a confusão e caos que existe num campo de batalha como a série Battlefield. Até agora, a propriedade da DICE permanece como a única opção para quem quer um jogo de tiros que decorre em mapas grandiosos e em que não podes tomar nada como garantido. Se estás escondido num edifício, existe sempre a possibilidade de alguém explodir com ele e tu perderás a vida inesperadamente entre a explosão e os destroços. Também podes ir a correr num mapa e ser bombardeado por outro jogador num avião, num ataque ou noutro veículo de guerra. Podes morrer para um sniper num ponto distante do mapa e nem percebes de onde é que a bala veio. Esta é a realidade de Battlefield e até hoje o que acabei de descrever permanece como o pilar central da série.

Battlefield 5 não se afasta destes princípios, e contrariamente a algumas críticas infundadas de internautas zangados, não se transformou em Call of Duty nem em algo parecido. Ainda há pouco tempo estava a jogar Black Ops 4 e o salto para Battlefield 5 é chocante. São jogos completamente diferentes e que nos obrigam a ter posturas distintas. Onde quero chegar é que o ADN característico de Battlefield foi bem preservado, mas também dá para reparar que a DICE esforçou-se para aprimorar a fórmula, implementando novidades que, embora não sejam uma revolução, são boas adições. Por outro lado, é um jogo com algumas frustrações e que precisa de ser afinado. Este é o plano da DICE, isto é, continuar a adicionar novos conteúdos e actualizações durante os próximos meses. É uma abordagem que condiz com a realidade actual, em que os jogos são cada vez mais um serviço do que propriamente um produto final.

Depois de longas horas empregadas sobretudo no multijogador online (estamos a jogar desde 9 de Novembro), tornou-se evidente que a DICE tem uma visão para a forma como Battlefield 5 deve ser jogado, mas nem sempre o comportamento dos jogadores corresponde a essa visão. O jogo está mais talhado para os esquadrões e para trabalho de equipa. É para isso que existem as quatro classes, que tens de escolher antes de cada partida (mas podes trocar a meio, antes de fazeres respawn). As quatro classes são Assault, Recon, Support e Medic, e cada uma tem armas e habilidades específicas. No campo de batalha, sentes de facto a necessidade que cada uma destas classes cumpra o seu papel. Quando há sinergia entre a equipa, Battlefield 5 é glorioso, mas em modos com 32 jogadores em cada equipa, é complicado encontrar essa sinergia.

As classes de Assault e Recon são bastante directas e fáceis de perceber. Assault é uma classe para quem gosta de atacar e tem acesso a uma grande variedade de rifles automáticas e semi-automáticas, enquanto Recon é a classe para snipers. Existem rifles que com uma mira telescópica e as especializações correctas podem ser altamente eficazes a longas distâncias, no entanto, a classe Recon tem vantagens específicas para o uso de uma Sniper, como mais estabilidade mediante o tempo que passas a olhar pela mira. Mas é na classe de Support que encontramos a maior novidade. Esta classe consegue construir fortificações, o que além de ser útil para a equipa se proteger, traz uma nova dinâmica para os mapas. Já os Médicos, a sua função é reanimar os companheiros caídos em combate. Qualquer classe consegue reanimar os companheiros, mas a classe de Médico tem a vantagem de reanimar de forma mais rápida.

Se jogaste Battlefield 1, as classes de Battlefield 5 serão familiares, mas vais sentir que estão mais especializadas e que já não são tão maleáveis. A classe de Médico é a mais afectada devido às armas disponíveis. Esta classe só tem acesso a SMGs, o que significa que apenas consegue ser eficaz a curtas distâncias. A classe de Support também tem um papel importante, sendo capaz de colocar pequenas caixas de munição em qualquer sítio (a economia da munição é realmente importante em Battlefield 5), mas é pena que essas caixas de munição não fiquem sinalizadas no mini-mapa (contrariamente às outras) e que possam passar despercebidas para o resto da equipa. O foco nas classes e no papel de cada uma transformam Battlefield 5 num jogo em que o trabalho de equipa tem um peso maior nos modos de objectivos.

“É o modo mais teatral na história de Battlefield e que recria vários momentos da Segunda Guerra Mundial”

A maior novidade de Battlefield 5 nesta fase de lançamento é o modo Grand Operations. É um modo de jogo desenhado para misturar uma experiência narrativa com um modo multijogador dividido em diferentes fases e em que o resultado da primeira fase influência a segunda, e o da segunda pesa na terceira fase. É o modo mais teatral na história de Battlefield e que recria vários momentos da Segunda Guerra Mundial. É intenso e espectacular, mas também pode ser frustrante por várias razões. Umas dessas razões são os mapas. Existem bons exemplos de mapas como Rotterdam, mas também existem maus exemplos como Norvik. Rotterdam é um mapa equilibrado, lindíssimo e justo para ambos os lados. Já Norvik, embora visualmente seja irrepreensível, é desequilibrado, com benefício para a equipa que está a defender.

O modo Grand Operations pode ir até uma quarta ronda, que é desencadeada se houver um empate nas rondas anteriores. Nesta ronda final não há respawns, mas de todas as vezes que joguei Grand Operations, nunca a testemunhei. Parece existir uma vantagem para o lado de quem está a defender, principalmente em mapas muito abertos como Norvik, em que os atacantes, que na ronda inicial caem de paraquedas, estão demasiado expostos e quem está a defender tem demasiados sítios em que pode acampar. Na guerra existem, obviamente, situações adversas em que um lado está em desvantagem, mas acima de tudo, Battlefield 5 é um videojogo e não um simulador. Tem que haver espaço para diversão, que no modo Grand Operations tem tendência para desaparecer. Parte da culpa é dos jogadores, que ignoram o trabalho de equipa, mas o design da DICE também não ajuda.

bfv_rotterdambreakdown_therotterdammapRotterdam é o melhor mapa que vais encontrar em Battlefield 5.

O que distingue o Grand Operations dos restantes modos é a progressão espalhada por vários dias, mas no fundo, é uma colecção de outros modos que estão disponíveis à parte. Não é realmente um modo novo, mas antes uma junção de vários modos para criar algo mais grandioso e duradouro. Diferente das operações de Battlefield 1, o modo contínua mesmo que os atacantes percam na primeira ronda. Isto significa que se foste abalroado na primeira ronda, provavelmente vais ter que repetir a dose na segunda e terceira ronda. O problema é que parece existir sempre uma equipa largamente superior à outra, daí nunca ter testemunhado aquela ronda final mais renhida em que não há respawns para nenhuma das equipas. Parece-me que o modo precisa de uns ajustes para que possa ser mais consistente e equilibrado.

Felizmente, Battlefield 5 tem mais outros modos para além de Grand Operations. O modo Breakthrough também requer que cumpras objectivos, mas existe uma grande diferença, estão dispostos de forma sequencial e, portanto, a equipa não se dispersa tanto como no Modo Operations, em que tens vários objectivos assinalados no mapa. Depois, existe o clássico Conquest, em que tens de capturar vários pontos assinalados no mapa, e Frontlines, em que as equipas lutam por pontos de controlo até chegarem à base da equipa adversária (o que abre a possibilidade de plantar explosivos). O leque de modos é complementado pelo indispensável Team Deathmatch, cujo único objectivo é matar mais, e Domination, uma versão reduzida do modo Conquest em que as equipas lutam por dominar pontos de controlo marcados no mapa.

“Felizmente, Battlefield 5 tem mais outros modos para além de Grand Operations”

Existe progressão no multijogador, e embora não seja tão significativo como em outros jogos do mesmo género, não pode ser ignorado. Em Battlefield 5 existe progressão para cada classe, para cada arma e até para cada veículo. Sempre que usas uma determinada classe, arma ou veículo em cada partida ganhas pontos de experiência que contribuem para subir o nível de cada coisa. Ao subires de nível com uma classe ganhas acesso a novas armas. Nas armas ganhas acesso a especializações que melhoram o desempenho da arma e nos veículos a mesma coisa. Quero salientar que os pontos que ganhas para desbloquear as especializações são os mesmos para comprar as skins de soldado e das armas, e embora não exista forma de gastar dinheiro real em Battlefield 5, as skins são realmente caras tendo em conta o ritmo a que consegues ganhar os pontos.

O foco de Battlefield 5 está claramente no multijogador, mas também existe um modo história a solo chamado War Stories. As War Stories são uma excelente ideia para introduzir variedade num jogo que se baseia numa guerra que já foi e continua a ser exaustivamente explorada, no entanto, são uma oportunidade desperdiçada. Existem três War Stories em Battlefield 5 (existe outra prevista para Dezembro) e cada uma leva-nos a um local diferente da Segunda Guerra Mundial. Como parte destas histórias, cada uma com cerca de duas horas, vamos viajar até o Norte de África, Noruega e França, conhecendo histórias supostamente não contadas até agora de personagens que tiveram um papel heróico no desenrolar da Segunda Grande Guerra. Todas estas histórias têm um começo excelente, poderoso e que desperta a nossa atenção, mas acabam de forma horrível.

Todas as War Stories de Battlefield 5 acabam por transformar o herói num exército de um homem só. Não é só irrealista como quebra completamente a imersão. Depois, embora haja liberdade para jogar cada uma das War Stories da forma que nos apetecer, parece que foram desenhadas para o stealth, no entanto, Battlefield 5 não é um jogo desenhado com isso em mente. A ideia de contar pequenas histórias, em vez de construir uma campanha que apenas nos dá uma pequena visão de uma guerra que decorreu à escala mundial, é positiva, mas a execução da DICE é medíocre. Fica a ideia de que o estúdio não teve muito tempo para dedicar a esta faceta de Battlefield 5, com a maioria dos recursos a serem encaminhados para os modos multijogador.

“É o jogo de tiros visualmente e tecnicamente mais avançado actualidade”

Em questões bélicas, a DICE vez um trabalho fantástico em todos os aspectos. É o jogo de tiros visualmente e tecnicamente mais avançado da actualidade, em que todos os elementos convergem para te dar uma experiência o mais crua possível do que é estar no meio de um campo de batalha. Ouvir as balas a sobrevoar a nossa cabeça, os aviões a passar a largarem bombas e a destruírem o cenário, os nossos companheiros de equipa a gritar por um médio quando são alvejados… Battlefield 5 faz isto como nenhum outro jogo. No entanto, é claramente um jogo ainda em construção. A DICE realizou várias betas antes do lançamento oficial esta semana, mas do que jogamos, ainda fica a sensação de que o jogo precisa de ser afinado. O maior inimigo de Battlefield 5 acaba por ser o jogo anterior da série, Battlefield 1, que depois de dois anos de actualizações e novos conteúdos, está muito mais polido.

Gostamos da visão da DICE para Battlefield 5, mas é um claro exemplo de um jogo que apenas vai ficar melhor com o tempo. O modo Grand Operations, o grande destaque comparativamente ao jogo anterior, é um modo que nos deixou com sensações mistas. É preciso mais equilíbrio entre o lado que ataque e o lado que defende e o design de alguns mapas (existem quatro no total para este modo) deixa a desejar. Nos restantes modos, é uma versão refinada da fórmula de Battlefield, com ênfase no trabalho de equipa e no papel de cada umas das classes. As War Stories deixam o mesmo sentimento do modo Grand Operations: uma excelente ideia que não atinge a plenitude. É um jogo com muito potencial, com sinais de um futuro brilhante, mas por enquanto, a DICE precisa de mais tempo para dar os toques finais. Será curioso verificar o que nos espera em Março, com a adição do modo Battle Royale.

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