Life is Strange 2 EP 1 – Análise – Quando o normal se tornou anormal

Life is Strange 2 ostenta no seu nome uma constatação outrora difícil de imaginar, mas actualmente fácil de aceitar. A vida é realmente estranha e numa actualidade em que a realidade supera a ficção, talvez seja mais oportuno do que nunca usar essa frase. Especialmente quando vivemos num mundo em que o normal parece cada vez mais uma miragem, uma anormalidade, totalmente aniquilada por cabeçalhos que seriam inimagináveis para a grande maioria.

Para os Estados Unidos da América, este é um dos momentos mais sensíveis para o país que tanto fascínio exerce em milhões espalhados por esse mundo fora. Sonhadores que cresceram apaixonados pelo espírito da alma Americana e por diversos conceitos que definem esse perfil tão intrigante. Que o diga a Francesa Dontnod Entertainment, que volta a inspirar-se na cultura dos Estados Unidos da América para uma aventura narrativa interactiva repleta de alfinetadas sociais e questões pertinentes.

Life is Strange encantou multidões com o irreverente espírito teen de Chloe e Max, duas pré-adultas que foram a porta de entrada para um mundo de mistérios, emoções e a busca por um propósito. Pelo meio, a Dontnod misturou elementos de fantasia, como viagens no tempo e dimensões alternativas. Na sequela, os Franceses apostam em moldes praticamente iguais em termos de gameplay, fazendo da narrativa a maior diferença.

Nesta face moderna do género point and click, aventura gráfica se preferires, Sean e Daniel Diaz formam a dupla de protagonistas – dois irmãos de origem Mexicana que vivem em Seattle, nos Estados Unidos da América. Tal como na primeira temporada, a Dontnod vai buscar os principais temas à realidade actual e apresenta-te diversas cenas onde debate temas sociais ou políticos, sem esquecer o toque de fantasia.

1 Os visuais apostam na mesma estética – parecendo um quadro que ganha vida

Num momento em que os Estados Unidos da América estão embrulhados em termas controversos a nível político e social, com frequentes situações de tensão racial a abrir os telejornais, não espanta que uma equipa tão apaixonada por aquele país use o seu jogo para reflectir sobre essas temáticas. Isso é algo que domina este primeiro episódio de Life is Strange 2 – a actual cena política dos EUA e temas como o Muro no México, a temática racial e o comportamento da polícia e o papel dos emigrantes. A Dontnod percorre as camadas invisíveis de um país que é capaz de iluminar os sonhos de multidões e ao mesmo tempo é um cenário repleto de cantos sombrios.

Sean e Daniel, que viste no final de The Awesome Adventures of Captain Spirit são dois jovens, de 17 e 9 anos de idade, respectivamente, que servem como os protagonistas e se no primeiro foram explorados conceitos como amizade e amor, a sequela aposta em valores como família e protecção. Tu controlarás Sean e após um evento extremamente horrível – numa clara alusão à brutalidade policial contra pessoas de raça nos EUA (sem esquecer a perseguição política e social aos emigrantes), iniciam uma fuga que os levará numa viagem pela costa Oeste do país.

A eterna “road trip” pelos Estados Unidos da América que tanta inspiração deu em outros formatos, é usada pela Dontnod para mostrar dois jovens em fuga num país cujos ideais são manchados pelas controvérsias raciais e sociais. O elemento de fantasia nesta cruel jornada emocional está em Daniel, cujos misteriosos poderes ainda não compreendemos.

2 Existem imensos momentos em que podes pousar o comando, mas também existem diálogos interactivos.

A narrativa e a força de alguns momentos são o destaque, pois em tudo o resto Life is Strange 2 mantém-se extremamente perto dos moldes do anterior e não mostra grandes sinais de progresso ou sequer novidades. O gameplay continua a convidar-te a ocasionalmente explorar alguns locais restritos para encontrar objectos ou conversar com pessoas, sendo ainda possível em alguns diálogos escolher o que responder.

Mesmo o motor visual, capaz de belos momentos e com um tom muito artístico, é altamente reminiscente do que viste na jornada de Max em Arcadia Bay. O foco da Dontnod não esteve na evolução do gameplay ou dos gráficos, este na narrativa e na tentativa de capturar este momento tão específico do trajecto dos EUA. Sean e Daniel são a forma de abordar a alma Americana e os temas que consomem o espírito daquele país.

3 O gameplay continua altamente similar e pede-te para encontrar objectos ou interagir com os cenários

Life is Strange 2 começa com fortes mensagens políticas e sociais, talvez demasiadas para quem está deste lado do Atlântico e não sente na pele as controvérsias que decorrem nos Estados Unidos da América. No entanto, é mais uma janela para essa alma Americana que tanto nos encanta e que está a ser testada ao extremo nestes últimos anos.

A tentativa de capturar uma aventura na estrada começa muito bem e é mais uma parte da cultura dos EUA que vimos frequentemente explorada em filmes ou séries. A Dontnod usa esse fascínio pela cultura dos EUA como rampa para uma nova jornada que volta a mexer com as tuas emoções – demonstrando com personalidade e estilo que o normal quotidiano já não é um dado adquirido, pelo contrário, parece cada vez mais uma anormalidade.

Share