Capcom “Beat’em Up” Bundle – Análise – Só para duros

Os clássicos “beat em ups” da Capcom estão entre as minhas memórias da cena arcade, alguns dos quais reproduzidos mais adiante nas consolas 16 e 32 bits, seguindo-se as colectâneas nas gerações seguintes, nas quais era possível experimentar alguns por entre outros clássicos. Embora Street Fighter se situe no topo dessa hierarquia arcade, os “beat’em ups” sempre constituíram um género especial, talvez mais acessível que muitos “fighting games” por assentar em musculares batalhas ao longo de níveis mais ou menos compridos, nos quais era comum defrontarmos lá para o final os chefes, ou bosses, como eram conhecidos à época.

Anunciado na pretérita semana, no decurso do evento online da Nintendo, Capcom Beat’em Up Bundle causou impacto pelo anúncio, mas não causou surpresa. Muitos anos depois do “boom” das arcadas, são muitas as editoras que relançam e regressam aos seus clássicos, através de pequenos bundles ou na forma de lançamento de consolas clássicas. Agora é a Sony que vai lançar a miniatura da clássica original 32 bit, o primeiro sistema colocado no mercado, conjugando duas dezenas de títulos.

A Sega revisita regularmente muitos dos seus clássicos arcada, oferecendo ainda destaque à Mega Drive, enquanto que a Nintendo acaba de lançar um serviço online pondo à disposição dos subscritores uma gama ampla de jogos 8-bit NES. Não há melhor época no mundo para encontrar tantos clássicos. Longe, por isso, de constituir uma surpresa o anúncio e lançamento no passado dia 18 desta colecção de beat’em ups com o selo Capcom, uma das mais prestigiadas editoras no género.

1 Final Fight é o mais antigo jogo do conjunto, mas ainda retém o charme que o tornou especial à época.

A Capcom Beat’em Up Bundle é constituída por sete jogos: Final Fight (1989), The King of Dragons (1991), Captain Commando (1991), Knights of the Round (1991), Warriors of Fate (1992), Armored Warriors (1994) e Battle Circuit (1997). Todos correspondentes às versões arcade, por enquanto apenas digital. Mais adiante os japoneses terão acesso a uma versão física, com arte e com direito a banda sonora, algo que fará as delícias dos fãs ocidentais.

Enquanto jogos da cena arcade, comprimidos entre quase dez anos – uma década de arcadas – , desde 1989 (Final Fight), até 1997 (Battle Circuit), é possível jogá-los no seu formato multiplayer, para dois ou até quatro jogadores em simultâneo. Alguns jogos permitem até três jogadores, enquanto que Final Fight é o único que pode ser jogado apenas por dois jogadores. A possibilidade de os jogar pela via online reforça o interesse, embora se deva salientar a necessidade de uma boa ligação, estável entre todos os jogadores, sob pena de se perder a fluidez sempre imprescindível nestas lides. Infelizmente, e enquanto pudemos jogar online, era frequente a ocorrência de quebras e perturbações, causando significativos slowdowns. Em alternativa é sempre possível partilhar os comandos para uma experiência local “two player”, bem mais simples de iniciar e livre de problemas de sinal. No entanto, é sempre positivo poder partilhar o jogo até quatro jogadores por via online.

Como referido atrás, todos os jogos partilham entre si o mesmo género: o “beat em up”. Trata-se de um jogo no qual o jogador selecciona uma de várias personagens, capaz de efectuar vários movimentos ofensivos, desde acções simples até ataques especiais, que entra em cena, em níveis de scroll horizontal, enfrentando vagas de inimigos até chegar ao chefe desse nível, dispondo de uma barra de vida para encaixar golpes bem sucedidos dos rivais. À medida que os níveis são completados a dificuldade sobe e as vidas vão sendo cada vez mais escassas. Depressa o desafio passa não só por vencer o último boss mas sobreviver até lá.

2 Captain Commando contempla multiplayer até quatro jogadores. A acção pode tornar-se caótica.

Estes jogos estão marcados por uma grande acessibilidade, produzindo divertimento imediato, bem típicos das arcadas. Poucos segundos depois de iniciar o jogo estamos a defrontar os primeiros adversários e a completar o primeiro nível. A Capcom tornou-se numa editora mestre deste tipo de produções, porventura demasiado avançada para o seu tempo, graças a um staff muito amplo e genial. Utilizando a tecnologia CPS-1 nas máquinas arcada, Final Fight conquistou os fãs em 1989 graças a uma conjugação superior de três pontos: visuais, fluidez e jogabilidade. Ainda hoje é um jogo notável, e dos sete que compõem o bundle, um título incontornável. Superior a muitos dos jogos produzidos para consolas anos depois, tornou-se numa das referências Capcom, exercendo influência sobre quase todos os jogos que se seguiram.

Os fundos dinâmicos, a fluidez de movimentos, a riqueza de cores e a arte conceptual, continuam a impressionar. Quase 30 anos depois, o jogo não esmorece. Há imensos items para recuperar, razoável variedade de inimigos, mas também é um jogo curto que se acaba em quase uma hora, a menos que aumentem a dificuldade para o máximo, o que vos levará a repetir o jogo várias vezes até verem o final.

Dada a semelhança de mecânicas, facilmente aplicam a mesma estratégia usada para ganhar em Final Fight noutros jogos como Captain Commando. Com uma apresentação mais eficaz e uma caracterização das personagens mais enfática, este jogo serve como óptima referência depois das batalhas de Final Fight.

3 A galeria contém abundante arte de cada um dos sete jogos presentes.

Formando uma trave segura neste bundle destacam-se os “beat em ups” de fantasia medieval, partilhando inclusivé alguns elementos com os jogos de role play. The King of Dragons permite a escolha de cinco personagens, selecção de várias armas e imensos recursos. Embora os níveis sejam curtos a acção torna-se por vezes caótica. Contudo, é um jogo de 1991, menos evoluído tecnicamente que Warriors of Fate e Knights of the Round. Este apresenta igualmente algumas mecânicas no formato role play, ainda que seja talvez dos três o menos convincente.

Warriors of Fate é o mais desconhecido para os ocidentais – a sua popularidade sempre esteve restringida ao Japão – e também o mais forte deste subconjunto. É sequela do jogo arcade Dinasty Wars. Em termos de progresso tecnológico, Armored Warriors e Battle Circuit (1994 e 1997 respectivamente) são títulos mais produzidos, beneficiando da tecnologia CPS-2, a mesma que serviria a nata dos jogos Street Fighter II, sendo estes não só dois jogos raros como bons no capítulo da jogabilidade. Visualmente ainda são jogos bastante impressionantes, assim como não são menos notáveis as bandas sonoras, saídas de compositores como Syun Nishigaki, Yoko Shimomura, e Yoshihiro Sakaguchi.

Embora se possa dizer que os jogos contidos neste bundle são os melhores produzidos pela Capcom, há uma ausência de peso. Cadillacs and Dinosaurs é uma ausência que se faz sentir demasiado. Com uma oportunidade para um bundle destes não se percebe a sua não inclusão. Só assim seria o “bundle” definitivo, porque Cadillacs (1993) ainda é um dos melhores, um dos raros e um dos “beat’em ups” mais procurados pelos fãs. O verdadeiro fan service tem que passar naturalmente pela sua inclusão.

4 Por enquanto o bundle está disponível, na Europa, apenas em formato digital.

Infelizmente, verificam-se outras limitações neste bundle. Uma delas é a ausência de filtros de imagem. Já vimos como a Capcom foi hábil a introduzir essas opções em colectâneas como Street Fighter, pelo que não se compreende a sua não inclusão neste bundle. Também não existem opções para formato audio, designadamente as bandas sonoras. Como referimos atrás a opção multiplayer online nem sempre garante o melhor desempenho pelo que a opção adequada passa por sustentar o multiplayer local.

Do lado positivo regista-se a inclusão de um vasto conjunto de arte alusiva a cada um dos sete jogos por via da galeria, com posters das versões arcada, manuais e arte criada na fase de desenvolvimento. É um óptimo serviço para os fãs, mas convenhamos que a Capcom poderia ter ido mais longe no âmbito da oferta para os fãs.

Em conclusão, estamos perante um “bundle” bastante interessante, especialmente criado para os fãs. Um puro acervo histórico, carregado de nostalgia e plenamente jogável quase 20 ou 30 anos depois. Poderiam ser adicionados outros títulos, e a ausência de Cadillacs and Dinosaurs, por demais evidente, leva a que ainda não seja desta que os fãs têm acesso a um dos melhores “beat em ups” de sempre. Outros jogos como Battle Circuit e Armored Warriors ajudam a colmatar essa ausência e a tornar evidente como a Capcom foi uma das melhores produtoras da cena arcade.

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