The Persistence – Análise – Spaaaace!

Já ouviste falar da expressão “faca de dois gumes”? Pois bem, para mim, esta é a forma perfeita de descrever a realidade virtual. Em teoria, o conceito funciona na perfeição – basta colocares uns óculos especiais e és imediatamente transportado e emergido num mundo inteiramente virtual, a toda a tua volta. Todavia, existe uma série de arestas a serem limadas no que diz respeito à tecnologia e The Persistence, infelizmente, revelou-me as fragilidades da realidade virtual e como ainda existe um longo caminho a percorrer. Por esta altura, suponho que já saibas aquilo a que me refiro: os enjoos causados pela tecnologia.

Até então, já tive a oportunidade de experimentar uma série de jogos da realidade virtual e, por isso mesmo, gosto de pensar que ganhei uma certa resistência e tolerância à tecnologia – no entanto, no caso específico de The Persistence, foi complicadíssimo conseguir abstrair-me das sensações físicas que o jogo me causou que, por norma, só me afectam nos momentos iniciais de um título, quando o meu cérebro ainda está a tentar adaptar-se à nova realidade.

Até porque, na minha modesta opinião pessoal, para um jogo de realidade virtual funcionar na perfeição, o movimento da câmara dentro do jogo tem que ser reduzido ao máximo: Moss é o exemplo mais próximo do ideal que te consigo dar, onde assistes aos eventos do jogo a partir de uma perspectiva aérea e tudo acontece em menor escala, à tua frente. E tal não acontece em The Persistence.

The Persistence, foi complicadíssimo conseguir abstrair-me das sensações físicas que o jogo me causou.

De uma forma geral, The Persistence funciona como um jogo em primeira pessoa normal, exceptuando a adição da realidade virtual: irás percorrer sala atrás de sala de uma enorme nave espacial, fugindo ou matando zombies furtivamente à medida que fores prosseguindo em direcção ao teu destino. O facto de manipulares um pequeno cursor com a tua cabeça para interagires com certos elementos do ambiente – abrir portas e coleccionar itens, por exemplo – não me ajudou em nada neste aspecto: tal como disse anteriormente, quanto menos o ambiente do jogo “girar” em frente aos teus olhos melhor será para ti – até porque cada pequeno movimento que faças terá um efeito físico e psicológico acentuado pela realidade virtual.

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Os produtores da Firesprite, apesar de tudo, aperceberam-se desta situação e adicionaram certas características ao jogo que te permitem escolher diferentes configurações com diferentes graus de conforto e de jogabilidade, para se adaptar melhor ao teu estilo – para além de vinhetas que surgem nos cantos do ecrã sempre que te moves, existe também a possibilidade de te movimentares teletransportando-te de um local para o outro. Esta última opção, em particular, ajuda-me a reduzir o enjoo causado pela tecnologia, mas num jogo deveras escuro em que estás a ser perseguido por zombies, é fácil perderes o teu sentido de orientação e acabares por morrer.

A primeira vez que experimentei o jogo, sou sincero, não foi nada fácil: vi-me obrigado a retirar os óculos de cinco em cinco minutos para poder descansar um pouco e o meu cabelo colava à testa devido ao suor causado pelo enjoo. Claro está, tudo isto pode dever-se a uma certa intolerância da minha parte mas, dada a quantidade de jogos VR que tenho jogado nos últimos tempos, fui apanhado um pouco desprevenido.

Portanto, agora que terminei estes parágrafos sobre estas questões relacionadas com os efeitos físicos causados pela realidade virtual em The Persistence, podemos colocar este tema de parte e prosseguir com outros aspectos. Até porque este é um jogo com algumas ideias bem interessantes que valem a pena ser enunciadas.

Assim que morres, um novo corpo hospedeiro será gerado com o qual terás de jogar e o layout do nível será alterado.

Numa mistura de Alien com Dead Space, em The Persistence terás de percorrer uma nave espacial que está repleta de criaturas que lembram um híbrido entre zombies/mutantes – existe, no entanto, uma particularidade interessante que distingue The Persistence de outros jogos da realidade virtual: assim que morres, um novo corpo hospedeiro será gerado com o qual terás de jogar e o layout do nível será alterado. Portanto, a nave espacial onde te encontras está em constante mutação, algo que te obrigará a mudar também de estratégia já que nunca sabes aquilo que te espera. E isso é bom, obrigando-te sempre a prestar atenção ao mundo em teu redor: provavelmente, aquele corredor estava iluminado antes de teres morrido. Ou tens uma porta à esquerda que anteriormente não existia.

Inicialmente, fui apanhado de surpresa e temi que este fosse um daqueles títulos que te obrigaria a jogar de uma ponta à outra sem morreres, já que sou o tipo de jogador que gosta de levar o seu tempo a completar as tarefas que me são dadas. Felizmente, o jogo implementa soluções que agradam a gregos e a troianos: caso sejas um jogador que gosta de um bom desafio, existe o modo hardcore que desbloqueias depois de completares o jogo principal; caso queiras levar o teu tempo a terminar o jogo, existem checkpoints em diferentes secções do jogo, mesmo depois de morreres e do design da nave ser alterado.

Para um jogo de realidade virtual, é bastante satisfatória a diversidade de armas e mecânicas.

Claro que, mesmo com os diferentes designs da nave de cada vez que morres, as salas, corredores e a estrutura geral da nave serão sempre semelhantes – ainda assim, este recurso confere um grau decente de replayability a The Persistence que penso nunca ter visto antes num jogo para realidade virtual. O jogo oferece ainda uma quantidade bem interessante de armas que podes desbloquear e melhorar em diferentes estações espalhadas pela nave – uma das mais interessantes, consiste num soro que consegue colocar um inimigo do teu lado, fazendo-o combater outros mutantes. Para um jogo de realidade virtual, é bastante satisfatória a diversidade de armas e mecânicas à tua disposição (partindo do princípio que tens recursos suficientes para elas) que se adaptam às mais diversas estratégias.

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Os gráficos vão de encontro àquilo que tens visto em jogos da realidade virtual – não são propriamente deslumbrantes mas são bons o suficiente para criar uma atmosfera bastante pesada, assustadora e envolvente. O som é a verdadeira estrela neste campo e é o que ajuda verdadeiramente a palpitar o coração: bastava ouvir um pequeno rosnar da criatura que ficava imediatamente alerta, com receio em voltar a minha cabeça.

The Persistence oferece ma replayability que pouco se vê em jogos da realidade virtual.

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The Persistence pode não ser o jogo mais interessante presente neste momento na Playstation VR mas é, provavelmente, o que possui a atmosfera mais assustadora entre todos aqueles que joguei. O facto do layout da nave espacial mudar sempre que morres faz com que tenhas de prestar atenção constante e adaptar-te às novas condições, oferecendo uma replayability que pouco se vê em jogos da realidade virtual. O jogo mistura uma série de géneros – como rogue, ficção científica, stealth, acção, terror – e será certamente uma boa escolha para quem gosta destes estilos. Claro está, isto se conseguires ultrapassar os enjoos e as dores de cabeça. E esse é um grande se.

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