Hyper Light Drifter – Análise – Excelência indie em formato híbrido

Espero que não interpretes esta frase de forma errada, mas quando comprei a minha Nintendo Switch fiz-lo para substituir a minha PS Vita, à procura desses indies que estavam a abraçar a consola da Nintendo – glorificando esse conceito híbrido que se revelou tão refrescante. A verdade é que a aposta mais do que recompensou e já joguei grandes indies como Night in the Woods, Hollow Knight, The Messenger, Dead Cells e agora, o mais recente, Hyper Light Drifter da Heart Machine.

Aclamado como um dos melhores indies dos últimos anos, a chegada da versão Nintendo Switch deu-me finalmente a oportunidade para conhecer o Drifter. É com todo o gosto que me junto às vozes que o aclamam.

Lançado originalmente em 2016, Hyper Light Drifter é a surpreendente forma com que Alex Preston, o homem que imaginou este mundo, interpretou de forma artística a sua doença rara e a transformou na génese para o seu maior desejo – criar um jogo ao estilo de The Legend of Zelda, combinado com mecânicas de Diablo.

Não é à toa que o seu estúdio se chama Heart Machine – Preston sofre de uma rara doença que afecta o seu coração e o deixa fortemente debilitado, mas ainda assim conseguiu encontrar as formas para dar forma ao seu desejo. Com a ajuda de colegas, criou um mundo à imagem desse clássico da Nintendo que tanto ama, combinado com elementos vindos da sua própria realidade – o Drifter sofre de uma doença fatal e tu assistirás de forma bem dramática a uma narrativa que se desenrola sem quaisquer diálogos ou textos.

Este olhar abstracto que Hyper Light Drifter apresenta é um dos seus maiores charmes e a estética é um dos seus maiores valores. No entanto, essa forte inspiração nos clássicos da NES vai mais além dos visuais. Também se aplica à estrutura e design do mundo, mas ainda assim houve tempo para implementar mecânicas mais modernas.

1 A estética do jogo é irrepreensível e muito atmosférica – capta bem a sensação de um clássico feito nos dias de hoje.

Neste bizarro mundo pixel art, onde paira sempre a sensação de fatalidade, embalada por tons melancólicos, terás a oportunidade de percorrer quatro locais distintos onde os principais segredos estão debaixo da superfície. Em vários laboratórios, procurarás por pontos específicos que depois de activos te deixam abrir a porta que dá acesso ao boss da zona. Só assim poderás activar a torre e prosseguir até ao fim.

O gameplay de Hyper Light Drifter é mesmo muito simples, mas ainda assim altamente preciso e bem executado – esta cruel poesia interactiva transformada em videojogo, que homenageia a clássica série da Nintendo, não se coíbe de apresentar cenários com obstáculos e inimigos que abrem alas para uma dificuldade bem-vinda e necessária. Por vezes, terás vontade de gritar de raiva, em alguns locais, mas isso apenas tonará mais gratificante o momento em que os derrotas.

“Como se a poesia tivesse casado com a matemática e ambos originassem um belo poema abstracto”

Apesar da estética lembrar os clássicos da NES, o gameplay é fluído e existem várias mecânicas que o assentam na era moderna. Além da possibilidade de adquirir novas habilidades numa das diversas lojas (através de itens difíceis de encontrar), tens habilidades como dash e várias armas de fogo. Quando a tua espada não alcança o inimigo, usa uma pistola e resolve o assunto. O gameplay é altamente sólido e existe uma grande sintonia entre as diversas mecânicas – golpear carrega as armas de fogo é apenas um exemplo entre vários que mostram um gameplay profundo e sólido.

Hyper Light Drifter é um RPG 2D de acção, mas não é um Hack n Slash, não podes martelar os botões à sorte. Existe quase um ritmo, como se esta poesia interactiva precisasse ser embalada. Perante grandes quantidades de inimigos, a tentativa e erro é apenas uma parte da equação e se insistires no erro, surgirá frustração. Desbloquear habilidades como golpear balas para as devolver é vital, mas acima de tudo terás de saber quando e quantos golpes aplicar, quando disparar e como usar o dash – altamente útil, mas apenas podes encadear 3 de uma vez.

São estes pequenos detalhes, as nuances no gameplay de Hyper Light Drifter que o tornam especial. O gameplay conquistará o teu respeito e quando deres por ela, estás a abordar as situações já a analisar os potenciais perigos. É como se a poesia tivesse casado com a matemática e ambos originassem um belo poema abstracto. Isto sem a momento algum se esquecer que tem de ser divertido e merecedor do teu respeito.

2 Imaginado como um título da era NES, HLD é destinado aos amantes de jogos como The Legend of Zelda.

Sobre a versão Nintendo Switch, apenas terás de lidar alguns problemas ocasionais na performance – instantes em que o rácio de fotogramas desce quando estão muitos inimigos no ecrã. A queda na performance é perceptível, mas estes momentos são raros. De resto, encontrarás aqui Hyper Light Drifter como desejado, uma experiência estilo retro, cuja estética pixel art se torna incrivelmente envolvente.

“Sobre a versão Nintendo Switch, apenas terás de lidar alguns problemas ocasionais na performance”

Uma vez que Hyper Light Drifter é apresentado sem qualquer diálogo, escrito ou falado, ocasionalmente poderá ser confuso navegar neste mundo e as primeiras horas podem ficar marcadas por alguma frustração. Enquanto tentas perceber o jogo, procurando interpretar as mecânicas e as informações visuais que te são dadas através desta pixel art. Inicialmente, Hyper Light Drifter poderá tornar-se confuso de interpretar e navegar, poderá até exigir um pouco de esforço de tua parte. Tudo propositado, mas ainda assim será preciso cautela inicialmente.

Poucos títulos conseguem cumprir em pleno essa arrojada ambição de oscilar na perfeição entre poema interactivo que de forma abstracta combina uma realidade inspiradora, por mais cruel que seja, com uma experiência interactiva cujo máximo propósito é divertir-te. Hyper Light Drifter consegue-o e é impossível olhar para o jogo sem falar na doença de Alex Preston. Ao tentar criar um olhar moderno sobre alguns dos seus clássicos favoritos, inspirou-e na sua condição e conseguiu um jogo carregado de atmosfera e personalidade, com um sentido estético sublime.

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