State of Decay 2 – Análise – Zombielândia

O género dos zombies tornou-se, nos últimos anos, num dos mais saturados da indústria dos videojogos e do entretenimento com múltiplas e variadas ofertas para os interessados em chacinar mortos-vivos. Desde Call of Duty a Yakuza, passando por The Last of Us, Dying Light, DayZ, ZombiU e outros tantos, a presença dos zombies nos videojogos tornou-se comum e num tema recorrente para os mais diversos estúdios. No entanto, nenhuma destas propostas mostrava realmente o que era esta inserido no meio de um surto de mortos-vivos que olham para nós meramente como a sua próxima refeição. Foi por isso que, quando State of Decay foi lançado para a Xbox 360 em 2013, tornou-se numa surpresa para muitos. Para além de oferecer uma perspectiva refrescada de um jogo de zombies, vinha de um estúdio que para muitos era completamente desconhecido, a Undead Labs.

Oito anos mais tarde, e depois de uma versão remasterizada do primeiro para a Xbox One e PC, eis que temos em mãos a sequela de State of Decay. A premissa continua assente na sobrevivência, mas agora existem mais elementos e variáveis a ter em conta. Mais do que sobreviver, terão que gerir um grupo de sobreviventes juntamente com tudo o que isso implica: juntar recursos, averiguar as necessidades de cada um, eliminar os perigos próximos e evoluir as infraestruturas para que as condições de vida continuem a melhorar. No fundo, State of Decay 2 tem tanto de sobrevivência como de gestão, podendo até ser comparado, de certa forma, a um The Sims inserido num contexto de zombies. As semelhanças com o primeiro são inevitáveis, numas coisas mais do que outras, mas não restam dúvidas que a Undead Labs expandiu verdadeiramente o conceito no novo jogo.

Escolhidas as duas personagens iniciais, passamos por um pequeno tutorial que nos ensina com brevidade os controlos e as mecânicas básicas. Só a seguir é que o jogo realmente começa, quando temos que estabelecer a nossa base de operações numa casa. O jogo continua a guiar-vos de mão dada até um certo ponto, mas depois, dá-vos liberdade total para explorar o mapa, encontrar recursos e sobreviventes, e expandir a vossa base de operações. Se alguma vez viste a série The Walking Dead, já tens uma ideia do que esperar. Terás que liderar e gerir um grupo de sobreviventes, ficando num sítio seguro e atribuindo tarefas. Também terás que encontrar recursos importantes como alimento, materiais de construção, combustível para os veículos e medicamentos, caso contrário, vais gerar instabilidade entre a comunidade, o que ultimamente conduz à depressão e discussões.

Embora inicialmente tenhas que escolher uma dupla de personagens, assim que estabeleces a tua base e convences mais sobreviventes a juntarem-se a ti, podes trocar livremente entre personagens, o que tem vantagens e vantagens. Existem personagens com habilidades diferentes e com diferentes níveis de evolução em cada parâmetro, e quanto mais realizares uma tarefa com uma personagem, mais evoluído ficará nessa habilidade. Todas as personagens partilham parâmetros como resistência física e combate, mas há capacidades únicas como horticultura, essencial para plantar vegetais e colher alimento, medicina, para curar os outros sobreviventes, entre outras. Rapidamente vais perceber que, se queres evoluir, vais precisar de sobreviventes que tenham estas capacidades únicas.

Apesar de uma premissa simples e fácil de perceber, State of Decay 2 é um jogo que fica progressivamente complexo e que te permite investir dezenas de horas de assim quiseres. Uma das vantagens, e que certamente facilita mas também prolonga a experiência, é a possibilidade de jogar em modo cooperativo com até quatro pessoas. No modo cooperativo podes ajudar um amigo a completar as suas tarefas ou a simplesmente vasculhar os pontos de interesse para recursos. Ao fazeres isto vais receber pontos de influência, indispensáveis para te instalares em novos locais do mapa, e podes guardar todos os itens que encontrares. Existe a limitação de não poderes explorar livremente o mapa, isto é, nunca te poderás afastar muito do jogador escolhido como o host da partida, mas tirando isto, não existem mais diferenças entre o modo a solo e o modo cooperativo.

Há alguma repetitividade inerente à estrutura de State of Decay 2. Como um jogo de sobrevivência, terás que te aventurar todos os dias para novos locais em busca de sacos com recursos para responder às necessidades dos sobreviventes. Em primeiro lugar serão os locais mais próximos da base a serem vasculhados, mas eventualmente terás que te aventurar para sítios mais longínquos. É neste ponto que State of Decay 2 consegue escapar à rotina, introduzindo regularmente novos tipos de inimigos e novos desafios. À medida que vais evoluindo cada personagem e te familiarizas com o jogo e os seus recantos, os zombies normais deixam de ser uma ameaça. Todavia, não tarda conhecerás mutações ameaçadores. Existem zombies grandes cujo um carro nem consegue atropelar, zombies que gritam imenso e chamam a atenção dos outros, zombies que te infectam com um vírus mortífero e até há aqueles que explodem numa bomba de gás tóxica.

“State of Decay 2 é um jogo que fica progressivamente complexo e que te permite investir dezenas de horas de assim quiseres”

Se não tiveres cuidado, podes até perder sobreviventes, Inicialmente terás que ter muito azar (ou simplesmente não querer saber) para perderes um dos sobreviventes, mas mais adiante, quando tiveres que limpar edifícios repletos de zombies infestados, poderá acontecer. Depois de perderes um sobrevivente não há como voltar atrás. State of Decay 2 não tem gravação manual, gravando regularmente. Se perderes um sobrevivente, o jogo grava automaticamente e não terás forma de regressar à gravação anterior. Ao jogares em modo cooperativo, o risco é muito menor, mas por outro lado, o factor de sobrevivência diminui. No entanto, se quiseres uma experiência genuinamente purista de sobrevivência, é perfeitamente possível jogar e progredir sozinho. Por um lado, jogar com companhia é inevitavelmente mais divertido, mas jogar sozinho é mais desafiante e entusiasmante.

O jogo não segue propriamente uma estrutura linear, mas existem sempre novos objectivos para cumprir. Estes objectivos são uma das fontes de “Influência”, um recurso que serve para te instalares em novos locais do mapa. Isto é de extrema importância, principalmente se quiseres atenuar a procura por recursos. A influência serve para capturares pontos importantes do mapa que te fornecem recursos diariamente, diminuindo a necessidade de estar constantemente a procurar por mantimentos em novos locais do mapa. Eventualmente até poderás instalar-te numa segunda base, aumentando o raio e a escala das tuas operações. Tal como já deves ter percebido, State of Decay 2 tem uma forte faceta de gestão, por vezes até se sobrepondo à ameaça dos zombies.

Se estás à procura de uma história não é isso que vais encontrar aqui. State of Decay 2 dá-te um contexto, explicando que terás que sobreviver numa área em que a civilização desapareceu por completo e até o exército já evacuou daquele sítio, mas não tens uma narrativa convencional. Cada sobrevivente terá missões próprios que terás de cumprir, mas mesmo nestas casos, a dimensão narrativa é praticamente inexistente. Esta é a única desilusão em State of Decay 2. A Undead Labs fez um excelente trabalho em expandir a fórmula apelativa e refrescante do primeiro jogo, no entanto, parece-nos que existia espaço para implementar uma história mais relevante e presente, principalmente sabendo que este contexto de sobrevivência podia gerar momentos dramáticos e marcantes.

“A Undead Labs fez um excelente trabalho em expandir a fórmula apelativa e refrescante do primeiro jogo”

No total, State of Decay 2 tem três mapas que podes escolher para iniciar a tua comunidade. Cada mapa tem um tamanho ideal, não sendo demasiado grande nem demasiado pequeno. Os mapas têm muitos locais para explorar e alguns pontos altos em que podes conhecer e assinalar permanentemente no mapa os montos de interesse. O facto de que provavelmente andarás muito a pé ajuda a tornar os mapas de maior. De carro consegues percorrer o mapa de ponta a ponta numa questão de minutos, mas como é preciso levar em conta que os veículos gastam combustível, vais acabar a andar mais a pé (e a correr) do que propriamente em veículos. Por um lado é bom, visto que todos os teus sobreviventes rapidamente vão ficar peritos em correr e em resistência, sendo capazes de fugir de uma ameaça caso seja necessário.

Não é um jogo impressionante de uma perspectiva técnica, alias, as animações ainda nos fazem lembrar o primeiro jogo e podiam estar bem melhores. Também existem erros como problemas de colisão e texturas que entram a dentro por outras. Quanto a quedas de framerate, jogamos a versão para Windows 10 e apenas reparamos num soluço inicial, sempre que o jogo estava a criar uma sessão online. Dito isto, e apesar de um acordo entre a Undead Labs e a Microsoft, há que levar em conta que State of Decay 2 não é propriamente um jogo AAA, pelo alguns dos compromissos são compreensíveis, até porque o seu preço é menor do que habitual (a edição normal custa 29.99 euros).

Apesar de pecar pela dimensão narrativa, State of Decay 2 é um jogo sem igual e que oferece uma experiência fantástica para quem gosta de zombies. O jogo triunfa ao colocar-te a gerir uma comunidade de sobreviventes no meio de um Apocalipse de zombies. Esta sequela aposta muito mais na gestão e na simulação e, por causa disto, não é apenas mais um jogo em que andas a matar zombies apenas por diversão. É sobrevivência acima de tudo, e apesar de alguma repetitividade, ficamos sempre com vontade de voltar a jogar e de continuar a expandir a nossa comunidade. O facto de que podes escolher jogar em modo cooperativo torna-o ainda mais aliciante para aqueles que estão à procura de uma nova proposta para jogar em grupo.

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