Monster Energy Supercross – Análise

Com Monster Energy Supercross (MES), a Milestone alarga a sua lista de títulos dedicados às duas rodas em torno do desporto motorizado. Se o título pode soar a motocross, importa sublinhar que o termo correcto é supercross, o que faz toda a diferença. Desde logo porque estamos perante um jogo que apresenta a licença do campeonato americano da respectiva modalidade, patrocinado pela bebida energética Monster Energy, da mesma forma que nós temos, por exemplo, a Liga NOS para o futebol. A colagem do patrocinador é de tal modo evidente que os menus e toda a apresentação apresentam uma conjugação entre verde e preto, com abundantes referências ao patrocinador.

Por outro lado, é importante atentar na natureza específica do jogo. O supercross despontou nos EUA na década de 1970, tendo-se assumido como um dos desporto mais relevantes no quadro das motas criadas para andar na terra e saltar alto. Trocando pistas integradas em cenários naturais pelas pistas criadas artificialmente em estádios, os fãs e espectadores podem assim observar as provas com mais algum conforto e acessibilidade, já que os estádios americanos onde decorre a competição, são grandes e possuem uma capacidade para largas dezenas de milhares de espectadores.

O resultado é por isso um campeonato que é acompanhado por milhões de espectadores, contando com aqueles que seguem pela TV. A Milestone, tendo provado já a habilidade para criar jogos de duas rodas – no quadro do motocross – aventurou-se neste novo desafio sem pestanejar. Conseguindo traduzir as incidências da modalidade, apresentando uma jogabilidade que se afirma como satisfatória, também é verdade que este jogo acabará por dizer mais junto dos amantes do género ou dos conhecedores da prova. Todos os outros encontram um jogo que no fundo equivale às corridas de motocross dentro de grandes estádios, apresentando pistas mais ou menos similares.

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Campeonato exclusivo em ambientes fechados, onde se concentram as emoções.

No entanto, os valores de produção não são muito altos e isso reflecte-se não só no design como na jogabilidade essencialmente de cariz arcade. Enquanto que noutros jogos do género as quedas são mais frequentes, aqui os embates e encontros com outros motards, embora não sendo inexistentes, são menos frequentes e só em circunstâncias extremas tendem a acontecer. Além disso, o jogo é afectado por um elevado volume de carregamentos -“loadings” – tornando um pouco angustiante o começo de uma prova, ao mesmo tempo que há longas pausas entre algumas passagens de menus, através de opções que normalmente não são muito demoradas. Isto acaba por enfraquecer um pouco o nosso interesse, demovendo-nos até de escolher opções só para não perder mais tempo e avançar para o cerne da experiência. Há muito tempo que os “loadings” constituem uma espécie de pedra no arroz, mas demasiado longos nunca funcionam como um cartão de visita.

No que respeita aos conteúdos, o destaque vai naturalmente para o modo carreira. Existem duas categorias distintas para começar. A partir daí definem o vosso piloto, a equipa e participam nas provas. No final é dada uma pontuação que regista não só o vosso nível como ainda permite a aquisição de acessórios e uma série de bónus disponíveis à medida que sobem de nível. Podem até alcançar certas proezas e garantir medalhas depois de alcançarem uma série de objectivos propostos.

Andou bem a Milestone na criação de um modo dedicado à edição de pistas. Tendo em conta que os percursos são criados dentro de estádios por máquinas, força humana e designers, não seria difícil passar isso para o formato videojogo, uma opção que nos deixa correr não só nas mais de 20 provas que formam o périplo mas também nas pistas criadas pelos outros jogadores, com recurso ao online. É um ponto de interesse já que alguns traçados surpreendem e inscrevem desafios adicionais.

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O editor contempla várias opções e permite uma edição profunda.

Outra opção consiste na apresentação completa da temporada de 2017, o campeonato de Supercrosse, na perspectiva de um dos pilotos que nela participaram. Em alternativa podem sempre criar definir o vosso campeonato escolhendo as provas conforme vos aprouver. Na verdade, a personalização embora não muito alargada, é suficiente para dar alguma margem de liberdade e escolha num jogo que transpira a licença pelos poros. Quanto às corridas online, cabem à partida 12 pilotos. Se não juntarem o número de adversários suficiente, os motards controlados pelo computador assumem a vaga, o que é sempre razoável quando não encontram muitas pessoas com quem jogar.

“a deformação da terra e criação de sulcos à medida que os pilotos cumprem mais voltas e a sensação de aceleração e travagem em curva”

A experiência de condução satisfaz sobretudo pelos pontos positivos como a boa sensação de velocidade, a deformação da terra e criação de sulcos à medida que os pilotos cumprem mais voltas e a sensação de aceleração e travagem em curva, acompanhada de um som muito próximo do que é conduzir uma mota de motocross. Existem diferentes motas, provenientes de marcas amplamente conhecidas como a Honda e Yamaha, entre outras.

Contudo, é também no quadro da jogabilidade que encontramos mais desapontamentos. Percebe-se que os produtores optaram por uma vertente mais arcade e acessível. Isso é visível nas saídas de pista ou acidentes. É fácil retomarmos a trajectória mesmo depois de um voo que nos levou a aterrar nas imediações. Prosseguimos como se nada se tivesse passado, apesar da perda de posições. Tornando a toada mais caótica, os pilotos controlados pelo computador agem como se mais ninguém estivesse em pista, chocando com a nossa mota quando prosseguimos dentro da trajectória. Colidir com uma barreira ou outro adversário raramente nos faz perder o controlo da mota. Parece ser um processo um pouco aleatório e inconsistente, ofuscando uma condução que na sua essência até é interessante.

Acontece que MES não parece ser muito diferente de outros jogos de motocrosse produzidos pela Milestone. As alterações são pouco substanciais, especialmente na parte da jogabilidade, que desta vez parece mostrar-se um pouco mais acessível, embora sejam visíveis dificuldades na gestão dos embates e colisões, um processo que justifica mais alguma afinação em próximas edições. No resto, é um jogo muito orientado para a licença do Supercross, satisfazendo os fãs, podendo no entanto desconsolar quem esteja à espera de terrenos mais diversos. Com muitas corridas nocturnas, em ambientes semelhantes (dentro de um estádio), vai crescendo a sensação de repetição sempre que entram para uma nova grelha. Esperávamos um pouco mais de MES, que acaba por ser interessante pela novidade do formato das provas embora pouco acrescente ao estilo de condução motocrosse patente noutras franquias, como a MXGP.

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