Cat Quest – Análise

Apoiada pela editora britânica PQube Entertainment esta produção “indie” desenvolvida pela The Gentlebros, sediada em Singapura, foi publicada em Agosto passado para o sistema Steam, seguindo-se o iOS e Android em meados de Setembro. Recentemente o jogo foi lançado para os formatos PC, PS4 e Switch. Tendo a editora facultado um código para análise à versão Nintendo Switch, de pronto mergulhamos neste peculiar mundo dos gatos, onde um felídeo pode emergir como herói.

Embora pareça uma produção simples e sem grandes valores de produção (a verdade é que não é um jogo particularmente exigente no que toca a grafismo), certo é que revela nas suas mecânicas e design algo bem interessante, capaz de despertar a atenção dos mais incautos, julgando ser apenas mais um na corrente de jogos multiplataformas que são lançados nesta fase do ano.

É curioso descobrir as influências que estão por detrás deste Cat Quest: The Legend of Zelda, Skyrim e Final Fantasy. Há uma conjugação de elementos oriundos destas diferentes produções, que em tempos mais recentes revelaram até grandes aproximações. É inegável a abertura à perspectiva isométrica, assim como a exploração de um imenso mundo em forma de mapa aberto, no qual se inscrevem uma série de masmorras por onde têm lugar combates mais exigentes.

1 Existem imensos monstros para defrontar mas o esquema de combate é simples.

De resto, Felingard pode ser explorado a nosso bel-prazer, sem grandes limites ou constrangimentos. Assumindo o papel de um bravo gato guerreiro, ele faz parte de uma classe especialmente capaz de enfrentar poderosos dragões que viraram do avesso um outrora pacato território. A história não é muito dada a detalhes, nem serve um especial argumento, contudo revela-se minimamente funcional e nisso torna-se compatível com o que esperamos de uma aventura deste calibre: muita exploração, batalhas e sobretudo a recolha de loot, um desejo de muitos fãs a que os produtores dão justo atendimento.

A primeira nota a reter é a dimensão do mapa mundo, uma extensa área exterior, tipo “overworld” (suponham o clássico Zelda para a Super Nintendo, só para terem uma ideia), servido por uma perspectiva isométrica. Neste mapa deambulam não só outros gatos com quem podem dialogar como múltiplos inimigos, mas também acesso a toda uma série de pontos comuns em qualquer jogo de role play. Desde vilas, lojas para equipamento, pensões e masmorras, tudo está à disposição e pode ser acedido de forma muito simples, através de transições rápidas e que nos mostram um bom design, apesar da simplicidade do traço artístico e manutenção da perspectiva daquele mesmo espaço. É um daqueles jogos que ao princípio poderá causar alguma estranheza. Depressa percebemos que menos é mais e isso aplaude-se, ainda que esquema e design repetidos ao fim de algum tempo possam causar alguma saturação e nisso reside uma das suas dificuldades em manter a acendalha acesa.

No entanto, dependendo da nossa motivação, pode tornar-se numa aventura longa, na qual atendemos à particular evolução do nosso protagonista, o bravo gato amarelo. Os combates decorrem em tempo real e isso dá lugar a um tipo de acção mais interessante, sobretudo pelo imediatismo. Não existem grandes combinações de botões e o esquema é até bastante simples (oriundo do steam e android não seria possível pensar noutra coisa). Para lá dos golpes “melee” têm acesso a uma série de magias, algo fundamental quando penetram nas masmorras armadas até aos dentes e onde se escondem seres abissais, capazes de mordeduras letais.

2 Os menus são claros e concisos, que é sempre bom num jogo de role play.

Em conformidade, revela-se imperativa a recolha do maior número possível de objectos e equipamento, restaurando a saúde mas fortalecendo o nosso herói. Há toda uma gama de objectos, desde espadas e armaduras, muitos deles indispensáveis em certas fases da campanha. Para tal, as demandas servem para cumprir esses desígnios, não faltando matéria prima: 60 quests e 50 masmorras, num mundo que depressa mostra a sua vastidão e onde há tanto para explorar, descobrir e recolher.

Contudo e esta é outra das fragilidades do jogo, para além da sua estrutura algo simplificada e um pouco repetitiva, a limitação da campanha a uma dezena de horas, podendo cifrar-se um pouco mais se forem do género explorador cauteloso, com vocação para percorrer cada palmo de terreno como se estivessem num campo minado. Apesar da simplicidade da obra, há detalhes e aspectos bem conseguidos, nomeadamente o desenho das personagens e a boa organização dos menus, tornando tudo muito claro.

É difícil a Cat Quest igualar a dimensão e impacto dos jogos que estão na sua base, mas é inegável que apesar da simplicidade e escassez de novidades sonantes não deixa de alcançar um resultado positivo se olharmos para esta obra como uma produção fora dos grandes estúdios e por isso mais hermética. Sendo menos expansiva torna-se acessível mesmo para quem nunca tenha experimentado os jogos de role play mais clássicos, abrindo assim a porta a novos mundos e produções mais compostas.

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